[Flávio Bittencourt]

Donaldo Mello escreve sobre a obra de Zemaria Pinto

Um dos maiores poetas vivos do Amazonas tece pertinentes considerações crítico-literárias sobre livros de seu conterrâneo, o Professor Zemaria Pinto. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: Reprodução

A foz do Amazonas, no Pará, vista em imagem de satélite (Foto: Reprodução)
sendo o título da matéria jornalística o seguinte:
"AMAZONAS É MAIOR RIO DO MUNDO, COM 140 KM A MAIS QUE O NILO, AFIRMA INPE")
 
 
 
 
 
 
 

"(...) [EM ZEMARIA PINTO] Grandes e rápidos rios poéticos espalham-se muito, dentro do mar, e conservam doces as águas ali lançadas pela suave violência do curso. (...)"

(DONALDO MELLO, DISCORRENDO SOBRE A LITERATURA DE Z. PINTO,

EM ARTIGO ADIANTE REPRODUZIDO NA ÍNTEGRA)

 

 

 

 

13.12.2010 -  Poeta comenta obra de poeta - O feliz resultado textual só poderia ser de primeira grandeza crítico-literária!  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

  

 

 

 

DONALDO MELLO ESCREVE SOBRE A OBRA DE ZEMARIA PINTO (NOV. / 2008) 

 

29 novembro, 2008 – 7:56 am
 
 
 
Zemaria Pinto
Zemaria Pinto
 
José Maria Pinto de Figueiredo nasceu em Santarém, no Pará, em 1957, mas Manaus é sua casa desde criança. Além de economista,  é poeta de sólida formação literária. Atuou como professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Amazonas. Editor do jornal poético “O fingidor”, escreve também premiados textos para teatro. Seus principais livros são Corpoenigma (1994), Fragmentos do silêncio (1996), Música para surdos (2001) e Dabacuri (2004).
 
“Música para surdos é um livro estruturado como uma partitura – seqüência de composições eivadas de intensidade humana e rigor na tessitura de seus cantos.” TENÓRIO TELLES
 
Canção dos novos tempos
 
Visitar os cantos de Zemaria Pinto pode ser a constatação de que “nas águas salobras da história” (A. Bosi) ainda não se perdeu um certo sabor do mito e da poesia. Também, que a memória do flâneur e a sabedoria histórica resistem ao gesto tentador da desesperança num violento mundo fragmentário e virtual. Senão observemos o escorrer da sua fala poética convidando-nos: “Dá-me tua mão./ Ainda há tempo”, na belaCanção de Amor de J. Sebastião.
Um foco vivíssimo irradiando toda uma ordem de motivações existenciais que produz, entre outras, uma nota longuíssima na canção do tempo histórico do leitor. Capaz, talvez, de atiçar no imaginário a dinâmica de um País das Águas e seus mistérios (“a bruma cai em flocos e tem gosto de açaí”). Grandes e rápidos rios poéticos espalham-se muito, dentro do mar, e conservam doces as águas ali lançadas pela suave violência do curso.
“A bruma eliotiana” do poeta resiste, inventando o caos que se recorta no horizonte rionegrino-amazônico fiando a trama. Tão antiga trama do tecido da utopia. Urdindo, com os silêncios da “música para surdos”, quem sabe, uma “ordem a decifrar”saramaguiana. Novos tempos na poesia do amazonasparaense.
Alfim, o poeta conduz passo a passo o leitor ao delicado e assombroso universo do abismo das interrogações (Ah, Manaus, Manaus, (…) onde estão tuas crianças, (…) teus velhos?). Onde?. O abismo das interrogações sem resposta, que se encerra na invenção poética, resistindo ao descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso.
 DONALDO MELLO , tarde chuvosa em Brasília, 15mar06".