[Flávio Bittencourt]

Elaine Ruas trouxe Ruy Guerra a Brasília

A convite da administradora de cultura, artista plástica e arteeducadora Elaine Ruas, Ruy Guerra ministrou Oficina de Linguagem Cinematográfica no início deste mês de outubro, em Brasília.

 

 

 

 

 

 

                                                                                               

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XILOGRAVURA DE ELAINE RUAS

(http://usuarios.multimania.es/xpressions/hobbies6.html)

 

 

 

"Elaine Ruas is graduated in art studies at the Brasilia University (UNB), professional actor since 1978, was involved in many avant-garde theather groups and circus perfoming arts, was in various films, produced and organized several events in popular culture, science and brasilian popular music, as well arts & crafts, tourism and cuisine. She was the founder of the Grand Circus Lar, which was a cultural and civic center with capacity of 5000 people and circus school, attracted all posible gatherings from works gropus to circus performes in Brasilia, Brazil. Her work was recognized in Europe at the Aide et Action, in 1992 at a world conference of 150 organizations to deal with the aspect of abandoned children worlwide. Elaine ruas is a conceptual artist working in painting, sculpture, computer art, installation and performance. Her work has been exhibited widely in Brazil. Her exbition "Prazeres" (Pleasures) deals with the erotic differences of man/woman relationship (sex)"

(http://usuarios.multimania.es/xpressions/hobbies6.html)

 

 

 

 

 

Gran Circo Lar (Foto APDF)

Gran Circo Lar. Foto APDF

"(...) A repetição cadenciada de edifícios rigorosamente iguais, os Ministérios (1958), é elemento de composição que, em equilíbrio com os demais edifícios públicos, conferem integridade física ao projeto, atribuindo-lhe propriedade decisiva de monumentalidade. Nas duas porções mais próximas à Rodoviária, Lucio Costa imaginou um conjunto cultural que durante muitos anos teve como único representante o Teatro Nacional (1958), edifício de grande robustez e austeridade, um tronco de pirâmide com tratamento diferenciado para cada empena. Enquanto isso, o lado sul deste mesmo conjunto permanecia vazio, ou ao menos sem uma edificação definitiva. A exceção era dada pelo Gran Circo Lar, tenda projetada pelo arquiteto Fernando Andrade, que gerencia a representação de Niemeyer em Brasília ao lado de Carlos Magalhães, edificação que até 1999 recebeu diversas manifestações artísticas e culturais. (...)"

(CARLOS HENRIQUE MAGALHÃES, arquiteto e urbanista, trecho do artigo "Pela soberania do vazio - Sobre o projeto da Praça da Soberania, de Oscar Niemeyer", publicado na MDC - Revista de Arquitetura e Urbanismo

http://mdc.arq.br/2009/01/20/pela-soberania-do-vazio/)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

RUY GUERRA

Foto: Cleber Augusto

(http://www.iesb.br/moduloonline/napratica/?fuseaction=fbx.Materia&CodMateria=2178)]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2009: RUY GUERRA NO FESTIVAL DE GRAMADO

(SEM A LEGENDA ACIMA APRESENTADA:

http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1267826-7086,00-O+CINEMA+BRASILEIRO+E+MELHOR+QUE+O+AMERICANO+DIZ+RUY+GUERRA.html)

 

 

 

 

16.10.2010 (Brasília) - Em apenas dois meses de atuação na função de diretora de um importante Centro Cultural do DF - o Espaço Cultural Renato Russo, na Av. W3-Sul -, a Profª Elaine Ruas já apresenta relevantes serviços prestados à sociedade candanga - Foi ela uma das fundadoras do Gran Circo Lar, que, na Esplanada dos Ministérios, perto da Rodoviária, durante 18 anos, tirou Brasília da modorra cultural em que vivia, em razão dos estragos causados pelo regime autoritário de 1964. Com José Aparecido à frente do governo do DF, ela conseguiu trabalhar de forma muito competente - e agora volta, dirigindo o atuante Espaço Cultural 508 Sul, com todo o seu charme e inteligência, que se traduzem em operosidade administrativo-cultural: sorte dos brasilienses ou dos que, vindos de outras Unidades da Federação, aqui vivem! (Parceria entre o Instituto Brasileiro de Audiovisual (IBAV), por meio de sua Escola de Cinema Darcy Ribeiro [Rio] e a Secretaria de Cultura do DF, por meio do Espaço Cultural 508 Sul, possibilitaram a vinda de Ruy Guerra, no início deste mês, a Brasília.) F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL 508 SUL - BRASÍLIA


