Falecimento da esposa do escritor Adrino Aragão
Por Flávio Bittencourt Em: 24/02/2012, às 10H43
[Flávio Bittencourt]
Falecimento da esposa do escritor Adrino Aragão
Maria da Glória Izel de Freitas sofria de problemas cardíacos e, infelizmente, faleceu anteontem em Brasília, em casa, aos 85 anos.
Adrino Aragão A Crítica, 30 jul. 2011 |
(http://catadordepapeis.blogspot.com/search/label/Adrino%20Arag%C3%A3o;
foto: Roque de Sá / Agência Tempo)
Falecimento da esposa do escritor Adrino Aragão
Portal Entretextos
Brasília - Morreu serenamente, aos 85 anos, anteontem (22.2.2012), a Srª. Maria da Glória Izel de Freitas, em razão de complicações cardíacas. Radicada com sua família em Brasília, morava na S. Q. N. 111, na Asa Norte, e estava dormindo quando faleceu. Nascida em Manaus, era casada com o escritor, também manauara, Dr. Adrino Aragão de Freitas. Dª. Maria da Glória, que havia estudado na Escola de Enfermagem, trabalhou, enquanto ainda era solteira, na firma Souza Arnaud, onde conheceu o seu futuro marido.
Adrino Aragão - a quem transmitimos, neste momento, sentidas condolências - é advogado, escritor, bancário aposentado, crítico literário [com textos publicados no Caderno B, do então editado em meio impresso Jornal do Brasil, e em revistas literárias, diversas, coletâneas de contos etc.], ex-jornalista [foi redator da Revista do Desed e do BIP (Boletim de Informação ao Pessoal), ambos veículos corporativos, de grande tiragem, do Banco do Brasil S. A., instituição de crédito da qual Adrino Aragão é funcionário aposentado], conferencista e ensaísta. Recentemente o Prof. Dr. Joaquim Branco defendeu - junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - uma tese de pós-doutorado em Teoria Literária sobre a obra de Aragão, depois vinda a lume na forma de livro [http://acritica.uol.com.br/vida/Estudo-cientifico-amazonense-Adrino-Aragao_0_526747495.html]. É comum, em vestibulares de universidades públicas e particulares do Amazonas, surgirem questões a respeito da produção adriniana, que se tornam objeto do interesse de professores e estudantes envolvidos no processo, especialmente quando tais perguntas se referem à teoria e à prática da escritura minicontista, na seara criativa que esse autor pioneiramente ajudou a fundar e desenvolver. No final do ano passado (2011), foi escolhido, por unanimidade, para receber o diploma de membro-correspondente da Academia Amazonense de Letras (A. A. L.).
Na relação de obras literárias de Adrino Aragão, entre novelas, coletâneas de contos e minicontos [*], consta um livro infanto-juvenil denominado A verdadeira festa no céu (publicado em 1991), cujas ilustrações ficaram a cargo de um continuador da obra de Nássara: Zeluca, que foi colega de Aragão no Banco do Brasil (Setor de Multimeios do Desed - Departamento de Formação do Pessoal), autor do livro de quadrinhos-sem-palavras Eus.
O corpo de Maria da Glória Izel de Freitas foi velado ontem no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, e foi cremado em Valparaíso (Goiás, no "Entorno do Distrito Federal"), no início da tarde [13h00].
Quando Adrino e Maria da Glória - em 1954, aproximadamente - se conheceram, em Manaus, o escritor era funcionário de uma empresa particular importadora (Souza Arnaud Ltda.) e, simultaneamente, do Banco Ultramarino [**], antes de ingressar, por concurso, na carreira de escriturário do Banco do Brasil. O matrimônio aconteceu em 1957. O casal tem dois filhos e três netos (possivelmente influenciada pela vigorosa produção textual em periódicos nacionais de seu avô Adrino Aragão, Adriana Izel de Freitas Barreira [22 anos, em fev. / 2012], uma das netas de Adrino e Maria da Glória, diplomou-se em Jornalismo). Com 85 anos de idade, Dª. Glória, como era chamada, sofreu, infelizmente, em seus últimos anos de vida, perda de memória.
Os amigos do casal ficaram entristecidos com a notícia do falecimento da esposa de Adrino Aragão, veneranda senhora da sociedade amazonense que, antes ter sido vitimada pelo Mal de Alzheimer, afetuosa e requintadamente sabia, com seu amado marido, receber parentes, amigos e todos aqueles que muito a estimavam.
