Estórias não-enfadonhas, com lições de moral, de Carolyn Sherwin Bailey e Miguel Carqueija, respectivamente
Por Flávio Bittencourt Em: 02/09/2012, às 15H03
[Flávio BIttencourt]
Estórias não-enfadonhas, com lições de moral, de Carolyn Sherwin Bailey e Miguel Carqueija, respectivamente
A anãzinha e Esperando Papai.
NOTÍCIA (por Silvana Perez) SOBRE O INFAUSTO FALECIMENTO
DO MULTIPREMIADO ARTISTA ITALIANO RESPONSÁVEL
POR EFEITOS ESPECIAIS EM FABULOSOS FILMES HOLLYWOODIANOS
E OUTROS:
JUVENATRIX – Fanzine de Horror & Ficção Científica
ANO 22 – Número 139 – SETEMBRO 2012
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Faleceu em 10 de agosto [de 2012], aos 86 anos, o artista italiano de efeitos especiais Carlo Rambaldi, três vezes ganhador do Oscar pelos efeitos de "King Kong" (1976), "Alien – O Oitavo Passageiro" (1979) e "E.T. – O Extraterrestre" (1982).
Formado na Academia de Belas Artes de Bolonha, Rambaldi foi responsável pelos efeitos especiais de filmes bem conhecidos
dos fãs do horror, entre eles "Uma Lagartixa num Corpo de Mulher" (1971), de Lucio Fulci; "Prelúdio para Matar" (1975), de
Dario Argento; "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" (1977), de Steven Spielberg e "A Hora do Lobisomem" (1985), baseado no livro de Stephen King.
(Silvana Perez)
[Fonte: www.bocadoinferno.com]
PARA CARLOS RAMBALDI (1925 - 2012),
in memoriam:
MOONLIGH SONATA (execução ao piano de
música de Ludwig van Beethoven),
Youtube:
O italiano Carlo Rambaldi, criador de personagens para o cinema como Alien e E.T., o extraterrestre, morreu nessa sexta-feira (10), aos 86 anos, em Lamezia Terme (Calábria, sul da Itália), onde residia, informaram fontes locais. (...)
(http://porsimas.blogspot.com.br/2012/08/morre-italiano-carlo-rambaldi-criador.html)
"AS ILUSTRAÇÕES, A CARGO DE DOROTHY GRIDER,
DOS LIVROS INFANTIS DE CAROLYN SHERWIN BAILEY,
SÃO FABULOSAS! "
(COLUNA "Recontando...", cujo responsável, no que
se refere ao adjetivo FABULOSAS, apenas traduziu -
concordando com o uso desse merecido elogio -
para o português quem escreveu o seguinte:
"(...) And the illustrations in the original by Dorothy Grider
are fabulous! (...)"
CENTRO DE HOOSICK FALLS, EUA:
Downtown Hoosick Falls
(http://en.wikipedia.org/wiki/Hoosick_Falls,_New_York)
(http://livingmyth.com/store/pattysaurus-and-other-tales/)
"AS IMAGENS DAS CAPAS DOS LIVROS INFANTIS DA VENERANDA SENHORA
CAROLYN SHERWIN BAILEY SÃO BELÍSSIMAS E FORAM ENCONTRADAS EM
PESQUISA FEITA ONTEM, DIA PRIMEIRO DE SETEMBRO DE 2012, SENDO
AQUI EXIBIDAS, AO FINAL, COMO FORMA DE O RESPONSÁVEL POR ESTA COLUNA
'Recontando estórias do domínio público' HOMENAGEAR A MEMÓRIA DE SUA
SAUDOSA GENITORA, FERNANDA ARAUJO LIMA BITTENCOURT (que foi colega
de Miguel Carqueija no Banco do Brasil S. A., mas não na mesma época, uma vez
que quando M. Carqueija foi admitido, por concurso, nessa tradicional Instituição
de Crédito, a referida senhora amazonense já estava aposentada), QUE FALECEU,
INFELIZMENTE, DE CAUSAS NATURAIS, AOS 93 ANOS DE IDADE, NO DIA
PRIMEIRO DE SETEMBRO DE 2011, OU SEJA, HÁ UM ANO"
(Flávio A. L. Bittencourt, colunista deste Entrextos que havia produzido, há um ano,
matérias para cuja leitura basta que o(a) nobre leitor(a) dê um "click" nos seguinte
links da web:
CAPA DE LIVRO DE C. S. BAILEY:
[http://www.loganberrybooks.com/most-bailey.html,
onde também se pode ler:
"ABOUT THE AUTHOR
Perhaps best known for her Newbery Award winning Miss Hickory, Carolyn Bailey is the author of many books and anthologies for children.
LOGANBERRY LEGACY
The Little Rabbit Who Wanted Red Wings may not be a best-seller, but perhaps a cult classic. I remember it myself from earlier days; I think my third-grade class made a rather elaborate puppet show out of the story. And the illustrations in the original by Dorothy Grider are fabulous! (...)"]
"(...) The village of Hoosick Falls is near the center of the town of Hoosick. (...)
(A VILA - ou PEQUENA CIDADE - DE HOOSICK FALLS [onde nasceu C. S. Bailey] É
PERTO DO CENTRO DA CIDADE DE HOOSICK, Estado de Nova Iorque, EUA,
http://en.wikipedia.org/wiki/Hoosick_Falls,_New_York)
CARÍSSIMO LEITOR E CARÍSSIMA LEITORA:
PARA TER CONHECIMENTO - se é que V. Sª não
estudou essa matéria - A RESPEITO DAQUILO
QUE EXISTE (felizmente!) TAMBÉM EM OUTRO PAÍS
CONTRA A PEDOFILIA, LEIA, POR FAVOR, SE TIVER TEMPO
E INTERESSE, A BOA LEI PORTUGUESA (Lei n.º 113/2009)
QUE BUSCA PUNIR QUEM PRATICA A PEDOFILIA E OS
MAUS-TRATOS AOS MENORES DE IDADE:
http://direitosdasfamilias.blogspot.com.br/2009/09/nova-lei-portuguesa-de-protecao-aos.html
"(...) — Se está pensando em se separar de mim [SE A MÃE DA VÍTIMA DA PEDOFILIA DO PAI DOENTE - QUE DESTE É ESPOSA - ESTÁ PENSANDO EM SE LIVRAR DA CONVIVÊNCIA COM O SEU MARIDO LOUCO], perde o seu tempo. Eu te mato se você fizer isso. Eu tenho conhecimento com a polícia, portanto nem pense em dar queixa de mim.