 
Oficina de Linguagem Cinematográfica com o Cineasta Ruy Guerra, Prof. da Escola de Cinema Darcy Ribeiro
no Espaço Cultural Renato Russo-Pontão de Cultura 508 Sul 

Teatro de Bolso:

02 de outubro [DE 2010] das 9 às 17h
03 de outubro [DE 2010] das 9 às 13h

 

 

Relatório Oficina de Audiovisual Linguagem Cinematográfica com Ruy Guerra realizada no Espaço Cultural 508 Sul
 
            Em parceria com o Instituto Brasileiro de Audiovisual e a Escola de Cinema Darcy Ribeiro, o Pontão de Cultura do Espaço Cultural 508 Sul, próprio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, promoveu, nos dias 02 e 03 de outubro de 2010, a Oficina Linguagem Cinematográfica com o consagrado diretor Ruy Guerra. Em 12 horas de atividade em sala de aula, Guerra apresentou um amplo panorama de uma matéria, a linguagem, consensualmente considerada inesgotável, tal a quantidade e amplitude de aspectos cinematográficos técnicos e questões teóricas, diretamente relacionadas às naturezas do cinema e das artes em geral. Nos módulos da manhã e da tarde, Guerra direcionou o curso a partir de questões antecipadamente levantadas pelos próprios alunos.                                       Essas questões possibilitaram a abordagem da história do cinema, primeiramente detendo-se nas distinções entre o que se convencionou chamar de 7ª arte e outras linguagens narrativas e não-narrativas, como a pintura, a fotografia, o teatro e a literatura. O surgimento do cinema no fim do século 19 e o estabelecimento dos dois princípios básicos: o cinema como documento (Lumière) e como sonho (Méliès). As primeiras criações estilísticas seriam os legados de Lumière, e Méliès. O surgimento posterior da linguagem, a partir da decupagem de cenas em planos ou em planos-sequência. Guerra se deteve longamente na questão da construção das cenas como atributo primordial da prática dos diretores de cinema. 
            No período da tarde do dia 02, Guerra desenvolveu vários aspectos genéricos da construção cinematográfica, mas se deteve principalmente no modelo aristotélico da dramaturgia clássica. Este tema seria desenvolvido minuciosamente no dia 03, quando focou sua atenção nos problemas de direção, particularmente no modo como ele próprio constrói as cenas dentro da estrutura geral do filme, constituída basicamente de planos, cenas e seqüências. Guerra argumentou seu repúdio à nomenclatura “cena” – segundo ele herdada do teatro - adotando, ele próprio, o termo “seqüência”, como substituto na nomenclatura da construção narrativa cinematográfica.
            No dia 03, com carga horária resumida das 09h às 13h, devido às eleições para presidente, governadores, deputados federais e distritais, Ruy Guerra aprofundou elementos teóricos complexos, como a diegese, mas sempre utilizando um linguajar acessível, também a dimensão do tempo na narrativa do filme, além de saciar a curiosidade dos alunos em relação a sua – de Ruy Guerra – maneira de lidar com elementos da prática da mise-en-scène, entre eles a concepção fotográfica do filmes - incluindo aqui a forma como se relaciona com o fortógrafo e outros profissionais da equipe de produção. Neste segundo dia, muito mais à vontade, Ruy Guerra demonstrou uma clarividência e desenvolturas raras, deixando claro, para os por volta de 30 alunos remanescentes do dia anterior, sua condição de mestre incontestável do cinema brasileiro.
            O balanço final da oficina é altamente favorável, ainda que algumas considerações não possam deixar de ser feitas: anunciada com muito pouca antecedência, a oficina teve, mesmo assim, um grande afluxo de interessados (quase 100 pessoas se inscreveram), sendo que 50 compareceram no primeiro dia e 30 no segundo. Sobre este fato vale ressaltar o seguinte. Em primeiro lugar, o período coincidente com as eleições desencorajou muitos daqueles que se inscreveram inicialmente. Outro aspecto que deve ser levado em consideração é a tradicional dificuldade do Espaço Cultural 508 Sul em conseguir que os alunos matriculados de fato se comprometam em freqüentar os cursos ali ministrados, já que as inscrições são gratuitas. Por fim, cabe observar o entusiasmo unanimemente manifestado por este tipo de iniciativa na cidade e a espontânea admiração que muitos dos alunos que estiveram no Espaço Cultural pela primeira vez – incluindo o professor Ruy Guerra – demonstraram pela conveniência e beleza do lugar.     
Brasília, 4 de outubro de 2010 
Elaine Ruas, Arte Educadora, Diretora do Espaço Cultural e Gestora do Pontão de Cultura   – 508 Sul
Sergio Moriconi, Cineasta e professor de Cinema do Espaço Cultural – 508 Sul 

