Escola de paiés do Amazonas
Por Flávio Bittencourt Em: 24/09/2010, às 18H10
Escola de paiés do Amazonas
Xamanismo, paielança e maravilhosa perpetuação de valores espirituais de nossos índios também se aprendem na Escola.
"Presidente Lula, ao lado do ministro da Saúde (e), José Gomes Temporão, e do presidente da Funai (d), Márcio Meira, recebe integrantes da Comissão Nacional de Política Indigenista no Palácio do Planalto (Brasília, DF, 19/4/2007)"
Foto: Ricardo Stuckert (O Globo)
(http://www.imprensa.planalto.gov.br/exec/inf_fotografiagrande.cfm?foto=19042007P00023)
Ganhei essa foto da minha amiga Maria Angela.
São meninos índios, além de Roraima, no interior da Venezuela, lidando com computadores e internet.
Lembrei-me da primeira vez que tive acesso à rede, ainda com tela verde, e cai na Universidade de São Petersburgo. Fiquei tão emocionada que nem consegui ler nada (o texto em inglês), lembro-me que sai correndo para chamar mais gente para ver onde eu tinha chegado.
Mais tarde, numa viagem aos Estados Unidos, tive o primeiro contato com o Mosaic e fiquei imaginando quando eu poderia ter algo parecido à minha disposição. Sonhei em ver os lugares que nunca conheci. Viajar era o meu termo, que até hoje prefiro à navegar.
Olhando para esta foto continuo emocionada, pois imagino quantas possibilidades essas tecnologias
podem trazer para as pessoas, em todos os lugares.
Do laser à educação, dos jogos aos conteúdos mais elaborados, cada um se desenvolvendo de acordo com seu estágio de aprendizado e com seu tempo. Educação sem muros, conexões com pessoas de qualquer parte do mundo, brincadeiras e diversão pela janela do computador.
Do lado de cá, temos a chance de nos tornarmos fornecedores de soluções para os que dependem delas. Será que essas crianças trocariam um e-mail comigo?".
(MÁRCIA MATOS, em seu blog,
http://marciamatos.wordpress.com/tag/internet/)
Reverenciando os sábios paiés amazônicos,
agradecendo a Leandro Prazeres,
de A CRÍTICA, de Manaus, pela reportagem
sobre os xamãs das matas do Norte do Brasil,
a Márcia Matos, que ao lado deles mostra que está, ao
fotógrafo Euzivaldo Queiroz, que com sua câmara flagrou
um paié exercendo o seu mister, vale dizer, paielando e
ao fotógrafo Roberto Stuckert Filho, de O GLOBO
25.9.2010 - Ao que parece, as coisas estão melhorando - Se a cultura Baniwa está sendo revitalizada é porque ela já era vitalmente significativa, no Brasil. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
Leandro Prazeres, de A CRÍTICA, noticiou, com grande competência profissional e certa não-isenção jornalística, justificada PORQUE ELE TAMBÉM É BRASILEIRO E AMA OS REMANESCENTES DE NOSSOS DIGNÍSSIMOS ANCESTRAIS GUERREIROS, AUTÓCTONES (OPINIÃO DESTA COLUNA DO PORTAL ENTRE-TEXTOS)
Jornal A CRÍTICA / Especiais (MAIO / 2010)
"Malikai Dapana: a escola de pajés
O velho que precisa de um cajado para se equilibrar se chama Manoel da Silva, 75, mais conhecido pelo apelido “Mandu”. Ele é professor da primeira escola de pajés do Brasil, localizada na aldeia onde vive, Uapuí-Cachoeira, às margens do rio Ayari, em São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus). A escola foi criada em novembro do ano passado com a missão de evitar a morte do xamanismo entre os baniwa que, desde o início dos anos 90, lutam para revitalizar sua cultura.
A escolha de “Mandu” para ser professor da Malikai Dapana (Maloca dos Conhecimentos dos Pajés) não foi por acaso. Ele é o pajé mais poderoso do povo baniwa, etnia do tronco linguístico aruak que vive entre Brasil, Colômbia e Venezuela. De acordo com o antropólogo norte-americano Robin Wright, que estuda a região desde 1976, “Mandu” é o único “pajé-onça” de todo o povo baniwa. “O pajé-onça é o estágio mais avançado que existe. Para um xamã chegar a esse nível, ele demora, em média, dez anos. Existem outros pajés, mas poderoso como o Seu ‘Mandu’, nenhum”, diz Wright, um dos idealizadores da escola.
Papel
Entre os antropólogos que estudam o povo baniwa, há consenso de que o pajé não é um mero curandeiro, mas uma espécie de médico com amplo conhecimento dos remédios extraídos das plantas, mas, sobretudo, um guia espiritual e mediador entre os espíritos das diversas camadas que compõem o mundo deles e o plano físico em que os índios vivem.
A ideia de criar a escola de pajés surgiu das conversas entre Wright e Alberto de Lima da Silva, 47, filho e aluno de “Mandu”. “A gente sentiu a necessidade de resgatar esses conhecimentos. O meu pai já está velho e os jovens precisam aprender essas coisas, senão a pajelança vai desaparecer”, diz Alberto.
O risco de “extinção” do xamanismo baniwa tem explicação. Durante quase 300 anos, missionários católicos e evangélicos proibiram os índios de praticar seus rituais. Os pajés praticamente desapareceram. Desde o início dos anos 90, porém, diversas etnias iniciaram um processo de revitalização e reforço étnico que, em Uapuí-Cachoeira, culminou com a construção da Malikai Dapana.
Escola diferente
A escola construída pelos baniwa em nada se parece com uma escola convencional. Ela tem a forma de uma grande maloca construída com vigas de madeira entrelaçadas com cipó e coberta com palha de caraná, uma palmeira da região. Tem dez metros de comprimento por cinco de largura e três de altura.
“Mandu” dá aula a 15 alunos. Quase todos são jovens, parentes do professor e vivem em Uapuí-Cachoeira. Alberto diz que já mandou recado para as outras aldeias convocando novos alunos, mas até agora não recebeu resposta. João Joaquim de Lima da Silva tem 16 anos, é neto de “Mandu” e um dos primeiros alunos da escola. Seu interesse pelos conhecimentos dos mais velhos é coisa rara entre a juventude baniwa. “É importante cultivar os conhecimentos do meu avô. Isso faz parte da nossa história e eu quero preservar. Não quero que nossa cultura morra com o meu avô”, diz o aprendiz de pajé.
EM NÚMEROS - US$ 18 mil
Esse é o valor repassado pela organização não-governamental Foundation For Shamanic Studies (Fundação para Estudos Xamânicos). O valor foi utilizado na construção da maloca. Outros US$ 4,5 mil foram liberados neste ano. 5,8 mil é a população estimada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) dos índios baniwa no Brasil. A etnia se espalha pela Colômbia, também. Eles se encontram em centenas de comunidades na calha do rio Içana, Ayari Cubate e Cuiari".