Lucilene Gomes Lima

 FICÇÒES DO CICLO DA BORRACHA NO AMAZONAS

Estudo comparativo dos romances A selva, Beiradão e O amante das amazonas

DISSERTAÇAO DE MESTRADO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA

CENTRO DE LETRAS E ARTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

 

           FICÇÒES DO CICLO ECONÔMICO DA BORRACHA

             Estudo comparativo dos romances A selva, Beiradão e O amante das amazonas

                                         Lucilene Gomes Lima

                                        Orientador Dr. Silvio Holanda

 

                                                                  Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Centro de Letras – Universidade Federal do Pará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Estudos literários.

                                           Belém - 2006

 

Esta Dissertação foi apresentada como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos Literários, outorgado pela Universidade Federal do Pará.

                Lucilene Gomes Lima

TESE APROVADA EM ......./......./..........

 EXAMINADORES:                                           

                                                                                                         Prof. Dr. Silvio Augusto de Oliveira Holanda                         Orientador   

        Profa. Dra. Maria de Nazaré Sarges

                                                                                                                                   Prof. Dr. Luís Heleno Montoril del Castilo

 

  Ao meu companheiro Isaac,

 pela compreensão, paciência e auxílio nas tarefas do dia-a-dia para que me fosse possível a dedicação a esse estudo

                                                                  DEDICO

 A G R A D E C I M E N T O S

             Ao Professor Dr. Sílvio Holanda, pelas orientações valiosas que me propiciou no desenvolvimento deste estudo.

à Sra. Maria da Glória Sarmento da Costa, encarregada do Setor de Obras Raras, da Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, pela atenção que me dispensou e auxílio que prestou na localização das obras solicitadas.

SUMÁRIO

 

INTRODUÇÃO.

1.A TEMÁTICA HISTÓRICADO CICLO DABORRACHA.

2. A ABORDADGEM DO CICLO DA BORRACHA NA FICÇÃO AMAZONENSE .

3. A DIVERSIFICAÇÃO DA ABORDAGEM FICCIONAL DO CICLO DA

BORRACHA NAS OBRAS: A selva, Beiradão e O amazonas das amazonas

CONCLUSÃO.                         

BIBLIOGRAFIA.

I N T R O D U Ç Ã O

 

            Escritores brasileiros abordaram amplamente os ciclos econômicos através de sua prosa. A partir do movimento romântico, alguns romances de caráter regionalista ou sertanista já abordam as temáticas em torno dos ciclos econômicos, entre eles, podemos citar O garimpeiro, de Bernardo Guimarães, em que o ciclo da mineração é subsidiário da temática amorosa.

            Não obstante, a abordagem literária em torno dos ciclos econômicos ganhou maior expressão com os denominados romances de 30, em que não apenas ciclos econômicos, como o do cacau e da cana-de-açúcar são abordados num maior número de obras, como também fenômenos de calamidade geográfica, a exemplo da seca na região do Nordeste brasileiro.

            O ciclo econômico do cacau propiciou destaque, principalmente, para  a literatura de Jorge Amado, sendo Terras do sem fim (1942) um dos seus romances mais representativos sobre essa temática. Em torno do ciclo da cana-de-açúcar, destacam-se as obras de José Lins do Rego: Menino do engenho (1932), Doidinho (1933), Moleque Ricardo (1935), Usina (1936) e Fogo morto (1943). O ciclo das secas motivou igualmente a produção de várias obras: O quinze (1930), de Raquel de Queiroz, A bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, e Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos.

            Especialmente nos romances do ciclo das secas, desenvolveu-se um discurso literário peculiar e, às vezes, linear, em torno de alguns aspectos como a atuação da seca no ambiente e suas conseqüências para os agrupamentos humanos. Desse modo, em torno desse tema, tornaram-se comuns imagens da vegetação esturricada e do solo fendido pelo sol inclemente, do céu límpido e sem nuvens e das aves de arribação. Outra imagem comum é a peregrinação do retirante que abandona a sua terra em busca de condições de sobrevivência. Esse momento do êxodo do flagelado da seca estabelece uma relação com outro ciclo econômico, amplamente explorado ficcionalmente, o “ciclo da borracha”.

            No Amazonas, desenvolveu-se uma literatura que abordou o ciclo econômico da borracha. Uma das primeiras obras sobre este tema, O paroara (1899), de Rodolfo Teófilo, faz a mediação entre o ciclo da seca e o da borracha, uma vez que trata do deslocamento dos nordestinos até a Amazônia para trabalharem nos seringais.