 

 

 

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DOLORES OROSCO NOTICIOU,

NO PORTAL G1, "O portal de notícias

da Globo "(agosto / 2009)

 

 

 

14/08/09 - 19h40 - Atualizado em 14/08/09 - 20h48

‘O cinema brasileiro é melhor que o americano’, diz Ruy Guerra

Cineasta faz elogio cheio de ressalvas à nova safra de filmes nacionais.
Representante do Cinema Novo, diretor será homenageado em Gramado.

Dolores Orosco Do G1, em Gramado 

 

 
 

"O cineasta Ruy Guerra, que receberá o Kikito de Cristal. (Foto: Alessandro Rodrigues/PressPhoto/Divulgação)

 O cineasta Ruy Guerra, de 78 anos, fez um elogio – marcado por ressalvas – à atual safra de filmes nacionais, em entrevista coletiva realizada nesta sexta-feira (14), em Gramado. “Digo com toda minha idoneidade que considero o cinema brasileiro melhor que o americano. E nisso incluo até essas comédias ruins derivadas da televisão. É um cinema que, independente dos valores estéticos, de seus desequilíbrios e arrogâncias, representa melhor sua própria identidade do que os filmes que Hollywood faz hoje”.


Nome importante do Cinema Novo, período em que dirigiu “Os fuzis” (1964) e “Os cafajestes” (1962), Guerra será premiado esta noite no Palácio dos Festivais, com o Kikito de Cristal, pelo conjunto de sua obra.


O diretor citou “Madame Satã” (2002), de Karim Aïnouz, “Baile perfumado” (1997), de Lírio Ferreira, “Cinema, aspirinas e urubus” (2005), de Marcelo Gomes, e “Nina” (2004), de Heitor Dhalia, como bons trabalhos da nova geração de cineastas. “A Tata Amaral fez uma das mais belas cenas de amor do cinema em ‘Um céu de estrelas’ [1997]. Também gosto do Beto Brant, mas não daquele filme que ele fez sobre ditadura, que é um período que ele nem viveu e não soube falar”, opinou Guerra se referindo ao longa “Ação entre amigos” (1998).


Assim como o ator Reginaldo Faria, o diretor também criticou as imposições feitas pelas comissões que aprovam o patrocínio para a produção de longas dentro das leis de incentivo. “O que temos hoje é a política do cifrão, uma pasteurização de filmes como forma de garantir bilheteria. Porque as empresas, no fim das contas, querem retorno financeiro”, analisou. “É extremamente perigoso padronizar os filmes para agradar todo o público e vender ingresso”.


O diretor citou como exemplo “O veneno da madrugada” (2004), trabalho que ele diz que em função dá má distribuição, “nem alguns de seus amigos puderam assistir”. “O que é melhor? Um filme visto por 50 mil, mas que ficará durante décadas, ou uma comédia ruim e descartável, que fará um milhão de espectadores agora?”, questionou. “Cada vez mais procuro produzir com baixo orçamento para ter liberdade de fazer o que quero. E claro que isso não interessa aos patrocinadores”. 

Cientista do cinema

 
Autor de adaptações literárias para o cinema, como “Estorvo” (2000), baseado no romance de Chico Buarque, e “Kuarup” (1989), inspirado na obra de Antonio Callado, Guerra disse que atualmente não tem se empolgado com as histórias de ficção. “Tenho lido muitos livros de físicos e matemáticos nos últimos dez anos. Cheguei a um nível de paixão pelos cientistas que não encontro mais nos ficcionistas”, revelou. 

“A ficção entrou em um momento de causa e efeito total, onde não há mais liberdade para a surpresa e o inesperado”, opinou. “Alguns livros de físicos e matemáticos são mais delirantes e engraçados que o dos autores de ficção. Eles me levam as gargalhadas como se fosse um Buster Keaton. São eles os verdadeiros loucos criadores”.


