Festas de São João
Por Rogel Samuel Em: 11/06/2008, às 02H09
As festas de São João, em Manaus, se passavam ao redor das fogueiras acesas. Há uma excelente descrição do que eram anos atrás no livro de João Nogueira da Mata, “Amazônia, terra da promissão” (Manaus, 1979).
Todo o bairro da Cachoeirinha se transformava numa grande festa, num grande arraial. As pessoas trabalhavam por três dias para isso. O aluá era preparado em barril. Havia bolo de macaxeira e pão-de-ló. Casas e ruas ficavam ornamentadas com folhas de palmeira, bandeiras de papel coloridas e os chamados “balões chineses”. Havia bebidas que hoje nem conhecemos, como “jingerales”. Fogos de artifício, balões aéreos. Danças, quadrilhas, “casamentos” de brincadeira, com padrinhos e madrinhas. Além disso, havia o Boi-bumbá, com índios e vaqueiros, Pai Francisco, Catirina. As pessoas dançavam em plena rua até bem tarde. À meia-noite entravam as “cuias de cheiro”, pedindo as bênçãos de São João, recipientes com folhas trituradas de cabi, mucuracaá, capitiú, trevo e priprioca.
Bem longe se ouvia o batuque da casa da Mãe Joana, que era um centro de umbanda famoso da época que ainda existia quando eu era menino. O batuque era ouvido a noite toda.
João Nogueira da Mata, autor de muitos livros, com quem mantive correspondência, há muitos anos, já que fui professor de sua neta, aqui no Rio.
A festa popular de rua creio que desapareceu. Como em Manaus a luz elétrica era muito precária, aquelas noites eram iluminadas pelas fogueiras acesas, pelos balões e as estrelinhas, que eram pequeninos e delicados fogos de artifício. Os jovens se vestiam de caipira e dançavam as quadrilhas, que era uma espécie de minueto do Século 19, ao som de verdadeiras orquestras e sanfonas. Como escreveu Cazuza:
A noite é meu pé de vento
Prática da solidão
A rua é fria e serena
Seus faróis ao relento
Estrelas de mercúrio e prata
Um índio sem tribo vagava
Em pleno coração da mata
Brilha nas poças de água
O fogo que a chuva apagou
A noite é tão linda
A vida é tão bela
São João, acende a fogueira
Do meu coração