Naquele artigo, o jornalista discorria sobre Estado de bem-estar social e especulava que, talvez por conta do que se verá a seguir, Keynes o imaginasse um ente muito mais quimérico ou filosófico do que econômico.

                Em linhas gerais, admitia o articulista que tal ente é incompatível com globalização e alta tecnologia. Não cria que, mesmo em nações onde direitos, garantias e deveres trabalhistas, previdenciários, securitários, enfim, aqueles que compõem o custo social, são respeitados, ele pudesse sobreviver por muito tempo.  Conceitualmente, ainda de acordo com o ensaísta, a figura inexiste em lugares cuja informalidade, o desrespeito às leis econômicas e trabalhistas, a robotização do individuo, o uso do homem pelo homem, o abuso e a supressão de direitos do cidadão produtivo são regras.

                Os altíssimos custos despendidos por governos de economias tradicionais e conservadoras para manter o Estado de bem-estar social, se ainda não impedem, logo os impedirão de concorrer com aqueles nos quais ele não existe. Acreditava o autor que, em vista da emergente e incontestável necessidade de todos que pretendem concorrer no mundo globalizado cortarem gastos, o fim desse Estado de bem-estar seria uma iminente realidade, ainda mais que o processo de globalização já o é e, como tal, irretroativa; por conseguinte, só lograria certa independência econômico-social quem a ela se adaptar.

                Dava a entender o autor em comento, que a morte do Estado de bem-estar social pela globalização e em consequência das insaciáveis leis de consumo, incrementaria novo fôlego ao Capitalismo.

                Não especulava o jornalista sobre a seguinte e, possível, situação: e se o capitalismo, tal qual um grande boxeador, sofresse um golpe inesperado e fosse às cordas? Não caísse, mas ficasse grogue?

                É isso, segundo alguns, o que está acontecendo, em decorrência da, provavelmente, maior crise econômica após o surgimento do Estado de bem-estar social, e que teve como epicentro a principal economia mundial.

                Se, de fato, o Estado de bem-estar social não combina com um capitalismo forte e pujante, que exija do estado, enquanto ser político, um mínimo de intervenção econômico-social, pode-se presumir ou esperar melhores dias depois do período difícil que o mundo atravessa e que feriu, profundamente, não somente a principal economia capitalista do planeta, mas, por tabela, as demais nações. Quem sabe, percebendo que ninguém está isento nem vacinado contra quaisquer intempéries econômicas, talvez os governos percebam que é sua obrigação, muito mais do que da iniciativa privada, garantirem aos cidadãos, contribuintes e consumidores, direitos sociais, prerrogativas que lhes assegurem o Estado de bem-estar social, pelos quais pagam ou o financiam e que, portanto, lhes são inalienáveis, tais como: os trabalhistas, educacionais, previdenciários, à saúde, dentre outros.

                Iniciados em Economia, todavia, acreditam que a crise capitalista vigente, na verdade, será um breque, senão um retrocesso ao implemento do Estado de bem-estar social em nações que já haviam iniciado seu processo de construção.

É, parece que Keynes estava com a razão: ele é mesmo uma quimera.

                                                                              Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal

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