Após comparação, o diretor ironizou. “Mas não me levem a sério. Acho que vocês, jornalistas, já devem ter percebido que não sou uma pessoa séria”, disse, entre risos.


Sem dar maiores detalhes, o cineasta falou sobre seu novo projeto cinematográfico, “O tempo, a faca”, que será filmado em cidades do nordeste. “É a história de uma vingança, inspirada em uma citação do Freud no livro ‘A interpretação dos sonhos’”, contou. “Mas não pensem que ando me aprofundando em psicanálise. A inspiração foi só em uma citação mesmo”.


Aos 78 anos, Guerra disse, em tom irreverente, que quer bater o recorde do colega Manoel de Oliveira, que aos 101 anos ainda continua na ativa. “Vamos ver se até lá não vão descobrir que não passo de um velhinho doido, que quer fazer cinema inspirado na física”, brincou".

(http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1267826-7086,00-O+CINEMA+BRASILEIRO+E+MELHOR+QUE+O+AMERICANO+DIZ+RUY+GUERRA.html)

 

 

 

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ARTIGO DE TT CATALÃO

NO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA,

NO QUAL ELAINE RUAS E O FABULOSO

GRAN CIRCO LAR SÃO DEVIDAMENTE

MENCIONADOS

 
   
 
"Caderno da Cidadania

MEMÓRIA / JOSÉ APARECIDO DE OLIVEIRA
O Zé da cultura

Por TT Catalão em 21/10/2007

A passagem de José Aparecido de Oliveira no governo de Brasília (1985-88) teve a marca da conciliação. A primeira retomada ocorre pelo seu estilo festeiro e provocador. Ele devolve ao brasiliense uma cidadania cosmopolita de vanguarda (presente na utopia abortada da Capital inteligente dos anos 60) e tira Brasília do ranço e rancores militares quando a Capital era um simulacro de "governo legal" com bobos da corte de vários matizes e promiscuidades servis marcadas principalmente em uma imprensa reacionária.

A segunda conciliação deve ter ocorrido em seu próprio plano pessoal quando udenista (ferrenha oposição a JK e a própria construção da cidade) ele, exatamente o Zé, é quem luta em todas as frentes para conseguir o tombamento da cidade pela Unesco, em 1987. Amigo e secretário de Jânio (declaradamente deprimido e hostil com a Capital), Zé demonstra nesta guinada de paixão pela cidade um traço extraordinário da sua conduta pública e política: a cordialidade impulsiva de quem vive na adrenalina das ousadias.

Mesmo que institucionalmente tenha sofrido horrores com a penúria das verbas para o recém criado Ministério da Cultura (uma praga reveladora da miopia dos estadistas travados pela confusão entre arte-entretenimento-cultura), Zé lançou as bases intelectuais para o que chamamos hoje de Complexo Cultural da República com o Museu, o Teatro Nacional, Biblioteca Nacional e toda área da Esplanada.

O impacto de estilo e a performance esteta do Zé, na cidade, foram fundamentais para a descompressão dos anos de ditadura. Quem vive em outras cidades brasileiras, já estratificadas e com ritmos próprios de legitimação comunitária dos espaços urbanos, festas, points, casas de arte, centros culturais, becos, botecos, agitos, núcleos de discussões, circuitos de convivência, lendas e legendas não consegue imaginar o grau de controle, censura e manipulação que era sobreviver e resistir em Brasília.

O impacto de um governador descontraído no carisma e que desconstruia o gueto se fez rápido. Chamado jocosamente de "zé das medalhas", brindou fartamente o peito dos excluídos e o resgatou gente que antes era enxotada e demitida das redações ao menor sinal de ameaça inteligente a canalhocracia vigente. Índios (principalmente Sapaim e Aritana, dois Yawalapiti, que compartilhavam de caminhadas pelo Parque e beberagens medicinais da tribo), negros, mulheres, comunistas, artistas e ecologistas.

Consciência ambiental

Foi na área do meio ambiente onde Zé Aparecido percebeu logo o dramático colapso em curso na Capital. Espantou ao criar um Instituto de Tecnologias Alternativas quando Al Gore não era moda e seqüestro de carbono não tinha virado grife de consciência culpada. Exorcizou a granja do Golbery e instalou ali o ITA para abrigar uma confraria de doces bárbaros e cabeças do "mundo alternativo" que deixaram documentos e propostas, hoje, proféticos.

