[Maria do Rosário Pedreira]

Quando comecei a trabalhar – e mesmo antes –, os jornais portugueses tinham muitos jornalistas que eram simultaneamente escritores (Assis Pacheco, por exemplo) e outros que, não tendo publicado livros, escreviam de qualquer modo maravilhosamente. Não sei se a informatização e a paginação automática dos jornais teve alguma coisa que ver com a diminuição da qualidade dos textos (agora os jovens jornalistas e estagiários sentam-se ao computador e preenchem com caracteres exactos o quadradinho ou a coluna que lhes é destinado, muito provavelmente sem que um editor mais velho e sábio corrija, corte, substitua e ensine), mas a verdade é que se torna cada vez mais difícil nos tempos que correm encontrar nos nossos diários alguém que tenha verdadeiro talento de escritor. Foi-me, por isso, ainda mais difícil aceitar a notícia de que Manuel Jorge Marmelo, autor de romances e jornalista do Público no Porto, era um dos 48 funcionários que, recentemente, foram objecto de um despedimento colectivo. Quando o caderno «P2» acabou, senti imediatamente saudades das suas crónicas bem escritas e sempre interessantes, mas, pelo menos, ainda podia lê-lo no suplemento de domingo, no qual aconselhava leituras com a sua bela prosa. Neste momento, vejo-me, porém, na iminência de deixar de o ler no jornal que compro todos os dias desde que saiu (acho que só não o fiz quando estava no estrangeiro em férias ou trabalho); e, se ninguém o contratar para outra publicação, será menos um bom profissional com que poderei contar e de quem terei obviamente saudades. E o jornal ficará também mais pobre com a sua saída. Gostava de rebobinar o tempo e pensar que nada disto aconteceu.