— Você não pode fazer tudo o que quer — falei [A ESPOSA DO PEDÓFILO FALOU], com uma firmeza que me surpreendeu. — Ainda tenho amigos e parentes, ainda existe polícia honesta, juízes...
— Experimenta — falou ele, rindo, mas a minha filha se abraçou a mim e disse:
— Deixa a gente em paz, papai. Por favor.
O telefone tocou. Ele atendeu, era algum colega chamando para a gandaia. Era o tipo de convite que ele já não costumava recusar e agora eu tinha até medo de pegar alguma doença ruim. Ele se trocou e se perfumou rapidamente e falou entre prepotente e zombeteiro:
— Conversamos quando eu voltar. (...)"
(MIGUEL CARQUEIJA,
TRECHO DE SEU NOVO CONTO
INTITULADO ESPERANDO PAPAI,
que até hoje estava inédito)
"Tem gente que escuta mas não ouve. Tem gente que fala e não diz nada. E tem gente que se ama num grau que só se ouve, já que só fala de si mesma. Estudei com uma
menina assim na faculdade. Normalmente essas pessoas são, digamos, meio chatas. E chatas, como todos sabem, são as pessoas a quem a gente pergunta como elas estão
e elas contam. Detalhadamente.
- E aí, gata? Beleza? – cumprimentei.
Uma pessoa não-chata responderia apenas "Beleza. E você?". Mas a tal menina não era não-chata. (...)"
(Trecho inicial de texto "Meu mundo, meu umbigo",
apresentado por Thalita Rebouças, no blog Grupo Mundo Celestrin,
http://1001downloadsnet.blogspot.com.br/2012/08/mundo-celestrin-meu-mundo-meu-umbigo.html)
"UMA PESSOA QUE NÃO É NÃO-CHATA É ENFADONHA: COMO É
DO CONHECIMENTO GERAL, DUAS NEGATIVAS ANULAM-SE,
PRODUZINDO UMA PROPOSIÇÃO AFIRMATIVA"
(COLUNA "Recontando...")
"É POSSÍVEL HAVER UMA ESTÓRIA com moral QUE NÃO SEJA CHATA? SIM, COMO MOSTRAM, RESPECTIVAMENTE, C. S. BAILEY, EM VELHA FÁBULA DO 3º VOLUME ["Histórias de Fadas"] DA COLEÇÃO O MUNDO DA CRIANÇA (pp. 28 - 29) E M. CARQUEIJA. A LIÇÃO DA ESTÓRIA A ANÃZINHA É CONTRA A PRÁTICA DO FURTO DE RESIDÊNCIA ALHEIA E A DE ESPERANDO PAPAI, O NOVO CONTO DE CARQUEIJA, É CONTRA A PEDOFILIA"
(IDEM)
"AS ESTÓRIAS A SEGUIR APRESENTADAS, DE C. S. BAILEY E M. CARQUEIJA, RESPECTIVAMENTE, NÃO SÃO NÃO-NÃO-CHATAS, OU SEJA NÃO SÃO ENFADONHAS, VALE DIZER QUE, MESMO SENDO ESTÓRIAS MORALISTAS, NÃO NOS CHATEIAM, pelas simples razões de que: (1) a maioria das pessoas detesta o ato de furtar e tem horror à monstruosa prática da pedofilia; e (2) Bailey e Carqueija, sendo excelentes escritores, produziram, como era de se esperar, contos magníficos!"
(IDEM)
"Carolyn Sherwin Bailey (October 25, 1875 – December 23, 1961) was an American children's author. She was born in Hoosick Falls, New York and attended Teachers College, Columbia University, from which she graduated in 1896. She contributed to the Ladies' Home Journal and other magazines, and published volumes of stories for children, methods of story telling, methods of teaching children, etc., which include Boys and Girls of Colonial Days (1917); Broad Stripes and Bright Stars (1919); Hero Stories (1919); Flint; The Story of a Trail (1922); Friendly Tales (1923), and "The Little Rabbit Who Wanted Red Wings" (1945). She wrote For the Children's Hour (1906) in collaboration. In 1947, her book Miss Hickory won the Newbery Medal. (...)"
(http://en.wikipedia.org/wiki/Carolyn_Sherwin_Bailey)
Old Man Rabbit's Thanksgiving Dinner (Audio) - By Carolyn Sherwin Bailey 1913 - With Musical Finale,
Youtube:
(http://vivendoesonhando.spaceblog.com.br/1557031/Pedofilia-NAO/)
HOMENAGEANDO A MEMÓRIA DA EMINENTE ESCRITORA ESTADUNIDENSE
CAROLYN SHERWIN BAILEY (1875 - 1961),
O POVO DA PEQUENA CIDADE DE HOOSICK FALLS (CONDADO DE RENSSELAER,
ESTADO DE NOVA IORQUE, EUA), ONDE NASCEU C. S. BAILEY, E
O POVO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, BRASIL, ONDE
NASCEU M. CARQUEIJA, ABRAÇANDO FRATERNALMENTE O ESCRITOR QUE
ESTÁ BATENDO RECORDES DE PRODUTIVIDADE LITERÁRIA (sem se deixar
de levar em consideração a qualidade ficcional-formal de seus escritos) E BANCÁRIO
MIGUEL CARQUEIJA, A QUEM SE DESEJA MUITA SAÚDE, PAZ, DINHEIRO, REALIZAÇÕES,
ALEGRIAS E VIDA LONGA - E PARA
FERNANDA ARAUJO LIMA BITTENCOURT (1918 - 2011),
BANCÁRIA APOSENTADA DO BANCO DO BRASIL S. A. QUE, EM SUA JUVENTUDE,
SOB A DIREÇÃO DE SEU PAI BENJAMIN LIMA, DRAMATURGICAMENTE ATUARA
EM DUAS PEÇAS ENCENADAS DO ÂMBITO DO CURSO PRÁTICO DE TEATRO DO MEC (*),
em saudosa memória
DOROTHY GRIDER - artista plástica, ilustradora de livros infantis === EM EDIÇÃO ===
(*) - O CPT foi o embrião do Conservátorio Nacional de Teatro, depois transformado no
Curso de Graduação em Artes Cênicas da UNI-RIO],
2.9.2012 - Em relatos literários [não-chatos] de C. S. Bailey e Miguel Carqueija, a respeito de pessoa que apanha sem autorização uma ave que não lhe pertence (MUITO CONHECIDA FÁBULA, TAL COMO FOI RECONTADA POR BAILEY) ou pratica a pedofilia (NOVO CONTO DE CARQUEIJA), há MORAL DA ESTÓRIA (mesmo que ela não esteja destacada, no final, tal como acontece nas FÁBULAS DO GREGO ESOPO, por exemplo) - Em Carolyn Shewin Bailey e em Miguel Carqueija, as pessoas que praticam atos errados não terminam bem, mas quando, no final do conto A Anãzinha, de Bailey, ela, a mulher cuja estatura é notoriamente baixa, livra-se da ave cacarejante surrupiada de residência alheia, há IMEDIATAMENTE a interrupção dos sustos que ela vinha merecidamente recebendo. (GRILO FALANTE-EDUCADOR E SUPER-EGO FREUDIANO NÃO DÃO SOSSEGO A QUEM FURTA BEM ALHEIO!) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
"A ANÃZINHA
Carolyn Sherwin Bailey
Era uma vez uma anãzinha, muito pequenininha, que morava sozinha em sua casinha, lá longe, numa cidade também muito pequena.
