[Maria do Rosário Pedreira]

A minha sogra – que, desde que ficou viúva, viveu sozinha no Porto muitos anos, e morreu aos noventa –, sempre que o Manel lhe telefonava e iniciava a conversa com um «Tudo bem?», respondia, com alguma amargura, que o «tudo» era só ela... Na verdade, esta forma de cumprimentar é bastante recente em Portugal e foi claramente roubada às telenovelas brasileiras para nunca mais lhes ser devolvida. Antes disso, as pessoas perguntavam, por exemplo, «Como está?» ou «Como vai?» (um pouco como o How are you? inglês ou o mais engraçado Ça va? francês que, literalmente, quer dizer «Isso vai?» e que creio equivalente ao Qué tal? espanhol). Os italianos, de resto, ainda usam correntemente Come va?, embora a frase traduzida pudesse estranhamente suscitar também uma resposta do tipo: «De comboio.» Em português, porém, todas essas maneiras de perguntar pelo estado do outro, físico ou mental, caíram em desuso com a apropriação do coloquialismo brasileiro – e praticamente morta e enterrada está a fórmula «Como passou» (que era por vezes acrescentada ou substituída por um «Passou bem?»), a que o meu pai, que era um brincalhão, respondia: «Fui cabendo.» Não gosto de dizer «Tudo bem?» a pessoas que conheço mal, a pessoas a quem guardo respeito, a pessoas mais velhas, a pessoas com quem faço alguma cerimónia (e continuo a usar «Como está?» em todos esses casos). Mas creio que a minha geração será a última a conhecer estas expressões e que, no futuro, este «Tudo bem?» acabará por se tornar simplesmente um «Tá-se bem?» ou coisa do género