Fernando Pessoa: "Soneto XXVI"
Por Cunha e Silva Filho Em: 09/04/2010, às 11H02
Sonnet XXVI
THE WORLD is woven all of dream and error
And but one sureness in our truth may lie –
That when we hold to aught our thinking’s mirror
We know it not by knowledge it thereby.
For but one side of things the mirror knows,
And knows it colded from its solidness.
A double lie its truth is; what it shows
By true show’s false and nowhere by true place.
Thought clouds our life’s day-sense with strangenesss, yet
Never from strangeness more than that it’s strange
Doth buy our perplexed thinking, for we get
But the words’ sense from words – knowledge, truth, change.
We know the world is false, ot what is true.
Yet we think on, knowin g, we ne’er shall know.
Soneto XXVI
O MUNDO se tece, inteiro, de sonhos e erros
E apenas de nossa verdade uma certeza negar se pode –
Aquela na qual o espelho de nosso pensamento a qualquer custo seguramos
Conhecemo-lo não por o conhecer por esse meio.
Porquanto das coisas só um lado o espelho vê,
E o sabe fria e inflexivelmente.
Não passa de duas mentiras sua verdade; o que ele revela
Da verdade soa falso, assim como o lugar certo
Com estranhamento o pensamento, porém, os sentidos diários de nossa vida ofusca
Nunca do estranhamento mais do que sua estranheza
Consegue entender nosso pensamento perplexo, visto que alcançamos
Das palavras apenas o sentido – conhecimento, verdade, mudança.
Do mundo conhecemos só o lado falso, não o verdadeiro.
Contudo, pensar é preciso, conhecer a verdade, impossível é.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
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