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Luiz Filho de Oliveira 

 

         Terminados a impressão e o acabamento de Onde Humano, fico esperando somente a volta das férias para que possa agendar o lançamento, em janeiro ou fevereiro, dessa obra, que é meu segundo livro de poemas, oqual conta com o incentivo da Lei Cultural A. Tito Filho, da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, órgão da Prefeitura Municipal de Teresina e com o patrocínio da Faculdade Santo Agostinho. Portanto, com esse gostinho de trabalho feito, começo a pensar no que farei daquipradiante.

         Estou pensando em duas possibilidades: a primeira é um livro de poemas "normal" acerca de um "tema" a ser escolhido (disse, à primeira postagem deste texto, que havia pensado em "escola", mas não o-confirmo); a segunda, um livro de poesia satírica. Quanto a este último, já tenho reunido um número bom de poemas; oque já é uma vantagem , em relação à possibilidade do primeiro projeto, pois, nesse caso, já posso iniciar a fase de leituras-e-reescrituras. Contudo, é necessário muita cautela, gosto que o caldo de galinha já venho tomando há muito tempo.

         Digo isso porque os poetas sabemos o vespeiro que é a poesia satírica. Taí Gregório, que não me-deixa mentir: quanto incomodou a seus inimigos esse poeta maldito! Bem digo: ele é o exemplo vivo (na própria carne!) de que esse gênero poético tem força contra as forcas de autoritarismos de qualquer tipo. Não é por acaso que, na introdução de um livro de bolso da L&PM, uma antologia da poesia satírica de Gregório, Higino Cunha (?) nos-dá notícia de que, ainda em 1969, o Exército Brasileiro, na pessoa do general Abdon Sena, comandante da 6ª Região Militar, subordinada ao IV Exército, em Recife, quis proibir a distribuição do resgate dessa poesia do Boca do Inferno, feita por James Amado, irmão de Jorge,  por meio de sua pequena Editora Janaína, em Salvador. E por quê? Segundo o general porque as autoridades militares (e literárias?) consideravam o bom baiano "subversivo, anticlerical e pornográfico". E o que eles queriam da poesia satírica, sectarismo, salamaleques, subserviência? Ah, general, o senhor só sabe de guerra; e não, do Guerra!

         Porisso, é que escrevo e está escrito por tantos: se optar por levar à frente o projeto do livro de poemas satíricos, quero fazê-lo, a princípio, como uma homenagem aos poetas brasileiros que compuseram nesse gênero: de Gregório (o pai brasileiro da criança), passando por Tomás Gonzaga, Casemiro de Abreu, Luiz Gama, Juó Bananere, Chacal, até o Guru do Méier, Millôr Fernandes. Quanto ao primeiro da fila, falo que, por esses dias (23/12), ele estará completando anos de nascimento, mesmo estando mortevivinhodasilva. Por ele, minha lira maldizente afino e lanço as torpezas dos inimigos dentro dos Infernos fictícios.

        

 

A arma do Poeta continua sendo a Boca dos Infernos

 

Pode o Poeta,

Ser rico,

ser pobre;

mas não é de cobre

a sua amizade –

é mais forte!  –

é honesta!

 

Pode o Poeta,

por palavras,

pôr pedradas

em sua fala ao inimigo,

que só irá atingi-lo

e desfigurá-lo

a metáforas!

 

Pode o Poeta,

andar térreo,

andar nas nuvens,

de jeito meio aéreo;

qu’inda é dos Infernos

a sua Boca de Guerra:

“Mato-os!”

 

Pode o Poeta,

colar de prata & pena,

colar, em seu poema,

um mote dum mestre velho,

que lerá seco o seu verbo,

pela pilhéria com veneno

aos vermes! 

 

Pode o Poeta,

a licença poética,

à licença dar poética 

em seu rudo verso,

que aqueles ledores

bem maldizente lerão

sua lira acérrima!

 

Pode o Poeta,

a mar de poesias,

amar o que le-faria

um legítimo assassino

de ficção tão atrevido,

qual toda boca

do satírico!

 

 

 

Cantiga para bendizer dos assassínios escritos por pena de Poeta rudo

 

O Poeta já assassinou  – 

entre tantas gentes  – uns infiéis,

armado de seu lápis, perfurando

quanta página em carne.

Eitadiabo!

 

Fez dos estilos as estacas

(afiadas pra dráculas!),

pela lâmina do estilete:

matança cinematográfica!

Eitadiabo!

 

Os cortes expostos nos textos,

sangrados à sequência das mortes;

as convulsões em linha parindo defuntos;

o profundo das palavras coagulando-se.

Eitadiabo!

 

Espalhado o horror pelos cantos,

um lamento feito música ecoando;

nas telas, nas livrarias; nas bancas;

os assassínios, a denúncia, o delito flagrante.

Eitadiabo!

 

A sentença escrita, processada, crítica,

é a de que o Poeta (de tantos, amizade!),

vale mais do que toda  essa canalha.

A pena é legítima: fatal, a defesa válida.

Eitadiabo!