Talvez esteja exagerando, quem sabe não ande vendo e ouvindo mais do que deveria. É que me têm preocupado, sobremaneira, certos procedimentos, não usuais, estranhos, de pessoas conhecidas, de meu círculo de amizade.
     Tenho observado nesses indivíduos, uma gritante – literalmente, falando – carência de companhia e de atenção. E isso vem sendo percebido graças à recorrente urgência e necessidade, por aqueles demonstradas, de que seus amigos ou parentes estejam sempre a postos e à disposição para atender e corresponder a seus amiúdes reclamos. É como se eles previssem ou sentissem que estão no aguardo da iminente e definitiva partida e, portanto, cada novo encontro ou reencontro com seus entes queridos pode ser o derradeiro. Não querem, é o que me parece, que esse desenlace ou involuntário afastamento se faça sem um último afago ou uma declaração de afeto advinda de seu bem amado familiar ou amigo.
     Creio que me falta capacidade suficiente para afirmar se a leitura que faço dessas situações é a correta e, sendo assim, que eles estariam incorrendo em erro ao demonstrarem carência ou necessidade permanente de apego, a ponto de não esperarem pelo que lhes possa advir do futuro. Se podem ter, agora, o que querem, mesmo que em detrimento de interesses contrariados por parte de quem, naquele momento, bem que poderia estar tomando outras providências, por que não fazer valer essa suposta prioridade? Considerando esses contratempos, que, não raro, são reais, também não afirmaria que eles pudessem estar certos, ao exigirem tanta atenção, mesmo sendo os propiciadores ou agentes dessa deferência íntimos.
     Poderia justificar a carência de que estou falando, criticamente, o fato de que muitos dos que com ela estão convivendo, hoje, viveram o melhor de seus dias em um mundo onde amigos e familiares eram pessoas com as quais podiam contar quase sempre. O tempo, cada vez mais corrido e, por conseguinte, mais curto, deveria servir como desculpa para não fazermos tudo o que nos atribuímos como competência realizar. Mesmo porque, qualquer um de nós, se não disse nem falou, certamente imaginou que morreria antes de esgotar sua cota de realizações, por estrita falta de tempo.
     Claro que não estaria sendo original se declarasse que a ninguém foi dado poder de saber de que tempo dispõe por aqui; logo, não passa de falha humana e, como tal, naturalmente aceita, recriminar-se ou se aborrecer por achar que esse, muitas vezes, lhe falta na quantidade que outro o teve como sobra e não soube aproveitar.
     Nós nascemos frágeis e continuamos assim até nosso último dia. O que nos faz fortes é a luta para vivermos da melhor maneira possível. Nesse campo de batalha, é nossa obrigação dar atenção, respeito e sermos solidários, não somente com os companheiros de comando, como os que integram nosso círculo de amizade, mas com todos aqueles que nos procuram quando precisam de um ombro, de um abraço, de um conselho ou de uma crítica.
     Na verdade, nesse espaço que é cenário de todos, as pessoas estão sempre chegando ou se despedindo. Não há demarcação temporal ou cronológica capaz de nos assegurar que nossos entes queridos nos deixarão mais tarde que os dos demais; tampouco existe ato ou ação que possamos provocar ou realizar, que impeça o Criador de tomar sua decisão. Por vezes, chegamos a imaginar que Ele muda de opinião. Quem nunca pensou assim quando fatos estranhos, inusitados ou superiores ao nosso nível de conhecimento acontecem?
     Desse modo, sou obrigado a reconhecer como descabidos pensamentos que me induzem a tomar certos procedimentos, ainda que sazonal ou periodicamente executados por entes de meu convívio, como evidências de um poder que não possuo: o de julgar-me capaz de entender os desígnios do Todo-Poderoso.Ninguém consegue compreender o que se passa no íntimo de uma pessoa baseando-se em feitos comuns a toda gente. Isso até pode ser possível, desde que exijamos dela informações precisas sobre os motivos que a levaram a agir daquela forma. Parece, pois, hipócrita de minha parte tentar ou fazer ilações a partir do que acho estar sentindo ou vivenciando determinado indivíduo.
                  Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e autor piauiense ([email protected])