Flávio Araujo Lima Bittencourt
(Responsável por este espaço "Recontando estórias do domínio público",
colunista que, penhorado, manifesta o agradecimento ao
Dr. Francisco Vasconcelos, por ter avisado, pela via telefônica,
a respeito do infausto falecimento da Srª. Maria da Glória Izel de Freitas)
Brasília-DF, 24 de fevereiro de 2012
[*] - Nesta coluna do Portal Entretextos, alguns contos de Adrino Aragão foram transcritos e infograficamente ilustrados, como, por ex., os que podem ser lidos em:
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/fantasias-para-ilustrar-contos-de-petti-christian-e-aragao,236,3427.html ("Fantasias para ilustrar contos de Petti, Christian e Aragão");
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/miniconto-a-ra-de-adrino-aragao,236,5013.html ("Miniconto 'A rã', de Adrino Aragão");
MENÇÕES AO ESCRITOR, EM MATÉRIAS NAS QUAIS NÃO CONSTAM
CRIAÇÕES LITERÁRIAS (ficcionais):
http://portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/tese-pos-doutoral-de-joaquim-branco-sobre-a-obra-literaria-de-adrino-aragao,236,7157.html ("Tese pós-doutoral de Joaquim Branco sobre a a obra literária de Adrino Aragão"); e
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/aragao-discute-o-fazer-poetico-de-filgueiras,236,4456.html ("Nacionalizando-o, Aragão discute o fazer poético de Filgueiras").
[**] - Confirmando, por telefone, dados biográficos aqui informados, Adrino Aragão lembra-se de que foi colega, no Banco Ultramarino, do Dr. Lafayette Carneiro Vieira, hoje Desembargador e membro da Academia Amazonense. "- Lafayette Carneiro Vieira era um excelente colega e exímio escritor. Lafayette era conhecido pelas suas crônicas, de alto valor literário, algumas delas publicadas em jornais. É um poeta! Diria que melhor do que eu, muito melhor. Um escritor brilhante, brilhante, brilhante! Não me esqueço das suas produções literárias. E foi grande jogador de futebol, do Nacional, um dos clubes de maior torcida, como o Rio Negro, de Manaus. Quero revê-lo ainda, um dia desses, na minha querida terra cabocla".
Lafayette Carneiro Vieira [ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (entre 23.06.1992 e 27.09.1995)] foi colega de Adrino Aragão no Banco Ultramarino (Manaus), aproximadamente na época em que este último começou a namorar a sua futura esposa, Maria da Glória Izel de Freitas
(http://www.tre-am.gov.br/institucional/galeria_ex-presidente.php)
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A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DA
OBRA LITERÁRIA DE ADRINO ARAGÃO,
ESCREVEU MÁRCIO ALMEIDA:
"ADRINO ARAGÃO - Autor amazonense, mestre da minificção, humílimo, parece não se dar conta da importância que tem na Literatura Brasileira. É objeto da tese de pós-doutoramento de Joaquim Branco, de análise de toda sua obra, que inseri em meu livro A MINIFICÇÃO DO BRASIL - EM DEFESA DOS FRASCOS & COMPRIMIDOS, e é unanimidade crítica, não obstante carecer tambem de maior visibilidade inclusive acadêmica. (...)".
(MÁRCIO ALMEIDA, http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/marcio_almeida2.html,
trecho na web em:
http://www.germinaliteratura.com.br/2010/prestreia_mar10.htm)
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VERBETE 'Adrino Aragão',
WIKIPÉDIA (em inglês)
[A VERSÃO NO IDIOMA DE
CAMÕES PODE SER LIDA EM:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adrino_Arag%C3%A3o]:
"Adrino Aragão
Adrino Aragão (Adrino Aragão de Freitas), born in Manaus, State of Amazon, Brazil, 1936, is a Brazilian short-story writer. In the 70's And 80's, he was a prominent Desed magazine (Brasília) and BIP - Boletim de Informação ao Pessoal, do Banco do Brasil S.A. (Bank of Brazil) reporter. BIP had a circulation of over 100.000 every week.[1] Adrino Aragão wrote several reviews of new Brazilian books. After his retirement, he wrote essays on Comparative Literature and Literary Theory for Jornal do Brasil/Rio de Janeiro and academicals publications.[2]
He is recognized by his focus on the fables and traditional stories. He wrote on the short stories of Jorge Luis Borges. His book O Champanhe (Champagne) focus on the study of the theatre of Anton Chekhov.
He lives in Brasília D.F. and he participated as Member of Committees for granting Literary Prizes in Manaus and in Brasília D.F., Brazil. He is a member of the União Brasileira de Escritores (The Writers's Union of Brazil)[3] and wrote several essays on Clube da Madrugada, an amazonian avant-garde movement formed in 1954 by Jorge Tufic, Farias de Carvalho, Luiz Bacellar, and other Brazilian poets and artists.
