FINAL DE 2023: JÁ VAI TARDE

CUNHA E SILVA FILHO

Se já houve ano tão estrambótico e assustador pode o leitor estar certo de que foi este ano que já está nos seus estertores. Já vai tarde. Que nunca volte mais como foi no decorrer do ano. Que suma de nossas vistas como algo repelente tanto no país quanto no exterior.

Ano que tem de tudo: do feio ao bonito mais feio do que  bonito, sem dúvida. O leitor que me acompanha já há tempos bem sabe que, ”beweeen the lines,” o horror ocorre e a alegria  pode   também  ser a ele  simultânea,  assim   como um certa alegria específica, indefinida, inexplicável,  já que o mundo, a vida não são feitos só  de  maldades. Enquanto  uns choram,  outors  estão  sorrindo,   álacres, risonhos   em suas  individualdades  ou  coletivamente. 

No cenário político: muita coisa feita ou desfeita e novamente refeita nos seus tamanhos e dimensões de gastança: temos 37 ministérios no atual governo, gastos astronômicos com viagens pantagruélicas do atual mandatário e sua entourage, esta sempre custosa e a peso de ouro...  O “toma lá dá cá "no centro nevrálgico do “Dawn Palace” seria  um  bom exemplo do que  se torna recorrrente  na  poítica nacional. Gastos perdulários, mobiliário presidencial novo e caríssimo, digno de uma Maria Antonieta no auge das futilidades palacianas e irresponsabilidade social.

Na economia: arcabouços (que palavra horrível, lembra calabouço, masmorra) fiscais, formação de 37 gabinetes ministeriais! Que paquiderme! Cabides de empregos e apaniguados do mandatário de agora,  aprovação da reforma tributária, renovação das emendas parlamentares generosas, como sempre (claro e fácil de liberar com a dinheirama dos impostos maciçamente recolhidos ao Erário Público a fim de que o Presidente possa navegar a salvo das intempéries da oposição, a qual, por seu turno, também fez mau governo, mas foi menos gastadeira.

No plano internacional, as cenas tétricas holocaustianas de duas principais guerras: a da Rússia contra a Ucrânia e o Hamas contra Israel.  e contra os palestinos . Quem acompanha o cenário político internacional pouco consegue vislumbrar algo de melorar  a paz  no mundo, não obstante tenamos a atuação  quase  nula  dos organismos de segurança e da paz : à frente, a ONU e, no front, a OTAN e outras tentativas de mediações diplomáticas, ou não. Até o Papa Francisco tentou fazer algo. Todavia, ele só conta com o poder divino e com as orações da janela no Vaticano.

Por outro lado, outros conflitos bélicos continuam, a todo vapor, em partes diferentes do Terra e sem solução, quer na Síria, no Iêmen, etc. etc. etc. Até o Sr Lula, um pretenso líder mundial, se ofereceu para ajudar nesses imbróglios ideológicos, religiosos, geopolíticos. Com as conflagrações dos últimos anos, o ato de matar pessoas inocentes, civis, pessoas de todas as idades, destruir hospitais, prédios residenciais tornou-se, para os autocratas de todas as partes do mundo globalizado, uma coisa natural, uma banalidade e que não mais comove o coração pétreo da Humanidade.

Que tempos vivemos! Nem o Inferno do Holocausto, nem  a s tragédia   genocidas de Hiroxima e Nagazaki, nem a guerra do Vietnam serviram de advertência à posteridade. Nem tampouco as palavras dos homens de bem (como o matemático e filósofo pacifista Bertand Russell (1872-1970)) do mundo inteiro foram acolhidas pela ignomínia dos belicistas. Passamos há tempos da utopia às distopias não somente nas artes literárias como também no comportamento e sensibilidade dos povos ditos – que falácia!- civilizados. Civilizados? Está brincando comigo?

Em pleno século 21, com a presença atuante da robotização operatória de serviços bancários tornados uma prática comum e propulsora do desemprego dos antigos caixas bancários, já quase desaparecendo (para a infelicidade e aflições dos velhinhos e velhinhas que não têm mais condições de operar uma caixa bancária sem a ajuda de um funcionário “com uma delicadeza fora do comum” ao apoiar a terceira idade). O sistema bancário é formado de multimilionários banqueiros, verdadeiros tycoons. Seus funcionários, com os avanços trepidantes da robotização, como se previa há muito tempo, perdem seu ganha-pão. Não quero falar mal da robotização, da IA, pois elas vêm para ficar e têm inúmeras funções de relevância à saúde das pessoas no campo da medicina de  ponta.

Ainda na esfera econômica, os jornais, através de seus economistas convidados ou contratados pelos canais de TV ou pelos jornais, rádios etc. seguem a elucidar, através do economês, ou seja,  de uma linguagem cifrada para o povão analfabeto de pai e mãe ou analfabeto funcional, as fontes midiáticas governamentais que permitem a divulgação, sendo esta quase sempre em favor do governo de plantão.

Raramente fazem críticas contundentes mostrando a realidade, na prática, do que está acontecendo com a vida do brasileiro despossuído, da massa ignara sem vez nem voz, ou da classe média endividada até ao pescoço, pois, narcisicamente, quer imitar sem poder, a "high society" brasileira,   porquanto tem renda limitada e vive na corda bamba dos cartões de créditos. A classe média (ou “mérdea,” segundo costumava dela fazer ironia o ficcionista João Antônio (1937-1996), serve de balizadora entre a pobreza crônica e a elite econômica,  hedonista, individualista e senhora das mansões suntuosas, do frisson,  assim como os arrivistas, os noveaux riches vindo até das camada sociais baixas da sociedade .

Ora, a mídia manipulada, sofrendo de brainwash para não perder seus cargos ou empregos, omite, destarte, o que a dona de casa consciente declararia a esses repórteres que, por sua vez, filtram e escolhem só aquelas pessoas ignorantes ( sem ironia nem preconceito disfêmico-semântico para o termo) para responder às perguntas a elas dirigidas e bem enquadradas na sua cartilha de perguntas bem ao gosto do status quo reinante. Enquanto os brioches da rainha  Maria Antonieta (1775-1753),  já perto  da Revolução Francesa(1789), da Prise de la Bastille, i.e.,   as migalhas     são distribuídos à patuleia, o rei nu se encastela no paraíso das praias aristocráticas protegido pelas Forças Armadas. Querem mais do que isso, sorridente leitor? Malgrado tudo isso, FELIZ ANO NOVO de 2024, meus "happy few" estimados leitores.