Um dia, ela acordou de madrugada, pôs seu chapeuzinho, amarrou as fitas debaixo do queixinho e saiu para dar uma voltinha.
Andou, andou, até que chegou a um portãozinho que conduzia a um campo bem pequenino. Abriu o portãozinho e entrou. Lá, debaixo de uma árvore, estava amarrada uma linda e pequetita galinha garnizé.
"Esta galinhazinha bem podia botar um ovinho para o meu almoço", pensou a anãzinha.
Então, com muito jeito, desamarrou a galinha, pegou-a no colo e voltou para a sua casinha.
Com o passeio, a anázinha tinha ficado muito cansada, por isso, guardou a galinha no seu pequeno guarda-louça e subiu para o seu quartinho, a fim de tirar uma soneca.
Já estava dormindo, quando acordou ouvindo uma voz que dizia:
- Eu quero a minha galinha.
Ela ficou um pouquinho assustada mas, como estava com muito sono, puxou seu cobertorzinho até o queixo e continuou a dormir. Daí a pouco, tornou a acordar ouvindo a mesma voz que, desta vez, falava mais alto:
- Quero a minha galinha!
Então, a anãzinha, ainda mais assustada, escondeu a cabecinha embaixo do cobertor e tratou de ver se conseguia dormir de novo. Logo depois, porém, aquela voz repetiu, aos gritos:
- QUERO A MINHA GALINHA!
A anãzinha, agora, encheu-se de coragem, sentou-se na cama e gritou:
- PODE LEVÁ-LA!
Mais tarde, depois que tinha dormido bastante, ela se levantou, pensando que tudo tivesse sido sonho. Quando, porém, abriu o guarda-louça, sabem o que tinha acontecido? A galinha tinha desaparecido!
De Farelight Stories"
(TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO:
VERA BRAGA NUNES)
UM GUARDA-LOUÇAS DE MADEIRA NOBRE:
(http://www.moveiscasaecampo.com.br/home/index.php?option=com_k2&view=itemlist&task=tag&tag=guarda%20lou%C3%A7as&Itemid=92)
"PATTYSAURUS AND OTHER TALES
“Edgecomb has put her heart and soul into this trio of stories, and it shows: there’s a whole lot of good listening on this CD.” – Publisher’s Weekly review
Pattysaurus:
The Old Apple Tree:
Princess Firefly:
Price: $16.50 (includes shipping & handling). This CD contains three story selections.
Pattysaurus is a humorous family fable about sibling rivalry and dinosaur mania. In the end Patty becomes so obsessed with that she turns into a giant sauropod herself.
The lyrical tale of The Old Apple Tree tells about a boy’s friendship with his favorite climbing tree and the origin of the star inside of every apple. Celtic harp accompanies the song of the wind as asks three different children if they can find the hidden treasure of the Old Apple Tree.
Princess Firefly is a lighthearted adaptation of a Japanese folktale. Princess Firefly sends her suitors on a quest for the light of the stars, promising her love to the one whose light matches her own. Diane’s characterizations of Mr Mosquito, Mr Gnat and June Bug are hilarious!
Original story (Pattysaurus) and adaptations by Diane Edgecomb, ‘The Old Apple Tree’ is based on the story ‘The Three Apples’ by Carolyn Sherwin Bailey from her book, Favorite Stories for the Children’s Hour. [ESTE GRIFO (trecho sublinhado) ASSIM NÃO ESTAVA NO ORIGINAL] Margot Chamberlain on Celtic harp and keyboardist Tom Megan provide the musical accompaniment.
For ages 4 to Forever!(...)"
(http://livingmyth.com/store/pattysaurus-and-other-tales/)
ESPERANDO PAPAI
Miguel Carqueija, especial para o Portal Entretextos
Eu afagava Penumbra, o nosso querido e tranquilo labrador de pelos tão lustrosamente negros e sedosos. Sarina, vestida como um moleque, de calça comprida com suspensório, mastigava uma mariola e olhava pela janela por trás das cortinas, sem afastá-las, limitando-se a uma nesga de visão. Então ela olhou para mim, muito séria, e perguntou:
— Você acha que o papai virá hoje, mamãe?
— Esteja tranqüila, querida. Se ele vier, desta vez eu estarei preparada.
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O meu rosto afogueava quando eu recordava as cenas de terror, de escândalo e de violência que marcaram o meu casamento, a princípio paulatinamente, depois num crescendo, quando o álcool e outros vícios destruíram todo o estofo moral que Mário um dia tivera ou fingira ter.
Tínhamos ido morar longe da minha família e, devido ao constrangimento ou verdadeiro tabu que envolve as mulheres vítimas de violência doméstica, eu não conseguia dizer o que se passava nas comunicações que mantínhamos. Era vergonhoso, abjeto. Por vezes eu sonhava aprender caratê, capoeira, qualquer coisa que permitisse defender-me dele. Era impossível, porém: não me restavam dinheiro e nem liberdade. Eu fôra forçada a largar o meu emprego de secretária; ele jamais me permitiria freqüentar uma academia.
