Fernando Pessoa: "Sonnet XXIII"
Por Cunha e Silva Filho Em: 09/03/2010, às 14H26
EVEN AS UPON a low and cloud-domed day,
When clouds are one cloud till the horizon,
Our thinking senses deem the sun away
And say “’tis sunless” and “there are no sun”;
And yet the very day they wrong truth by
Is of the unseen sun’s effluent essence.
The very words do give themselves the lie,
The very thought of absence comes from presence:
Even so deem we through Good for what is evil.
He speaks of light that speaks of absent light,
And absent god, becoming present devil,
Is still the absent god by essence’ right,
The withdrawn cause by being withdrawn doth get
(Being there by cause still) the denied effect.
Soneto XXIII
MESMO QUANDO SOBRE um dia baixo e com nuvens em zimbório
Ao tempo em que até o horizonte nuvens únicas se tornam,
Do pensamento nossos sentidos creem que sumira o sol
E dizem “Sem sol” e “o sol se foi”;
Entretanto, o próprio dia a verdade ofendeu,
É essência efluente do sol oculto,
Traídas são até as próprias palavras,
Da ausência o próprio pensamento da presença nasce:
Mesmo assim o Bem pelo mal julgamos,
Quem da luz fala, da ausência dela também fala
O deus ausente, tornando-se o diabo presente,
Por direito de essência o deus ausente ainda é.
Por ser retirada a causa retirada consegue, sim,
(Sendo com isso causa ainda) o efeito negado.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)