He is a regular articulist of O Pioneiro magazine (Brasília D.F.),[4] edited by the poet and journalist Heitor Humberto de Andrade.[5]
Contents |
Books
- Roteiro dos vivos (1972)
- Inquietação de um feto (1976)
- As três faces da esfinge (1985)
- A verdadeira festa no céu (1991)
- Tigre no espelho (1992)
- Os filhos da esfinge (1998)
- No dia em que Manuelzão se encantou (2000)
- História da Infância (1996)
- Conto, não-conto e outras inquietações (2006)
- A cabeça do peregrino cortada em triunfo pelos filhos do Cão (2006)
- O champanhe (2007)
Notes
- ^ http://www.anenet.com.br/curriculovitae.asp?contador=146
- ^ http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga21/UM%20INQUIETO%20MINIMALISTA.html
- ^ http://www.call.org.br/autores/autor_AdrinoAragao.htm
- ^ http://www.clubedospioneiros.org.br/revista.html
- ^ http://pequenosartigos.blogspot.com/2007/03/homenagem-um-poeta-vivo_17.html
Sources
- COUTINHO, Afrânio e SOUZA, J. Galante de. Enciclopédia de Literatura Brasileira, Vol. 1, Ministério da Cultura/Fundação Biblioteca Nacional-DNL (Departamento Nacional do Livro) /Global Editora/Academia Brasileira de Letras, São Paulo, 2001 (Topics "Adrino Aragão" e "Clube da Madrugada").
- TUFIC, Jorge. A nova geração de artistas e escritores do Amazonas. Jornal de Letras (Rio de Janeiro), maio de 1966, p. 8.
External links
- ARAGÃO, Adrino. Amazônia em Brasília (resenha do livro Bordado para iniciantes, do poeta do Clube da Madrugada Donaldo Mello [5] (Ed. Valer, Manaus, 2008). In O Pioneiro magazine, Brasília, abril de 2009, nº 10, pp. 40–41).
- Categories:
(http://en.wikipedia.org/wiki/Adrino_Arag%C3%A3o)
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VERBETE 'Clube da Madrugada',
WIKIPÉDIA (em português):
"Clube da Madrugada
O Clube da Madrugada, criado em 22 de novembro de 1954, é uma associação literária e artística brasileira.
Os ecos da Semana de Arte Moderna de 1922, apesar de terem chegado tardiamente a Manaus, contribuíram no sentido de que fosse escrito, de acordo com A. Coutinho e J. Galante de Souza, "um capítulo importante da história da literatura amazonense" (Coutinho e Souza, Enciclopédia de Literatura Brasileira, p. 496). O poeta Jorge Tufic, um dos fundadores do Clube da Madrugada, influenciado pelo então em voga movimento da Poesia Concreta, criou a Poesia de Muro.
Escreveu Alencar e Silva (nasc. em Fonte Boa (Amazonas), 1930) [1]: "(...) Que nos resta dizer? Em verdade, bem mais, sobre as muitas faces da [poesia de Jorge Tufic], a começar por alguns aspectos formais da sua experiência concretista e sua concepção da Poesia de Muro. Na área do concretismo, por exemplo, depois de levar seus experimentos aos limites extremos da palavra, “pintando”, por assim dizer, uma paisagem bucólica com apenas três vocábulos —
Ode
campo
bode.
Jorge Tufic leva tais experimentos ainda mais longe, mediante a inclusão de elementos extraverbais no texto poemático. (...) [2]".
Às experiências modernistas de vanguarda e à arte pós-modernista praticada por vários de seus integrantes [Adrino Aragão, por exemplo, é um dos cultores, no Brasil, do miniconto [3], soma-se, por exemplo, os Haikais de Luiz Bacellar [4].
Um dos mais ativos participantes do Clube era um eclesiástico, o Pe. Luiz Ruas, autor de uma reunião de poemas, "Aparição do Clown", que mereceu elogiosos comentários do filólogo Raimundo Nonato Pinheiro (Pe. Nonato Pinheiro) [5], membro da Academia Amazonense de Letras.
O contista Adrino Aragão (nasc. em Manaus, em 1936) sobre o Clube da Madrugada, assinalou: "(...) O Clube da Madrugada nunca possuiu sede própria: seus escritores sempre se reuníram embaixo de um mulateiro [grande árvore da Amazônia] na Praça da Polícia [Praça Heliodoro Balbi, Centro, Manaus]. Mas sua existência transcendeu os limites geográficos dessa Praça. E, hoje, é reconhecido não apenas no Brasil, mas em várias parte do mundo (...)" (Rev. O Pioneiro, Brasília).