O fato é que, na sociedade, ele gozava de bastante prestígio, quanto mais não fosse pelo seu “status” de professor universitário, frequentemente homenageado pelos alunos... mas com o tempo, a bebida e a cocaína o tornaram inconstante e inconfiável e uma diretoria incomodada o constrangeu a requerer precocemente a aposentadoria.
O caldo entornou, porém, em definitivo, quando ele começou a olhar para Sarina. A menina estava com nove anos e, segundo o personagem-narrador de “Lolita”, as ninfetas começam nessa idade. É infame e nojento, que um barbado e coroa olhe dessa maneira para uma criança. Esse era o meu pavor: eu já me afastava dos amigos há anos, pois Mário não queria que eu tivesse amizades. Não saberia a quem pedir ajuda. Mário era forte e brutal e quando se zangava não me faltavam os hematomas.
A mulher oprimida pelo marido vive em estado de constante medo e humilhação. Tem vergonha de pedir ajuda, de admitir a outrem o que lhe acontece no dia-a-dia.
Um tabu incrível!
Eu tive de tomar coragem quando ele começou a afagar a menina, a incomodá-la de um jeito que o carinho de um pai não podia justificar. Um dia eu não me contive e falei:
— Por favor, largue a minha filha.
— Qual é o problema? Ela é a minha filha também.
— Justamente, ela é a sua filha, você deve respeitá-la.
— O que você quer dizer com isso? Não me chateia!
— Mário, você agora vive afagando a menina! E em locais...
Aquilo me valeu mais hematomas, e minha filha ficou cada vez mais apavorada. Eu já não tinha coragem de deixá-la sozinha com o pai. Ameacei fazer um escândalo, falar com todas as pessoas que eu conhecia. Se isso o segurou um pouco, não evitou que fizesse terríveis ameaças:
— Se está pensando em se separar de mim, perde o seu tempo. Eu te mato se você fizer isso. Eu tenho conhecimento com a polícia, portanto nem pense em dar queixa de mim.
— Você não pode fazer tudo o que quer — falei, com uma firmeza que me surpreendeu. — Ainda tenho amigos e parentes, ainda existe polícia honesta, juízes...
— Experimenta — falou ele, rindo, mas a minha filha se abraçou a mim e disse:
— Deixa a gente em paz, papai. Por favor.
O telefone tocou. Ele atendeu, era algum colega chamando para a gandaia. Era o tipo de convite que ele já não costumava recusar e agora eu tinha até medo de pegar alguma doença ruim. Ele se trocou e se perfumou rapidamente e falou entre prepotente e zombeteiro:
— Conversamos quando eu voltar.
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Foi preciso deixar quase tudo para trás. O senso de urgência tomou conta de mim e mesmo de minha filha, amadurecida pelo perigo e pelo sofrimento. Eu sabia que ele tornaria de madrugada e antes disso já rodávamos com um taxista amigo e duas malas. Aproveitei para bloquear o meu cartão magnético, que estava sob a posse dele.
Gilmar, por amigo que fosse, não acreditava totalmente no que eu dizia:
— Mas você tem certeza? O Mário não faria isso com a própria filha!
— Gilmar, ele me espanca! Será que isso não é o bastante?
— Bem... você sabe que os amigos não podem se meter nas brigas de casais... nem quero que ele saiba que você me chamou...
— Gilmar, pelo amor de Deus! Não há briga de casal! O que há é covardia pura!
Eu não podia confiar nos amigos comuns. Se Gilmar ficasse sabendo de meu paradeiro talvez até desse a dica ao Mário, achando que com isso iria contribuir para a “reconciliação” do casal.
Foi por isso que eu e Sarina ficamos na entrada de um hotel e, após despachar o amigo, peguei minha filha e partimos nós duas, sem destino. A primeira coisa foi tomar um ônibus que nos levou para o outro lado da cidade, onde procurei uma amiga a quem não via há anos. A minha idéia era levantar recursos que permitissem a nossa sobrevivência e tocar para a frente. Eu decidira resistir, proteger a minha filha a todo custo.
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Érica ficou surpreendida quando nos viu e acolheu-nos com bondade. Ela morava com a mãe, Cláudia, a quem eu conhecia.
Mas enquanto tomávamos um café com bolo e eu desbobinava a minha triste história, as feições de mãe e filha se tornavam cada vez mais fechadas.
— Vocês devem sair da cidade — disse afinal Cláudia.
— E o quanto antes — acrescentou Érica.
Eu estava me sentindo desesperada e procurei mostrar tudo o que me vinha à mente:
— Será que ninguém pode nos proteger? Não posso pagar passagens de avião e as estradas estão perigosas. Desde que as Hordas envolveram os perímetros das grandes cidades, é temerário viajar.
— Você sabe que as pessoas viajam assim mesmo — ponderou a minha amiga. — É mais perigoso permanecer por aqui.
— Mas vocês não podem me abrigar por um tempo? Vou ter que recomeçar a minha vida, e isso não será fácil!
— Fiquem essa noite aqui.
— Érica, não podemos — disse Cláudia.
— Mamãe, já é muito tarde. Deixa elas ficarem essa noite. Glória, me desculpe, mas o seu marido tem ligações com a polícia e eu não quero riscos para a minha mãe.
— Nós não somos criminosas — interveio Sarina, surpreendentemente. — Mamãe e eu estamos fugindo.
— Sarina... — balbuciei.
— É melhor irem para alguma cidade praieira — continuou Érica. — Ainda se consegue algum trabalho na área de turismo e os legionários não são tão numerosos por lá.
Naquela casa havia um quarto vago nos fundos. Não havia camas, entretanto. Érica forneceu dois colchonetes que a gente estendeu no chão. Já a sós, sob a luzinha de um abajur, Sarina e eu conversamos. Eu tinha os olhos vermelhos de choro e minha filha tentou me consolar:
— Mãezinha, não chore por favor. Nós vamos sair dessa!
— Eu queria poder te proteger... você vai ter que sumir da escola... separar-se dos colegas... por que isso, meu Deus?
— Mamãe, nesse momento é mais importante a nossa segurança. E depois que derrotarmos o papai, voltaremos à nossa vida normal!
Por alguns instantes eu quedei perplexa ante a maturidade, a coragem e a inteligência reveladas pela minha filha. Afinal, se uma criança de menos de dez anos podia assumir tal atitude, por que é que eu, uma mulher adulta e experiente, me deixava cair na depressão e no fatalismo?