            Considerando-se como marco inicial O paroara, a ficção sobre o “ciclo da borracha” completou um século de produção. Podemos afirmar que a abordagem teve uma continuidade ao longo desse século, pois cada década apresenta pelo menos uma obra. Nesse contínuo, evidenciamos uma constância de abordagem em termos de um tratamento maniqueísta, em que o explorador (o seringalista) aparece como um ser vilanesco sem que sejam enfocadas as determinações históricas mais profundas do processo econômico. A recorrência à História aparece apenas como suporte documental para várias obras que procedem a enumeração e descrição de alguns tópicos (vida no barracão e nos centros de extração, carência sexual dos seringueiros, truculência do patrão seringalista, entre outros).

            A fim de compreendermos o conjunto de abordagem em torno do tema, procedemos a uma divisão de fases nas quais, pudemos constatar características mais específicas, entre elas o epigonismo, a partir da reprodução dos estilos de Euclides da Cunha e de Alberto Rangel. Localizamos as obras que apresentam essa característica na primeira fase, que compreende as primeiras publicações a partir de O paroara até A selva, de Ferreira de Castro. Após a publicação de A selva, a tendência epigônica não mais se verifica e as obras passam a apresentar estilos diversos.

Verificamos na maioria das obras da primeira e da segunda fase, a manutenção da constância em torno do tratamento maniqueísta. Na terceira fase, apontamos a obra O amante das amazonas (1992), de Rogel Samuel, que promove uma diversificação mais profunda em relação à constância de abordagem referida. Na primeira e segunda fases, fizemos um recorte de outras duas obras, A selva (1930), mencionada acima, e Beiradão (1958), de Álvaro Maia, por considerarmos que essas obras também promovem uma diversificação na abordagem ficcional. As três obras que englobam o recorte de diversificação na abordagem do ciclo foram selecionadas também tendo em vista o fato de que apresentam uma ligação de seus autores com o mundo do seringal. Paralelamente também consideramos que essa experiência é perpassada por três visões distintas dos autores; a do escritor imigrante, Ferreira de Castro; a do escritor político, Álvaro Maia; e do escritor analista literário, Rogel Samuel.

            Nosso estudo encontra-se dividido em quatro momentos ou partes. Procedemos inicialmente a um apanhado dos fatores históricos caracterizadores do ciclo. Esse procedimento teve como objetivo apresentar as determinações econômicas do ciclo como forma de situar as obras nesse contexto. Na segunda parte do estudo, apresentamos um apanhado do universo de obras do “ciclo da borracha” na literatura amazonense a fim de identificarmos a constância da abordagem. Na terceira parte do estudo, apresentamos as obras que constituem o recorte em torno da problemática da diversificação e desenvolvemos uma análise particular de cada uma delas. Encerramos o estudo, procedendo a interligação entre as três obras e os seus respectivos autores, fazendo uma análise comparativa em que procuramos apontar tanto os pontos de contato quanto os de afastamento entre os autores e as obras.

            O referencial teórico que dá suporte ao nosso estudo concentra-se principalmente no argumento que Mário Ypiranga Monteiro desenvolve em Fatos da literatura amazonense, a saber: a literatura amazonense em torno do “ciclo da borracha” não apresenta diversificação em relação ao tratamento do tema. Nessa carência, o autor aponta como exceção o romance A selva, de Ferreira de Castro. A selva é igualmente apontada por Márcio Souza em A expressão amazonense como o único romance que conseguiu desfazer o círculo de ostentação das letras amazonenses, baseado numa retórica vazia e acrítica. Segundo o autor, a obra desvela realisticamente o processo do “ciclo da borracha”.

            Empreendendo a análise de A selva apontamos detalhadamente a coerência da organização estrutural do romance em relação à abordagem do tema. Acrescentamos, todavia, as nossas considerações acerca do determinismo acentuado na obra, o qual prejudicou a sua construção crítica sobre o ciclo.

            Na abordagem de Beiradão, consideramos e dialogamos com o estudo empreendido por Neide Gondim em Simá, Beiradão, Galvez, imperador do Acre: ficção e história. Especialmente a assertiva de que Beiradão rompeu com o protótipo do coronel de barranco foi de valia para o nosso estudo que se pauta pela ocorrência de diversificação nas obras do ciclo. Consideramos e nos apoiamos também no estudo de Heloína Monteiro dos Santos: Uma liderança política cabocla – Álvaro Maia - apontando a ideologia subjacente no posicionamento político do autor.   Por fim, a análise que procedemos em relação à obra O amante das amazonas teve como suporte teórico o texto Crítica da escrita,  do próprio autor, mediante o qual podemos compreender as concepções estéticas explicitadas na criação de sua obra ficcional.