Claro que o tal colapso de Brasília veio pela força natural da conspiração da mediocridade vigente no país e sua massa manipulada por mídia e grana. A devastação, potencializada nos anos Roriz, aterrou nascentes, olhos d´água, destruiu matas ciliares, multiplicou loteamentos criminosos para produzir currais messiânicos eleitorais, pulverizou lençóis freáticos com a estúpida invasão dos condomínios classe-média e seus poços artesianos que alimentam piscinas etc, etc, etc.

Zé ao convidar os criadores Lúcio e Oscar sempre aguçava o componente ambiental no vetor do desenvolvimento. E não rimava prazer e dor: queria beleza e sonho. Jamais, outra vanguarda como homem público, desvinculava a cultura do processo de transformação coletivo. Na melhor linha estrutural de Aloísio Magalhães (criador do Centro Nacional de Referência Cultural) tentou trabalhar na base dos equipamentos públicos para criar condições de acesso e informação aos que não eram convidados para as festas nem podiam pagar ingressos. Obteve avanços tímidos na criação destas redes populares, mas criava o melhor dos oxigênios para deflagrar a invenção: garantia a liberdade.

Outro ato marcante do Zé no sentido de manifestar que uma cidade é de todos e resulta do que fizermos dela ocorreu quando propôs uma ciclovia popular na beira do Lago. Teve que desobstruir a orla, na marra. Comprou briga feroz com as invasões das mansões dos novos ricos (os mesmos que se acham elites para o deleite de suas alienadas claques).

Brasília respirava depois da cassação cívica imposta pelo golpe militar que queria a cidade como redoma – a tal bras-ilha – asfixiada como um quintal do SNI e campo de equitação dos generais em seu quartel hightech. Este Zé que não era um Zé qualquer muito menos um ninguém, era um Zé que se aproximava tanto do comum que fazia história, mesmo quando estava distraído. Este Zé desejava a cultura no centro institucional do Estado. Até hoje essa percepção de vanguarda para mudança de atitudes e revolução pacífica ainda não foi totalmente assimilada pelos "núcleos duros de poder", leia-se as esferas ditas pragmáticas da grana e os xerifes ideológicos da opinião única.

Portanto foi uma honra estar em plena Esplanada dos Ministérios, no horário em que ele falecia. Projetava um mix de fotos minhas (viagens nacionais pelos Pontos de Cultura) e do Arquivo Público num trabalho intitulado O Candango na Cultura do Brasil. A projeção estava marcada para o início da noite do dia 19 no teto oval do Museu da República, área externa, ao lado da Rodoviária. Local que Zé sempre esticava num pastel esperto com caldo de cana e onde autorizou a construção de um Gran Circo Lar tocado pela Elaine Ruas.

Na projeção atendia o convite do francês Rene Pic que trouxe para a cidade o 4° Simpósio Internacional de Iluminação. Ao saber que Zé deu no pé, autorizados pelo atual Secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho (amigo e assessor de comunicação de Zé quando governador) apenas acrescentamos, em laser, sobre as fotos do povo brasileiro e brasiliense, um "obrigado zé" pelo respeito às diferenças, pelo incentivo à diversidade, pela exaltação a inteligência que instiga e cria.

Zé partiu com homenagem montada e tudo na Capital que amou e tentou preservar. Tradição e ruptura, pompa e deboche, humor e indignação, coração quente e uma paixão pelo Brasil que não tinha tamanho nem melindres na hora de explodir. Brasília vai comemorar os 20 anos de patrimônio em dezembro deste ano e ao ver imagens dos candangos, negros, índios, brancos, caboclos e mestiços projetados no ovo ou cuscuz cósmico do Niemeyer, na hora em que Zé passava, foi uma emoção coletiva dos que sabiam da sua importância e até para quem não sabia (o pessoal da rodoviária deixou as filas para ver a projeção). Todos contritos em um ato público, solidários, ao ar livre, abertos, sob o céu do Planalto, sem cães farejadores, sirenes, choques, medo, porrada e aquele ameaçador "vamos dispersar, vamos dispersar!". A Brasília que o Zé queria era esta.

Obrigado! O humano é o nosso maior patrimônio. A cidade tinha poros. Fechados os porões.

Leia também:
José Aparecido, querida pessoa - Maria Elisa Costa".

(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=455CID005)