Mário se tornara nosso inimigo mortal, conquanto fosse pai e marido. Esse fato, de per si muito simples embora cru e chocante, havia sido plenamente absorvido pela Sarina. A minha querida pirralha possuía uma forte personalidade; mais forte, com certeza, que a minha.
Foi como se Deus houvesse colocado uma luz em meu espírito atormentado. Eu não seria mais uma coitadinha, apavorada e perseguida. Eu lutaria.
Nós duas lutaríamos.
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Haviam-se passado quase dois meses. Por meandros obscuros e amigos e parentes que nem conheciam meu marido, e que não me viam há anos — e, em alguns casos, sequer conheciam a minha filha — eu me vi numa espécie de esconderijo, um velho farol abandonado numa praia esquecida de uma cidadezinha pachorrenta e adormecida. Usava um nome falso e chamava a Sarina de Teresa, nada que fizesse lembrar. Meus cabelos e os dela agora eram curtos e tingidos de preto. Não queríamos facilitar as coisas para o nosso adversário.
Nossa situação, claro, era precária. Algumas pessoas sabiam que uma mulher e uma criança moravam no farol, mas isso era coisa comum em nossos dias; pelo país afora milhões de indivíduos moravam em imóveis abandonados e invadidos. Com um pouco de criatividade era possível viabilizar a existência em tais lugares, com muito mais chance de sucesso que nas narrativas de náufragos de Júlio Verne e outros autores. Eu pegava os serviços que podia (até faxinas) e que estivessem ao meu alcance, desde que pudesse levar a menina comigo. Raramente a deixava sozinha, e mesmo assim arranjara dois celulares que via de regra usávamos somente para nos comunicarmos. Por fim, recolhi da rua o Penumbra, que se afeiçoou completamente por nós duas.
Já não estávamos completamente sozinhas.
Acredito que muitas pessoas não conseguem compreender o constrangimento, o tabu que sofre uma pessoa diante de ameaças físicas. Como eu posso dizer a alguém que estou sendo ameaçada? Que o meu próprio marido me ameaça e também ameaça a nossa filha? É vergonhoso, como se eu é que fosse culpada de tal coisa. É essa a vergonha íntima que inibe um cidadão de pedir ajuda perante os perigos. É o medo da descrença, da indiferença (para que contar, se essa pessoa não vai fazer nada para me ajudar?), o temor de piorar as coisas envolvendo terceiros. Não saberia definir ao certo esse tabu; mas ele existe e é poderoso.
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Apesar de tais inibitórios eu falara com o Padre Marcelo, confessor de Sarina, e este afinal facilitara a nossa fuga para o balneário. Eu sabia, além disso, que precisava de defesa jurídica para que Mário não me tomasse a menina. E esse era o meu calcanhar-de-Aquiles: eu sabia que o meu inimigo iria me descobrir assim que uma audiência preliminar fosse marcada. Por um lado, eu não podia deixá-lo transformar-me em ré, em raptora de minha própria filha, e para isso devia contra-atacar pela Justiça. Mas aí seria fácil para ele — nem que precisasse subornar alguém — descobrir a nossa localização.
Eu estava contando com o gênio violento de Mário. Pelo que eu sabia do seu caráter, Mário não conseguiria aguardar os lentos trâmites judiciais. Era um homem violento, com as costas quentes, e queria violência.
Ele viria ao nosso encontro.
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A noite caía e um formigamento na ponta dos dedos parecia me alertar de alguma coisa. A audiência estava marcada para dali a três semanas. Ocorre que na noite anterior Mário finalmente me telefonara. A liminar que eu obtivera, garantindo-me a posse da menina até a audiência, não parecia tê-lo impressionado: mesmo assim ele tentara a melifluidade para me convencer:
— Por que nós não fazemos as pazes, amor? Nós somos uma família, afinal de contas!
— Nós fomos uma família.
— Podemos voltar a ser. Se não fosse esse seu gênio...
— Por Deus! Como pode dizer isso depois de tanta violência contra mim?
— Não diga uma coisa dessas. Nós podemos passar um apagador em tudo, inclusive nas suas cenas histéricas.
— Pare com isso, Mário. Você sabe que a Justiça pode obter as gravações dos telefonemas e é por isso que está se fazendo de bonzinho!
— Você não pode privar uma criança do seu pai!
— Se o pai é um celerado, separar vocês é a minha obrigação!
— Você pode se arrepender disso. Algum dia, depois de alguns anos, quando cair em si...
A segunda parte da sua fala era só para inglês ver. Ele escandira o verbo “arrepender”. Havia naquilo tudo uma velada ameaça, que ele não explicitaria ao telefone.
Eu estava certa de que ele agora conhecia o meu endereço, o meu refúgio. Embora eu contasse com a lei de usucapião, que eventualmente poderia me favorecer, não pretendia passar o resto da minha vida num farol e sabia de resto que Mário poderia me denunciar como invasora de propriedade alheia. Se já não o fizera teria relação com a decadência dos tempos modernos, assolados pelos sem-terra, sem-emprego, sem-previdência, sem-tudo. Um mundo onde a sociedade organizada reduzia-se a bolsões civilizados cercados por hordas de todos os lados. Como a Justiça iria se incomodar com um farol esquecido e abandonado, sem uso há décadas e ocupado por uma mulher e uma criança?
De resto, Mário preferia a violência direta.
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Havia uma grande vantagem no refúgio que eu escolhera: por estranho que pareça, o seu isolamento. Alicerçado em pedras numa nesga do continente que se metia no mar, o farol era um mirante de onde eu podia observar quem chegasse. Uma cerca de tela com portão gradeado emprestava alguma segurança e, como não pudéssemos ficar o tempo todo de atalaia, eu instalara dois pequenos robôs nas duas janelas estratégicas, com a missão de alertarem qualquer aproximação. Com isso eu havia adquirido uma dívida considerável e a minha margem para novos empréstimos reduzira-se a pouco mais do que nada; mas as razões de tal procedimento eram poderosas. Eu sabia com quem estava lidando.
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Aconteceu naquela noite.
