Segunda-feira, Maio 29, 2006
aram-se. Mas a Europa vivia ainda os despojos da guerra. A sede da FIFA era agora em Zurique, território neutro durante os “devaneios” de Hitler. Durante os anos da Guerra, a Taça de campeão do Mundo também viveu história curiosa, anos a fio embrulhada em papel de jornal, dentro de uma caixa de sapatos, debaixo da cama de Ottorino Bararssi, braço direito de Jules Rimet. O primeiro congresso pós guerra da FIFA foi em 1946, no Luxemburgo. O Campeonato do Mundo passaria a denominar-se Taça Jules Rimet. A próxima edição do Mundial seria no Brasil, 4 anos depois. De imediato, começaram as manobras para a construção de um estádio de sonho, o mítico Maracanã.
Portugal não esteve na prova porque não quis. Fomos afastados nas qualificações pela Espanha mas, face às indisponibilidades de Áustria, Turquia, Bélgica e Escócia, o comité organizador repescou duas selecções, França e Portugal. A Federação Portuguesa de Futebol achou que não tinha condições financeiras e humanas para se deslocar ao Brasil, passara por uma década de resultados humilhantes. A Índia não esteve na abertura porque a FIFA impediu os jogadores de entrarem descalços em campo.

O Mundial apresentava novo formato. Quatro grupos, o primeiro de cada agrupamento seguia para uma poule final. O Brasil inaugurou o Maracana com uma goleada ao México, 4-0. Na partida seguinte, empate a 2 com a Suiça. Uma vitória por 2-0 ante a Jugoslávia valeu a qualificação para a fase decisiva. Suécia, Uruguai e Espanha também seguiram em frente.

As goleadas sobre Suécia e Espanha, 7-1 e 6-1, respectivamente, deixaram o Brasil a precisar de apenas um empate ante o Uruguai para se sagrar campeão do Mundo pela primeira vez. Véspera da final, o jornal O Mundo fazia capa com uma foto da selecção e apenas duas palavras, “Campeões do Mundo”. Obdulio Varela, grande capitão da celeste, “rosnou” para os seus companheiros. “Pisem no diário e depois mijem nele!”. 199.854 espectadores pagaram bilhete para a partida decisiva… Mas estima-se que nas bancadas eram mais de 205 mil. Ambiente do outro Mundo. Apenas Varela permanecia sereno no lado do Uruguai. Coração num cubo de gelo, provocador. “Olha para a cara de estúpido do guarda-redes deles, não me digas que não somos capazes de lhe marcar um golo ou dois! Não tenham medo, olhem só para a relva, é na relva que vamos ganhar, não é nas bancadas!”. Mas os colegas tinham medo. Júlio Pérez haveria de confessar. “Mijei-me de verdade, não escondo, não me envergonho disso”.

Faltavam 12 minutos para o final, 1-1 no marcador, o que chegava para o Brasil ser campeão. Do banco, Flávio Costa berrava para os seus jogadores defenderem, ninguém o escutava. De súbito, aparece Ghiggia pela direita, de ângulo muito apertado, o remate, Barbosa fica a ver a bola passar e… foi a maior tragédia do futebol.
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“O silêncio após o nosso golo foi algo de terrível. O estádio estava morto…” - Máspoli, guardião da celeste.
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“Eu chorava mais do que eles, de alegria, mas também de pena por vê-los sofrer assim. Eu chorava por eles, eu chorava…” - Schiaffino, autor do primeiro golo do Uruguai.
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Dez pessoas morreram no estádio de ataque cardíaco. Nos dias seguintes, diversos relatos de suicídios, e zaragatas em bares. Moacir Barbosa não defendera a bola, nem o seu destino, um Inferno para o resto da vida. Ficou eternamente responsável pelo "maracanazo". Faleceu em 2000, passou uma vida a ouvir a lengalenga que “brasileiro não pode confiar em goleiro negro”. Sofreu a humilhação de lhe barrarem a entrada no hotel da selecção em 1994, que estava estágio, para assim não trazer azar. “No Brasil a pena máxima por um homicídio brutal é de 30 anos e eu pago há 44 por um crime que não cometi”.
Zizinho, o melhor jogador do Brasil na Copa, sempre defendeu Barbosa. “Continuam passando de geração em geração essa história mentirosa do frango de Barbosa na copa de 50. Ele fez tudo com correcção. No golo do Schiaffino fechou o ângulo e o Ghiggia cruzou aberto para a cabeçada. No segundo entendeu que Ghiggia ia repetir o lance e lançar aberto para Schiaffino. Então ele se afastou e foi para o centro da baliza. E o Ghiggia rematou entre o poste e ele”.
A figura do Mundial
Juan Schiaffino era a estrela da celeste. Obdulio Varela era o grande capitão, Ghiggia entrou para a história com o golo decisivo, mas era Schiaffino quem fazia a diferença. Avançado centro de toque rápido e precisão mortal. Segundo melhor marcador da prova, com 6 golos. Brilhou igualmente no Mundial da Suiça. Rumou ao Milão. Escassos meses depois, já com dupla nacionalidade, marcava golos com a camisola da Itália. Ficou célebre uma frase sua. “Se o Brasil nos tivesse vencido assim no Estádio do Centenário os brasileiros não teriam saído vivos do Uruguai”.

