Ensinou a sentir veladamente
Em: 19/07/2010, às 12H35
SAN GABRIEL
I
Inútil! Calmaria. Já colheram
As velas. As bandeiras sossegaram,
Que tão altas nos topes tremularam,
– Gaivotas que a voar desfaleceram.
Pararam de remar! Emudeceram!
(Velhos ritmos que as ondas embalaram)
Que cilada que os ventos nos armaram!
A que foi que tão longe nos trouxeram?
San Gabriel, arcanjo tutelar,
Vem outra vez abençoar o mar,
Vem-nos guiar sobre a planície azul.
Vem-nos levar à conquista final
Da luz, do Bem, doce clarão irreal
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!
II
Vem conduzir as naus, as caravelas,
Outra vez, pela noite, na ardentia,
Avivada das quilhas. Dir-se-ia
Irmos arando em um montão de estrelas.
Outra vez vamos! Côncavas as velas,
Cuja brancura, rútila de dia,
O luar dulcifica ... Feeria
Do luar não mais deixes de envolvê-las!
Vem guiar-nos, Arcanjo, à nebulosa
Que do além vapora, luminosa,
E à noite lactescendo, onde, quietas,
Fulgem as velhas almas namoradas
– Almas tristes, severas, resignadas,
De guerreiros, de santos, de poetas.
Camilo Pessanha,Clepsydra
Postagem de Amélia Pais (Portugal)