Os robôs, Hélio e Belerofonte (nomes escolhidos pela minha filha) acionaram as campainhas internas, avisando-me de presenças suspeitas. Eu estava deitada insone, e Sarina, na outra cama — por maior precaução, dormíamos no mesmo quarto — encontrava-se num sono de anjinho. Mal ouvi o toque das campainhas, levantei-me num átimo e corri, de camisola, à janela mais próxima. Pude então ver três homens que se aproximavam, tendo deixado um automóvel para trás. Na escuridão da noite, onde felizmente havia luar, dava para perceber que os três usavam máscaras. Só que um deles era inequivocamente Mário; eu o reconheceria pelo porte, a um quilômetro de distância. Era, inclusive, mais corpulento que os outros dois.
O covarde não quisera vir sozinho, sem dúvida por ter notícia das minhas companhias. O Penumbra corria talvez mais perigo do que eu e Sarina: eles com certeza o matariam. E mesmo isso já me revoltava as entranhas.
Liguei meu celular e tentei alertar qualquer pessoa amiga; de início o Padre Marcelo. Em várias tentativas, porém, só consegui estática. Provavelmente haveria uma antena bloqueadora de celulares no carro, tipo de equipamento privativo das forças armadas e policiais. Mais uma vez, o dedo de Mário; e os invasores já se esgueiravam pela parede granítica do meu esconderijo; e portavam inquietantes bastões.
Dei uma corrida até o quarto e sacudi a Sarina.
— Mamãe...
— Acorde, querida. Ele está aí fora e tem dois capangas. Chegou a hora em que a gente vai lutar pela vida!
A garotinha pulou da cama, eletrizada e sem nem pensar em trocar o pijama de tigres e ursinhos Pooh por qualquer outra roupa. Corremos para as janelas, já escutando as batidas violentas na porta. Ele não pensava em entrar sorrateiramente e com certeza achava que poderia, pelo terror, convencer-me a abrir. O perigo ainda não era imediato porque a porta era resistente, mas eu tinha certeza de que eles vinham preparados para ultrapassar os obstáculos.
— Não entre em pânico, querida. Vai, esquenta as panelas de água, depressa!
Ela correu e eu, sem tirar os olhos dos intrusos, escutei as batidas de seus pezinhos no chão, de mistura com os latidos do Penumbra. Lá de baixo veio a voz autoritária e grosseira de Mário:
— Glória, abre a porta! Sou eu, o teu marido! Vim conversar com você!
— E por que não veio sozinho? — gritei em resposta.
— Você sabe que é perigoso andar sozinho nessas bandas, a essa hora. Abre!
— Eu sei que é perigoso! É por isso que eu não vou abrir.
— Abre, sua meretriz! Vai ter que abrir!
— E se eu não abrir?
— Nós vamos entrar de qualquer maneira!
Eu precisava ganhar tempo.
— Não posso abrir para esses dois estranhos! Manda eles embora!
— Você abrirá só para mim?
Não é fácil pensar depressa numa situação dessas. Eu não tinha a mínima intenção de abrir, mas também detestava mentir — ainda mais numa negociação. Tudo o que eu queria era dar tempo à minha filha.
— Eu não sei! Eu vou pensar!
Ele gritou vários palavrões coléricos, lá de baixo. Prosseguiu martelando a porta com os punhos, provocando mais latidos de Penumbra.
— Prende esse vira-latas! — gritou Mário, já quase possesso.
— Mamãe! Aqui está!
Sarina trouxe tudo numa mesinha de rodas. Precavida, eu arranjara esse móvel para evitar que a minha menina, com pressa de me atender, se queimasse.
— Não vou abrir, já resolvi! — gritei bem alto.
Mário fez sinal para os seus cúmplices, equipados com pés-de-cabra.
— Façam o serviço — consegui escutar, embora ele já falasse em voz baixa.
Meu principal inimigo se afastou para assistir. Lamentei tal fato, mas tinha que começar a agir. Eu e Sarina colocamos as duas panelas sobre o peitoril, cuidadosamente. Eu olhei, já escutando o ruído da porta sendo atacada. E fiz um sinal positivo. A janela era bem sobre a porta, dez metros acima...
Despejamos a água fervente — e escutamos os urros de dor e as maldições.
— Boa, mamãe! — falou Sarina, entusiasmada.
Espiei para baixo. Dois vultos se escafederam aos uivos de desespero. Infelizmente, nenhum deles era o homem certo.
Lá de baixo, Mário fez uma “banana” para mim. Tive vontade de botar-lhe a língua, mas isso seria puerilidade; e aquela situação era séria demais, era questão de vida ou morte.
Ele se afastou um pouco, olhando bem para cima na expectativa de outra descarga de água em ebulição, e retirou uma arma negra de um coldre. Os dois capangas, pelo que eu entendi, não retornariam: necessitavam cuidados médicos. Queimaduras graves podem causar desidratação, septicemia, caso vocês não saibam. Eles deveriam estar a par disso; de resto queimaduras de água fervente doem à beça.
Sarina e eu escutamos os tiros: Mário tinha acabado de arrebentar com a nossa fechadura tipo papaiz.
Era agora ou nunca!
O farol possuía uma escada em caracol e eu sabia que seria possível observar a subida do intruso pelo poço. Não queria arriscar o meu cão, mas dispunha ainda de dois recursos contra os quais dificilmente Mário poderia prevalecer naquela circunstância. Eram os meus robôs, que eu programara para descerem os degraus correndo. Eles eram maleáveis, bem articulados. Tudo o que eu tive de fazer foi digitar o controle adequado em suas costas e trancar o sistema, que exigia para sua abertura uma senha que somente eu e Sarina conhecíamos. Em outras palavras, o biltre não lograria desligá-los.
E lá se foram Belerofonte e Hélio, correndo em trote de autômatos, escada metálica abaixo. Não havia nenhuma agressividade naquela movimentação; apenas, eles não estavam programados para se deter diante de obstáculos humanos.
Do alto da escada, pelo poço de caracol dela pudemos assistir o resultado. Mário com certeza não tinha medo de robôs; ninguém tinha porque a sua inofensibilidade, garantida pelas Três Leis, era universalmente conhecida. Ao vê-los descendo a escada lado a lado — e não existia largura para três pessoas — gritou que parassem. Mas não era possível interromper a programação e para maior segurança, por idéia de Sarina, eu desligara os circuitos auditivos. É claro que o resultado foi desastroso para o meu querido esposo: atropelado e pisoteado pelos meus servos mecânicos. Agradeci mentalmente aos nossos anjos da guarda, a Karel Capek, Eando Binder e Isaac Asimov. Hélio e Belerofonte simplesmente parariam lá embaixo, cumprida a programação, e aguardariam, impassíveis, por novas ordens.
