[Maria do Rosário Pedreira]

Não se fazem fortunas por acaso (nem por se ser sério e honesto, calculo), e é natural que as gigantescas empresas mais lucrativas do mundo escondam processos de enriquecimento menos bonitos do que gostaríamos. Um jornalista aceitou infiltrar-se num dos cinco armazéns da Amazon no País de Gales e tornou-se funcionário da companhia, montando uma câmara escondida da BBC que acompanhava o seu trabalho a par e passo. Ora, Adam Litter – assim é o nome do jornalista – era obrigado a trabalhar cerca de dez horas e meia e, pasme-se!, a andar cerca de dezassete quilómetros por dia, pois de 33 em 33 segundos deveria recolher um novo pedido e, quando o final do tempo se estava a aproximar, o scanner que trazia na mão começava a apitar tal qual as máquinas que medem a frequência cardíaca e anunciam a morte dos pacientes com um sinal agudo e permanente. Se não cumprisse a média, ficava sob observação e recebia uma advertência de que poderia perder o emprego e ser substituído. Os seus pés, como podem calcular, estavam num estado lastimoso e, quando a Amazon disse cumprir todas as regras laborais, foram suficientes para mostrar que não era bem assim... Enfim, já sabíamos que havia muita coisa a mudar para pior no mundo empresarial moderno, mas temos sempre a esperança de que as empresas que trabalham com produtos culturais se portem melhor do que as outras, não sei porquê.