[Maria do Rosário Pedreira]

Não tenho grande queda para as coisas japonesas em geral, embora admita que o problema é meu, que não tenho os instrumentos necessários para entrar naquela cultura. Mas adiante: alguém que estimo e tem bom gosto literário recomendava um dia destes um pequeno romance japonês intitulado Doce Tóquio, de Durian Sukegawa, que ao que parece se tornou um fenómeno no país do Sol Nascente e acabou por conquistar o mundo inteiro. O livro tinha sido publicado este ano pela ASA, com tradução de Isabel Veríssimo, mas confesso que não dei por isso, até porque a capa, em tons de rosa e azul, me pareceu de um livro para adolescentes. No entanto, esse amigo chamou ao romance "delicado", e isso poderá também explicar a escolha dessas cores. Li-o de um fôlego, mesmo não sendo uma gulosa (passa-se numa pastelaria de Tóquio), e aprendi uma história que estava longe de conhecer e se prende com o que aconteceu às vítimas da doença de Hanser (conhecida vulgarmente por "lepra") no Japão do pós-guerra que, mesmo depois de curadas, foram obrigadas à segregação e ao isolamento em sanatórios, onde entraram em crianças e acabaram por morrer sem conhecer mais nada do seu país. O romance trata da vida de uma senhora que passou por isto e se especializou a fazer a massa dos dorayaki (um doce de feijão sobre panquecas) e que ajuda (e desajuda) Sentarô, um pasteleiro com dívidas e tendência para beber, e uma adolescente infeliz que não sabe onde deixar o canário. Interessante, sem dúvida, mas só podia ser japonês.

 

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