Com pisões e hematomas, o nosso inimigo se levantou, praguejando e cuspindo sangue. Sua arma havia sido visivelmente entortada; ele testou-a e verificou a impossibilidade para novos tiros. Furibundo, possesso, retirou um punhal de uma bainha em sua cintura.
— Agora chega! Terminaram os seus truques? Você verá agora!
Ele parecia, mais do que nunca, determinado a irrogar a sua vontade pervertida sobre nós.
Para enfrentar a situação eu tomara diversas providências e arranjara diversos equipamentos, como os dois robôs. Por infortúnio não pudera obter uma arma de fogo. Peguei um extintor de incêndio, disposta a manter o agressor a distância.
— Sarina, entre depressa no quarto!
— Mamãe...
— Leve o Penumbra e solte-o assim que achar melhor. Eu não quero que ele seja esfaqueado! Seja oportunista, solte o Penumbra no momento certo!
Ela puxou o cachorro e encostou a porta — que fôra equipada com uma janelinha — bem a tempo. O antagonista havia chegado.
— Entregue a menina, sua meretriz — disse ele com a voz cavernosa, terrível.
— Você terá de passar sobre o meu cadáver, Mário. A minha filha eu não entrego.
Latidos de cachorro. Eu deixara o labrador como último recurso para proteger a minha filha, se eu própria tombasse. No íntimo do meu ser, porém, eu estava disposta a lutar até a última gora de sangue. Sentia dentro de mim uma coragem fria e estóica, quando a proximidade daquele troglodita deveria bastar para me por em completo pânico; mas eu ultrapassara aquele limite e, naquele momento, creio que já não temia coisa alguma. Ou não queria temer.
Ele riu, zombeteiro, diante da minha arma, e investiu com o punhal. Eu acionei a descarga do extintor de CO2. O ruído e a espuma, porém, não seriam suficientes para detê-lo e eu sabia disso; apenas queria distraí-lo.
Ele arremeteu sem enxergar direito, a lâmina resvalou no objeto metálico e eu, apesar do peso incômodo, mandei o extintor contra o seu corpo. Ele vacilou e eu golpeei a sua nuca, num golpe de caratê, a mão espalmada. Foi uma surpresa e tanto: naquelas poucas semanas eu aprendera um pouco de defesa pessoal.
Mário praguejou e tentou me encurralar; eu corri para junto da parede envidraçada, buscando mantê-lo longe de minha filha. Foi quando Sarina abriu de sopetão a porta e o cachorro avançou. Atrás vinha Sarina, com uma vassoura.
Mas não seria fácil tarefa derrotá-lo. Penumbra pulou em suas calças e mordeu para valer, mas ele deu uma estocada que resvalou na omoplata do meu mastim. Mário chutou o cão e a menina, num assomo de valentia, atingiu-o no estômago com o cabo da vassoura. Sarina pôs-se ao meu lado, com o rosto transbordando da determinação de lutar comigo até a morte. O monstro avançou — e, Cristo, pareceu-me vê-lo babar como um animal hidrófobo. Ele segurou novo golpe de Sarina com a vassoura e afastou-a do caminho; eu pulei sobre ele e acertei-lhe outra cutelada, agora em seu rosto, mas a faca veio em meu braço, rompendo o tecido de “nylon” e eu senti uma dor lancinante, pois até o osso fôra atingido. Evidentemente, meu caratê ainda era muito amador. Recuei com o sangue derramando de meu braço; e julguei-me perdida quando ele tornou a avançar. Nesse ponto porém um vulto negro como que varou o ar e impactou contra o atacante, desequilibrando-o sobre o vidro.
O ímpeto de Penumbra, num assomo da fera atávica, foi tão terrível que Mário atravessou a vidraça e mergulhou no vazio, acompanhado por um grito horroroso. O meu cachorro, pela graça celeste, não o acompanhou na queda fatal e nem se machucou nos estilhaços do vidro. Trêmula, enlacei Sarina em meus braços e fomos até a janela espiar lá para baixo, para o corpo de Mário: um cadáver, uma vítima de sua própria maldade.
— Nós vencemos, mamãe — disse a minha filha, enquanto o Penumbra nos festejava, abanando o rabo alegremente.
E Sarina não tremia.
UM CONTO FANTÁSTICO DE MIGUEL CARQUEIJA
QUE FOI INTERSEMIOTICAMENTE "TRADUZIDO"
PARA A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
(curta-metragem cujo roteiro foi elaborado sob a
inspiração do miguelino conto cujo título é
O TESOURO DE DONA MIRTES),
Youtube:
("Uma velha e solitária senhora anda constantemente portando um porta-moedas, muitas vezes apertado entre as mãos. Dois rapazes resolvem abordá-la para furtar o objeto e fazem uma tocaia.")
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"Nova lei Portuguesa de proteção aos menores
Lei n.º 113/2009
Estabelece medidas de protecção de menores, em cumprimento do artigo 5.º da Convenção do Conselho da Europa contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Crianças, e procede à segunda alteração à Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto.
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:
Artigo 1.º
Objecto
A presente lei estabelece medidas de protecção de menores em cumprimento do artigo 5.º da Convenção do Conselho da Europa contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Crianças.
Artigo 2.º
Aferição de idoneidade no acesso a funções que envolvam contacto regular com menores
1 - No recrutamento para profissões, empregos, funções ou actividades, públicas ou privadas, ainda que não remuneradas, cujo exercício envolva contacto regular com menores, a entidade recrutadora está obrigada a pedir ao candidato a apresentação de certificado de registo criminal e a ponderar a informação constante do certificado na aferição da idoneidade do candidato para o exercício das funções.
2 - No requerimento do certificado, o requerente especifica obrigatoriamente o fim a que aquele se destina, indicando a profissão, emprego, função ou actividade a exercer e indicando ainda que o seu exercício envolve contacto regular com menores.
3 - O certificado requerido por particulares para o fim previsto no n.º 1 tem a menção de que se destina a situação de exercício de funções que envolvam contacto regular com menores e deve conter, para além da informação prevista no artigo 11.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto:
a) As condenações por crime previsto no artigo 152.º, no artigo 152.º-A ou no capítulo v do título i do livro ii do Código Penal;
b) As decisões que apliquem penas acessórias nos termos dos artigos 152.º e 179.º do Código Penal ou medidas de segurança que interditem a actividade;
c) As decisões que sejam consequência, complemento ou execução das indicadas nas alíneas anteriores e não tenham como efeito o cancelamento do registo.
