Entrevista com Ernesto Moamba

Quando março findar, o escritor moçambicano Ernesto Moamba estreia na literatura infantil. O coelho fugitivo terá edição em Belém-PA. Segundo informa Ernesto, " O Coelho Fugitivo" reporta-se ao mundo animal para representar as nuanças próprias da convivência social humana. Fábula, a narrativa descreve e apresenta o espaço de luta e sofrimento das nações africanas.

A história que o jovem Escritor moçambicano Ernesto Moamba conta é aquela de um pai ou uma mãe em busca do pão para alimentar os filhos, não importa quanto sacrifício possa haver.É neste contexto que o Coelho se integra pela astúcia e sabedoria ao mesmo tempo em que sofre bastante e arrisca-se para salvar os filhos e a esposa das dificuldades(...).

Dílson Lages Monteiro, editor de Entretextos, conversou com o autor. Leia a entrevista na íntegra.

Dílson Lages -- O coelho fugitivo é seu livro de estreia na literatura infanto-juvenil. Quais, para você, os desafios de escrever para crianças?

Ernesto Moamba: Quero acreditar que o desejo de escrever para o mundo infantil sempre residiu em mim, talvez porque desde a minha infância sempre existiu um rio de carinho e apreço por elas. Com isso, para dizer que os desafios são várias; primeiro, porque é meio complicado migrar de um género para outro e ainda mais em se tratando de uma escrita para crianças, que deve ser algo mais mole e sensível para que elas possam ler e entender. Mas quando fizemos por amor superamos até as dificuldades que nem existe. Contudo espero que esta escrita venha criar comichão para que elas possam gostar mais dos livros através da leitura, porque a leitura educa o homem.

 

Dílson Lages -- Escrever poema e romance, além de mergulhar na cultura africana, fornecem contribuicões para seu projeto de escritura de textos para criança?

Ernesto Moamba: Penso que sim, pois duas correntes literárias e, em especial, a minha temática, é o reflexo do quotidiano e da vida de todos que lutam para a sua sobrevivência, apesar das dificuldades que na algum momento têm enfrentado. De qualquer forma, acaba sendo uma fonte de inspiração para dizer algo para os mais pequenos a partir da escrita.

 

Dílson Lages -- O coelho fugitivo é uma grande metáfora para a África. Quais associações Ernesto Moamba espera que os leitores façam a partir dela?

Ernesto Moamba: Ora, existe algo que ferverosamente sempre me preocupou ao longo da minha carreira. Fazer com que as pessoas reflitam sobre a minha escrita e percebam que o mundo é um mundo e sofrimento é sofrimento, mas que é possivel nos consciliar e superá-lo independentimente de tudo. Espero que, depois da leitura do livro"Coelho Fugitivo", os leitores possam se inspirar na fábula narrada, pois compreenderam que o esforço, a coragem e determinação podem servir como arma para derrotarmos qualquer obstaculo que viermos a encontrar ao longo da vida.

 

Dílson Lages -- A busca de alimentos para sustentar os filhos está presente entre as grandes angústias retratadas na literatura infantil do final do século XVII, quando ela se originou. Passados mais de três séculos, continua vivo esse problema, a tal ponto que o leva a escrever sobre. Como você vê o papel da literatura infantil diante disso?

Ernesto Moamba: Para mim, a literatura infantil apesar da sua construção literária, que exige muito mais carinho, é igual aos outros géneros, entretanto o escritor infantil também deve preocupar-se em informar ou alertar o seu público sobre um determinado facto, como diz o ditado" É do pequeno que se torce o pepino". Quero deixar claro que poucos fazem isso, mas em particular acho que é muito inerente que o façam, pois as crianças devem ser educados e formados ainda na pela da idade para que cresçam com a mínima ideia de como a vida é.

 

Dílson Lages -- O que um leitor brasileira aprenderá sobre a cultura africana lendo O coelho fugitivo?

Ernesto Moamba: Existe várias coisas que, ao ler "O Coelho Fugitivo", os leitores brasileiros ou lusofonos podem aperfeiçoar da melhor forma. A narrativa representada muito bem a realidade africana. Primeiro, terão a noção da própia tradição africana,  modo de vida, hábitos e seus custumes. Aprofundando mais a leitura, possivelmente poderão deparar-se com uma experiência de vida que pode vir servir de espelho para o seu dia a dia, só para não correr risco de deleitar tudo que esta patente, recomendo a todos a comprarem a obra quando iniciarem as vendas.

 

Dílson Lages -- Que significado especial existe na escolha de um coelho como personagem que dá título ao livro?

Ernesto Moamba: Para ser sincero, adoro e tenho apreço por este pequeno mamífero embora viva na selva. É um dos meus amiguinhos que sempre nos transmite uma lição de vida, apesar de ser meio maladrinho. Acho eu, o que mais me impressionou, é o facto de ser um animal que usa da sua esperteza e humildade para sobreviver diferente de outras personagens que usam a violência para saciarem seus apetites, o que aparenta mau exemplo a nossa sociedade

 

Dílson Lages -- Em literatura infantil, o estético deve suplantar a moral. Entretanto, nela há sempre oportunidade para ensinar as crianças a serem melhores do que são. Quais cuidados Ernesto Moamba adotou para fazer com que o lúdico fosse mais valorizado na escritura dessa obra?

Ernesto Moamba: Antes de me aprofundar, permitam-me dizer que esta obra de género Infantil traz nos uma abordagem lírica e dramática ao mesmo tempo que se alia aos momentos de Karingana Ua Karingana, em quem se relatavam histórias em volta da fogueira como forma de ensinar os hábitos e costumes as novas gerações. Também tentei resgatar isso nesta narrativa, porque a cultura merece vida. Pensei numa fábula que pudesse ser simples e mais educativa para com as crianças que terão o prazer de ler, espero com isso transmitir valores culturais que possam vir servir de palco para todos os apreciadores dos livros infantis.

 

Dílson Lages -- Para finalizar, quais satisfações trouxeram a Ernesto Moamba a escritura de O coelho fugitivo?

Ernesto Moamba: Escrever um livro infantil para mim sempre foi um sonho, é como dormir com febre e acordar saudável sem ter passado por um médico sequer, Confesso. Fazendo este exercício, fez de mim pensar que a vida é somente uma virtude que deve ser bem curtida com determinação e compromisso. Por isso, espero daqui para frente, se Deus permitir, publicar os restantes livros infantis que tenho para presentear ao mundo, porque é somente a leitura faz do Homem um ser inteligente. Contudo, quero agradecer a todos amigos brasileiros e de outros cantos do mundo que têm apreciado o meu percurso literário e aos coordenadores deste portal pela oportunidade.