As reuniões do Clube da Madrugada acontecem ao abrigo da sombra de uma árvore imponente da Praça Heliodoro Balbi, entre os prédios, de linhas neoclássicas, da Polícia e do Colégio Estadual.
Referência
- ARAGÃO, Adrino. Amazônia em Brasília (resenha do livro Bordado para iniciantes, do poeta do Clube da Madrugada Donaldo Mello [6] (Ed. Valer, Manaus, 2008). In Revista O Pioneiro [7], abril de 2009, nº 10, pp. 40-41, onde se lê: "O Clube da Madrugada (...) é um movimento que transformou a cultura do Amazonas, em suas várias vertentes artísticas, retirando-a do marasmo em que anteriormente vegetava. Explico (...) a relação do Clube da Madrugada (...) com esta cidade de Brasília, onde funcionou certa "filial" do Clube [o Clube da Madrugada de Brasília]" (p. 40).
- COUTINHO, Afrânio e SOUZA, J. Galante de. Enciclopédia de Literatura Brasileira, Vol. 1, Ministério da Cultura/Fundação Biblioteca Nacional-DNL (Departamento Nacional do Livro)/Global Editora/Academia Brasileira de Letras, São Paulo, 2001 (Verbete "Clube da Madrugada", p. 496).
- SOUZA, Márcio. A expressão amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo. Ed. Alfa-Ômega, São Paulo, 1977.
- TUFIC, Jorge. Pequena antologia Madrugada. Edições Madrugada, Manaus, 1958.
- TUFIC, Jorge. A nova geração de artistas e escritores do Amazonas. Jornal de Letras, maio de 1966, p. 8.
Ver também
Ligações externas
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Clube_da_Madrugada)
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DEPOIMENTO DE
JOSÉ MARTINS ROCHA SOBRE
A FIRMA IMPORTADORA, DE MANAUS,
ONDE ADRINO E MARIA DA GLÓRIA
TRABALHARAM (Souza Arnaud):
"Sexta-feira, 8 de julho de 2011
IMPORTADORA SOUZA ARNAUD
(http://jmartinsrocha.blogspot.com/2011/07/importadora-souza-arnaud.html)
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JEOCAZ LEE-MEDDI,
EU SEU ÓTIMO blog,
APRESENTOU A SEGUINTE
recontação da estória
A FESTA NO CÉU:
"A Festa no Céu
Uma grande festa no céu foi anunciada aos animais. Para desencanto de muitos, só foram convidadas as aves, por possuírem asas e lá poder chegar. Ao saber da festa, o sapo Cururu não se conformava em não ter sido convidado. Mesmo sabendo da impossibilidade de ir ao céu, espalhou por toda a mata que também tinha sido convidado, fazendo com que os outros animais dele risse e escarnasse.
Cururu passava os dias na lagoa, a rebater o escárnio, mantendo sempre a convicção de que iria à festa no céu. Foi quando um dia, o Urubu foi lavar os pés na lagoa. Cururu sabia que ele era o violeiro que tocava nas festas dos bichos, e, como voava, com certeza iria tocar na festa do céu.
-Hoje é o dia da festa no céu. – Falou o Urubu ao sapo, trazendo a viola nas costas. – Venho lavar os meus pés e seguir para lá. Soube que foste convidado.
-É verdade, mais tarde lá estarei e poderei ouvir-te tocar! Quero dançar a noite toda, até que nasça o sol.
O Urubu não se preocupou com Cururu, lavou os pés, bebeu água, sacudiu as penas, sem que se apercebesse que o astuto sapo entrara em sua viola, lá permanecendo silencioso. Ao terminar a sua higiene, o Urubu pegou a viola e voou para o céu, distanciando-se cada vez mais da terra, até que chegou à tão esperada festa.
Foi em um momento de distração do Urubu, que o sapo Cururu saiu de dentro da viola, surpreendendo a todas as aves com a sua presença. O Urubu tocou durante toda a noite, afirmando a sua fama de violeiro dos bichos. Cururu dançou, cantou e comeu todas as delícias da festa. Era a primeira vez que um bicho que não tinha asas participava de uma festa no céu.
Momentos antes de a festa terminar, já o sol nascia, e Cururu voltou para dentro da viola do Urubu, onde permaneceu quieto, refestelado e pronto para voltar à lagoa. O Urubu despediu-se de todos, e de viola nas costas, pôs-se de volta à terra. Como Cururu tinha comido muito, o seu peso aumentara drasticamente, fazendo com que a viola pesasse mais ao Urubu. Desconfiada, a ave sacudiu a viola e viu que dentro dela estava o sapo.