4 - Ao certificado requerido por particulares para o fim previsto no n.º 1 não é aplicável o disposto na alínea e) do n.º 2 do artigo 12.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto.
5 - No certificado requerido por particulares para o fim previsto no n.º 1 constam também as decisões proferidas por tribunais estrangeiros, equivalentes às previstas nas alíneas do n.º 3.
6 - O disposto no n.º 1 não prejudica a obrigatoriedade do cumprimento de proibições ou inibições decorrentes da aplicação de uma pena acessória ou de uma medida de segurança, cuja violação é punida nos termos do artigo 353.º do Código Penal.
7 - O não cumprimento do disposto no n.º 1 por parte da entidade recrutadora constitui contra-ordenação, punida com coima cujos limites mínimo e máximo são os previstos no artigo 17.º do regime que institui o ilícito de mera ordenação social e respectivo processo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82 , de 27 de Outubro, podendo também ser aplicadas as sanções acessórias previstas nas alíneas b), c), e), f) e g) do n.º 1 do artigo 21.º, verificados os pressupostos previstos no artigo 21.º-A do mesmo diploma.
8 - A negligência é punível.
9 - A instrução dos processos de contra-ordenação e a aplicação das coimas e sanções acessórias competem às entidades administrativas competentes para a fiscalização das correspondentes actividades, aplicando-se subsidiariamente o artigo 34.º do regime que institui o ilícito de mera ordenação social e respectivo processo.
10 - O produto das coimas reverte para o serviço que as tiver aplicado e para o Estado, nas percentagens de 40 % e 60 %, respectivamente.
11 - A entidade recrutadora deve assegurar a confidencialidade da informação de que tenha conhecimento através da consulta do certificado do registo criminal.
Artigo 3.º
Aferição de idoneidade na tomada de decisões de confiança de menores
1 - As autoridades judiciárias que, nos termos da lei, devam decidir sobre a adopção, tutela, curatela, acolhimento familiar, apadrinhamento civil, entrega, guarda ou confiança de menores ou regulação do exercício das responsabilidades parentais acedem à informação sobre identificação criminal das pessoas a quem o menor possa ser confiado, como elemento da tomada da decisão, nomeadamente para aferição da sua idoneidade.
2 - As autoridades judiciárias podem ainda aceder à informação sobre identificação criminal das pessoas que coabitem com as referidas no número anterior.
3 - A informação referida nos números anteriores abrange o teor integral do registo criminal, salvo a informação definitivamente cancelada, e pode ser obtida por acesso directo, nos termos do artigo 14.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto.
4 - Tratando-se de procedimento não judicial, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, ou a entidade que for competente, solicita informação ao Ministério Público, que pode proceder de acordo com o n.º 1.
5 - As entidades que acedam a informação constante do registo criminal nos termos do presente artigo asseguram a sua reserva, salvo no que seja indispensável à tramitação e decisão dos respectivos procedimentos.
Artigo 4.º
Identificação criminal
1 - Tratando-se de condenação por crime previsto no capítulo v do título i do livro ii do Código Penal, o cancelamento definitivo previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 15.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto, ocorre decorridos 23 anos sobre a extinção da pena, principal ou de substituição, ou da medida de segurança, e desde que, entretanto, não tenha ocorrido nova condenação por crime.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, mantêm-se os critérios e prazos estabelecidos na alínea a) do n.º 1 do artigo 15.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto, exclusivamente para efeito da interrupção prevista na parte final dessa alínea.
3 - Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 11.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto, o Tribunal de Execução das Penas pode determinar, a pedido do titular, a não transcrição, em certificado de registo criminal requerido para os fins previstos no artigo 1.º da presente lei, de condenações previstas no número anterior, desde que já tenha sido extinta a pena principal e a pena acessória eventualmente aplicada, quando seja fundadamente de esperar que o titular conduzirá a sua vida sem voltar a cometer crimes da mesma espécie, sendo sensivelmente diminuto o perigo para a segurança e bem estar de menores que poderia decorrer do exercício da profissão, emprego, função ou actividade a exercer.
4 - A decisão referida no número anterior é sempre precedida de realização de perícia de carácter psiquiátrico, com intervenção de três especialistas, com vista a aferir a reabilitação do requerente.
Artigo 5.º
Alteração à Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto
O artigo 7.º da Lei n.º 57/98 , de 18 de Agosto, passa a ter a seguinte redacção:
«Artigo 7.º
[...]
Podem ainda aceder à informação sobre identificação criminal:
a) Os magistrados judiciais e do Ministério Público para fins de investigação criminal, de instrução de processos criminais, de execução de penas e de decisão sobre adopção, tutela, curatela, acolhimento familiar, apadrinhamento civil, entrega, guarda ou confiança de menores ou regulação do exercício das responsabilidades parentais;
b) ...
c) ...
d) ...
e) ...
f) ...
g) ...
h) ...
i) ...»
Aprovada em 23 de Julho de 2009.
O Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.
Promulgada em 28 de Agosto de 2009.
Publique-se.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Referendada em 31 de Agosto de 2009.
O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
(http://direitosdasfamilias.blogspot.com.br/2009/09/nova-lei-portuguesa-de-protecao-aos.html)
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FILHOS DE BENJAMIN LIMA E CACILDA MELLO DE ARAUJO LIMA,
NA CASA GRANDE DO LAGO DO AYAPUÁ (Baixo Rio Purus), EM 1928:
DA ESQ. PARA A DIR.: ALICE, CARLOS, MARIA DE LOURDES
E FERNANDA, aos dez anos de idade [HELENA FELICIDADE,
QUE AINDA VIVE E É A QUINTA FILHA DO CASAL
DR. BENJAMIN / D. CACILDA, AINDA NÃO HAVIA NASCIDO]
(http://historiadosamantes.blogspot.com/2009/01/agnello-bittencourt-reminiscncia-do.html)
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"ABOUT THE AUTHOR Perhaps best known for her Newbery Award winning Miss Hickory, Carolyn Bailey is the author of many books and anthologies for children. LOGANBERRY LEGACY BIBLIOGRAPHY Milton Bradley BIBLIOGRAPHY |
(http://www.loganberrybooks.com/most-bailey.html)
autor ou autores da pesquisa: === em edição ===