Cunha e Silva Filho

Caro leitor, a seguir transcrevo o “sonnet” III, de Fernando Pessoa, com a tradução na sua forma bilíngue, segundo venho, a intervalos, fazendo nesta Coluna:

Sonnet III

When I DO THINK my meanest line shall be
More in Times’s use than my creating whole,
That future eyes more clearly shall feel me
In this inked page than in my diect soul;
When I conjecture put to make me seeing
Good readers of me in some aftertime,
Thankful to some idea of my being
That doth not even with gone true soul rime;
An anger at the essence of the world,
That makes this thus, or thinkable this-wise,
Takes me my soul by the throat and makes it hurled
In nightly horrors of despaired surmise,
And become the mere sense of a rage
That lacks the very words whose waste might’suage.

Soneto III

Quando, DE  FATO , PENSO que o mais simples dos meus versos há de ser
Mais útil no Tempo do que o meu próprio ser,
Que aos olhos do futuro hão de entender melhor
A minha página escrita do que minha própria alma,
Quando imagino poder ser visto por
Bons leitores da posteridade,
Graças a alguma idéia saída do meu ser,
Que nem mesmo rime com a minh’alma autêntica e esquecida;
Uma raiva, como essência do mundo,
De mim se apodera, ou dessa forma refletir me faz,
Pela garganta me toma a alma e a atira
Aos horrores noturnos e aos cismares desesperados,
Tornando-se puro sentido de uma raiva
Carente das palavras certas, cujo desgaste aliviar pudessem.