Escritos em tempos sombrios de pandemia e solidão
Por Cunha e Silva Filho Em: 11/10/2021, às 18H33
ESCRITOS EM TEMPOS SOMBRIOS DE PANDEMIA E SOLIDÃO (1)
CUNHA E SILVA FILHO
Há mais de um ano, nestes tempos sombrios de pandemia entre nós e de bolsonarismo nocivo, desorganização social e sucessivos retrocessos na vida pública brasileira em quase todos os setores da rex publica, organizei, leitor, em casa, junto a meus livros e papéis, alfarrábios, numa palavra, meus arquivos de antanho que, no conjunto, chamei de Biblioteca “Prof. CUNHA E SILVA”( Amarante, PI.,1905-1990).
Neste contexto histórico-social perverso, agônico e trágico demais, forçado eu, assim como outros brasileiros pelo distanciamento provocado pela pandemia que já ultrapassou, atualmente, a barreira das 600.000 vítimas fatais, no país, manifestei um ato de coragem e determinação que me levou a empreender algo útil e recompensador, pelo menos, para mim: organizar as obras de meu pai e as minhas Foi um trabalho hercúleo de disposição física e mental.
Foram horas dias, meses de empenho árduo e cansativo. Tive que procurar tudo em muitíssimas folhas de papéis guardados há anos, em forma de artigos publicados ou de material literário inédito, cartas de diferentes remetentes (em geral, escritores, fotos em jornais, revistas, livros, tanto referentes a Cunha e Silva quanto a quase tudo que escrevi desde, pelo menos, os meados dos anos sessenta.
Neste caso, valendo para mim e para meu pai, porquanto não disponho de material jornalístico dele relativo aos anos 1950 para trás, ou seja, aproximadamente da segunda metade da década de 1920 e das décadas de 1930 e 1940.
O resultado dessas pesquisas caseiras e contínuas foi, no que diz respeito às cartas trocadas com meu pa( essa correspondência ficou mais na forma passiva do que ativa. Esta última quase nula visto que as minhas cartas a meu pai sumiram ou foram jogadas fora após o seu falecimento. Com outras cartas trocadas com amigos (geralmente, escritores, formam dois alentados volumes. Com relação aos livros de papai, as pesquisas resultaram em dez livros e, finalmente, quanto à minha produção geral, em vinte e nove obras.
A maior parte composta de livros que, se forem editados, constituirá grossos volumes, por enquanto, em cópias extraídas de jornais, revistas, do meu Blog As ideias no tempo, por enquanto parado por razões técnicas e do site Entretrextos, dirigido pelo escritor e professor piauiense Dílson Lages Monteiro, de minha produção em jornais, revistas e livros. Em resumo, a minha correspondência constituiu-se, no todo, mais passiva do que ativa. A correspondência entre mim e papai tornou-se mais passiva, ou melhor, totalmente passiva, porque a minhas família não cuidou do acervo maior de meu pai. Nenhum membro da família poderia ter sido mais indicado do que eu para guardar, a sete chaves, o seu acervo, os livros, os excelentes dicionários de latim, francês, inglês.
Os volumes de literatura brasileira, portuguesa, gramáticas latinas, duas gramáticas inglesas, respectivamente, dos autores Frederico Fitzgerald e Jacob Bensabat, uma obra valiosa para aprender inglês, de M. de Oliveria Malta, outra do grande autor didático para o ensino do inglês, J.L.Campos Jr. Outra ainda do grande autor de livros didáticos de francês e inglês, o filólogo J. de Matos Ibiapina, este um dos co-fundadores da Academia Brasileira de Filologia (ABrafil ), da qual sou membro efetivo,cadeira nº 30; as valiosas gramáticas latinas de Mendes de Aguiar e de Ladislau Peter; um tratado de filosofia em italiano, ensaios em francês, ficção de autores russos, livros de ensaios de literatura brasileira, um de literatura francesa da velha coleção Berlitz, outro de mesma coleção para o ensino de inglês, tratados de filologia e, principalmente, os referidos artigos das décadas de 1920 a 1950, já mencinados e, lametavelmente, peridos pelo descaso da minha família, consoantae já acentuei nesate texto..
Quando adolescente em Teresina, eu era uma espécie de “warder” voluntário do acervo de Cunha e Silva, do já conhecido “quarto-biblioteca” descrito no meu livro Apenas memórias (2016). O que haveria de ser encontrado nos seus arquivos pessoais, não sei onde está. Que pena! Os artigos mais antigos de meu pai foram colocados em duas caixas grandes de papelão que ficavam em cima das duas estantes altas e entupidas de livros da melhor qualidade e, assim, formavam a sua modesta biblioteca. (Continua)