Outras figuras
Obdulio Varela» Para o escritor Nélson Rodrigues, Varela “não atava as chuteiras com cordões mas com as veias”. Foi dos últimos românticos do futebol espectáculo. Recusou jogar com a camisola do Peñarol “profanada” com publicidade. O Peña entrava em campo com dez jogadores “patrocinados” e Varela com a velha camisola de sempre. Para a história, mais uma frase. “Fiz um país chorar de tristeza mais do que o meu país de alegria. E acho que se pudesse jogar aquela final novamente faria um auto-golo!”.

Zizinho» Mestre Ziza, como ficou conhecido, foi o melhor jogador da prova. E o ídolo de Pelé. Passou agruras pelo seu aspecto franzino. Recusado no clube do coração, o América, acabou no Flamengo. Passou para o Bangu. Primeiro jogo, deu 6… ao Flamengo. Ainda jogou no São Paulo. Armando Nogueira havia de escrever. “Eu lia Zizinho todo o domingo no Maracana”.
Ademir» Melhor marcador da prova, 9 golos em 6 jogos. Várias lesões graves acabaram-lhe com a carreira em 1956, apenas com 31 anos. A revista Placar escrevia na época. “… e havia também os golos, marcados com a cabeça, pé direito, esquerdo, barriga ou qualquer outra parte do corpo”.

Curiosidades da prova
Espectadores» Mais de 60 mil pessoas em média por jogo.
Mais números» O brasileiro Chico marcou o golo número 300 em Campeonatos do Mundo. A receita bruta do Mundial foi de 384 milhões de francos suíços.
Discurso no lixo» Jules Rimet tinha preparado um discurso para a entrega da Taça. “Diria que o troféu era destinado ao país que praticava o futebol mais virtuoso do planeta”. Brian Glanville, jornalista inglês, começou assim a sua crónica do Mundial. “A única Copa que não programou uma final teve afinal a mais emocionante de todas”.
Estados Unidos» A Inglaterra acedeu finalmente a participar num Mundial. Não passaram da primeira fase. Pior que isso, a derrota humilhante para os Estados Unidos, 1-0, com um golo de Larry Gaetjens, originário do Haiti. A equipa americana contava ainda com um defesa belga, um guarda-redes italiano e dois irmãos portugueses, John e Edward Sousa.
Baliza» As traves da baliza “profanada” por Ghiggia na final foram oferecidas a Moacir Barbosa. Serviram como lenha para um churrasco…
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Estatísticas da prova
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Número de jogos 22
Número de golos marcados 88
Número de equipas participantes 13
Média golos por jogo 4
Melhores marcadores Ademir (Brasil) 9 golos; Schiaffino (Uruguai) 6; Basora (Espanha) e Ghiggia (Uruguai) 5
Etiquetas: História dos Mundiais
Escrito por Bruno 14:06".
(http://futebolacimadetudo.blogspot.com/2006/05/histria-dos-mundiais-brasil-1950.html)







Diz a lenda que na noite de 16 de julho de 1950, 