- Mas que grande trafulha e malandro este sapo. Dar-te-ei uma lição, que não me logrará uma outra vez.
Assim dizendo, o Urubu atirou Cururu no ar. O pobre sapo assustado, viu passar diante dos seus olhos a imensidão do vácuo, caindo de costas sobre as pedras. A pancada foi tão forte que ficou marcada para sempre nas costas de Cururu, fazendo marcas que cicatrizaram em forma de desenhos. Desde então, todos os sapos trazem desenhos nas costas, como testemunho de que um dia Cururu foi à festa no céu."
(http://jeocaz.wordpress.com/2009/03/)
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ANTÔNIO PAULO,
DE A CRÍTICA,
ESCREVEU (JUL. / 2011):
"Estudo científico sobre a obra do amazonense Adrino Aragão
o escritor amazonense Adrino Aragão, 74 anos, ganha de presente um estudo científico sobre sua obra literária, transformado no livro “O conto à meia-luz”
Nas comemorações de 35 anos da concepção do miniconto, o escritor amazonense Adrino Aragão, 74 anos, ganha de presente um estudo científico sobre sua obra literária, transformado no livro “O conto à meia-luz”, do poeta e pesquisador mineiro Joaquim Branco (foto-detalhe), que destrincha o discurso mimético e minimalista adriniano.
Em “O conto à meia-luz”, resultado da tese de pós-doutorado do professor-doutor em Literatura Comparada, Joaquim Branco Ribeiro Filho – apresentada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2010 – o autor faz uma abordagem da narrativa do escritor Adrino Aragão em três estágios de sua produção, identificados nos livros “Inquietações de um feto” (1976), “Tigre no Espelho” (1993) e “conto, não conto e outras inquietações” (2006).
Esses livros retratam a linha de trabalho do contista amazonense e de sua formatação dentro da chamada narrativa breve e os estágios do conto, miniconto e microconto.
Para desvendar esse novelo narrativo do amigo e admirador, Branco vai beber nas fontes universais a partir de Homero e Esopo; Cervantes e Boccaccio e nas sofisticadas penas de Edgar Alan Poe, Kipling, Mark Twain, Machado de Assis, Dickens, Tchecov até chegar ao século 20 de Joyce, Kafka, Hemingway, Borges, Cortazar, Guimarães Rosa e Virgínia Woolf.
Haikai japonês
Por se tratar de um remanescente do experimentalismo dos anos 1960, ainda pouco conhecido nos grandes centros culturais como Rio de Janeiro e São Paulo e também no meio acadêmico, o professor Joaquim Branco diz que a obra do amazonense Adrino Aragão se insere nas categorias das narrativas curtas, concisas e objetivas, a exemplo do haikai clássico do poeta japonês Matsuo Bashô, o que é admitido pelo próprio microntista.
Quando cuida da fragmentação, tempo e montagem, características da estrutura contística, do minimalismo e do discurso mimético, Branco cita Bashô e o compara a Aragão na sequência do conto-poema “Sonhos” (conto, não-conto e outras inquietações): “a lâmina da faca, como um chicote de fogo, decepou-lhe a cabeça, banhada de sonhos”. Ao analisar esse microconto, o professor de literatura comparada chega à conclusão de que o sintagma final “banhada de sonhos” reaproveita e substitui o lugar-comum esperado pelo leitor, que seria “banhada de sangue”.
Segundo ele, a substituição do termo “sangue” por “sonhos” alcança o significado expressivo e amplificado sugerido pelo contista, pois aí está elíptico todo um sentimento de heroicidade, revolução, martírio, santidade, etc. “A consequência se abre para o leitor no verso final para que ele faça a sua leitura-interpretação”, conclui.
Para o autor de “O conto à meia-luz”, Adrino Aragão, embora seja originário de uma região típica – a amazônica – não se enquadra entre os chamados regionalistas, nem na temática nem no aspecto caudaloso que poderia caracterizar um autor originário dessa imensa bacia fluvial. No entanto, deixa entrever em sua ficção algo de ambivalência, dos personagens e da trama de seu texto, como em “Encantamento”, “O pescador”, “O raio”, “Os habitantes da chuva”, “Último barco”, “Visitante ilustre” e “A baleia branca”, em que o amazonense mergulha na história e na vida amazônica, proporcionando-nos momentos mágicos pelas belas descrições da região."
(http://acritica.uol.com.br/vida/Estudo-cientifico-amazonense-Adrino-Aragao_0_526747495.html)