A ONU divulgou neste começo de outubro que o mundo precisará de 18 milhões de novos professores ao longo da próxima década para tornar possível o acesso universal ao ensino básico. Em setembro, o MEC revelou que, neste nosso Brasil brasileiro, necessitamos urgentemente de 700 mil novos professores no ensino médio e no fundamental.

O Inep apresentou recentemente outros dados, que refletem o dia-a-dia de milhares de crianças e professores: das nossas 162 mil escolas de ensino fundamental, 25 mil não têm luz elétrica, 129 mil estão à margem da internet, 40 mil não possuem biblioteca. E, para que fiquemos chocados: em 10 mil dessas escolas não há banheiros. Talvez só reste exclamar: Deus do céu!

Pois é a Deus que Ermírio de Moraes se dirige, quando pede educação para o país no título do livro que reúne artigos seus publicados pela Folha de São Paulo nos últimos 15 anos: Educação, pelo amor de Deus! (Editora Gente). O ponto de exclamação reaparece em vários títulos desses artigos: “Ainda há esperança!”, “Recursos para a educação sim!”, “A bronca da professora!”, “Mais do que nunca, educação!”...

O ponto de vista do autor é o do empresário que analisa a educação como fator de desenvolvimento social e econômico. Sua perplexidade nasce de constatações, muitas delas apoiadas em números. Aliás, não será por falta de números assustadores (ou desalentadores) que ele continuará a suplicar pelo amor de Deus para que a educação se torne verdadeira prioridade nacional. A revista Exame de 27 de setembro (ed. 877), com base em estudos do Banco Mundial, encarregou-se de reforçar a idéia (parcialmente verdadeira) de que a educação calamitosa é a grande responsável pelo fato de uma pessoa estar fora do mercado de trabalho e produzir pouca ou nenhuma riqueza para o país.

Não sei como Deus poderá comover governantes, auxiliar docentes (tantos docentes doentes por conta da estressante realidade escolar!), recuperar estudantes que, em virtude de mil e um problemas familiares, chegam ao ensino médio (quando chegam!) com dificuldades alarmantes para ler, pensar, escrever!

Na concepção de Ermírio somos um país rico (terra, água, sol em abundância...), mas com a mola quebrada. A mola é a educação. A educação sem qualidade nos desqualifica. Mas, pelo amor de Deus! Ou por todos os deuses! (Para fortalecer a oração...) Quando sairemos da perplexidade?!

 

Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.
Web Site: www.perisse.com.br