Eleições brasileiras: uma briga de foice
Por Cunha e Silva Filho Em: 08/09/2014, às 22H39
Cunha e Silva Filho
Até pensei que as eleições presidenciais seriam realizadas em clima de respeito mútuo. Não é o que está acontecendo para vergonha de todos nós eleitores.
Depois do infausto acidente aéreo de Eduardo Campos, duas competidoras saíram a campo (sem trocadilho), uma atacando, a petista Dilma, a outra, Marina, se defendendo com o discurso da prudência. Marina vem das lutas ambientais, de voz mansa, baixa, pouca adequada ao timbre de vozes de candidatos que almejam vencer no grito. Marina é tranqüila, não provoca, não alardeia, lembra um pouco as mulheres indianas, mas, no corpo frágil, como Gandhi, parece ser dotada de uma determinação de querer vencer, de enfrentar os desafios enormes do país. O PT não lhe dá trégua, indiretamente a ataca quando associa o nome do falecido Eduardo Campos em outro escândalo relacionado à a benefícios fraudulentos envolvendo governadores, deputados e senadores de vários partidos, inclusive petistas. Mal foram prestadas homenagens a um político em ascensão, morto precocemente, e já tem seu nome conspurcado pela fúria dos abutres politiqueiros. A família de Campos deveria, agora, vir a público defendê-lo e exigir retratação. Afinal, um morto não pode se defender, o que torna mais covarde a suposta calúnia.
Dilma, por sua vez, sempre com suas declarações evasivas, diz que as investigações devem ser feitas e os implicados punidos caso sejam considerados responsáveis por seus delitos. É fácil perceber que o PT vai jogar todos as suas cartas, todo o seu veneno a fim de não perder as regalias do poder imperial de que desfruta desde a primeira posse do Lula.
Aécio Neves, em segundo plano diante das duas candidatas, procura tirar seus dividendos sem grandes ataques, sem ferocidades, o que lhe poderá render alguns votos a mais. Porém, a polarização já está lançada. Dilma não quer arredar do poder. Ninguém, segundo suas convicções, lhe poderá tascar a faixa presidencial. Ela ainda quer andar, por mais quatro anos, de Rolls-Royce nas paradas de Sete de Setembro, com toda a sua coorte e áulicos palacianos. Marina é a sua preocupação, a “pedra no meio do caminho.” É preciso derrubar a frágil Marina, mulher sem ostentação de vaidades femininas, de gestos moderados, de voz pausada, de olhar profundo como se estivesse sondando todos os possíveis golpes baixos dos adversários. Lembra mesmo o tipo comum de vestir-se de uma evangélica, de uma mulher simples, sem physique de rôle. Nem quando foi ministra ou senadora dava a impressão exterior de que exercia um cargo importante..
O apresentador Boris Casoy, em mesa redonda, conversando com jornalistas, pôs em dúvida a capacidade de Marna para ser Presidente da República. Não atinei com a perplexidade dele porque a Dilma nunca foi prefeita, governadora, i.e., não tinha experiência de cargos executivos e, no entanto, aí está como Presidente. O pior foi o Lula, sem competência nem escolaridade para dirigir o mais alto cargo da Nação.Só tinha a seu favor a habilidade de armar seus discursos populistas, sua lábia, sua malandragem política, seu messianismo, sua fácil e sedutora comunicação com as massas. Neste talento é quase imbatível. Conseguiu conquistar o gosto tanto do povão quanto dos sociólogos europeus ou americanos, que o admiram e julgam que seja um político da esquerda, quando sabemos que,hoje, sua família já se elitizou e ele próprio, já mudou muito seu aspecto físico, sua indumentária., que não é mais a de um ex-torneiro mecânico ou sindicalista.
Na verdade, um Presidente da República, para governar bem, tem que escolher pessoas competentes e íntegras para serem seus ministros. No entanto, o PT, durante toda o seus período no poder, não escolheu as pessoas corretas para os cargos mais importantes. A nomeação por razões politiqueiras e não pelo bom currículo do indicado. Os cargos são, por assim dizer, loteados, mercadejados, pelos diversos partidos que constituem a chamada base política do governo, e é aí que o desempenho da governança se perde no submundo dos conchavos, dos conluios, dos bastidores escusos do balcão sujo e fétido das decisões a serem tomadas ao arrepio da autenticidade dos princípios democráticos, nas esferas dos poderes executivo e legislativo, assim como no Congresso Nacional e até mesmo respingando no judiciário.
O Brasil ainda está longe de atingir um nível de excelência na sua forma de realizar eleições. Persistem os mesmo vícios atávicos, a propaganda política na televisão e fora dela ainda se cerca de um ritualística que mais se aproxima da pantomima, de um tosco espetáculo circense, de saltimbancos, prestidigitadores e ilusionistas de teatro de revista de segunda ou terceira categoria. É uma ópera bufa, uma cena burlesca, uns cinquenta minutos dignos de uma peça satírica vicentina. Esse palco de momices, de figuras caricatas, grotescas, é um banho, em geral, de imbecilidades empurradas goela abaixo de quem assiste a esse teatro de comédia.
Essa interrupção obrigatória foi com justiça chamada pelo brasileiros de “programa humorísticos.” Não sei por que cargas d’água ainda o Tribunal Eleitoral mantém essa configuração rabaelaisiana. A continuar com está, o país nada renovou nas formas de divulgar as ideias, em elevado nível, de seriedade e de discussão dos grandes problemas brasileiros.
Com a balbúrdia de coligações de partidos de colorações as mais díspares, ou melhor, disparatadas, não é possível aperfeiçoar nossa democracia em bases de elevação moral.Quando um país como o Brasil elege oportunistas de todos os segmentos da sociedade que se candidatam para auferir vantagens e mordomias, quando não envolvimento em maracutaias, mensalões e negociatas com criminosos danos ao Erário Público, difícil se torna ainda ter esperança numa democracia de verdade entre nós.