DIGA NÃO AO SUICÍDIO

Miguel Carqueija

 

O fato de estarmos vivendo a Idade das Trevas está mais uma vez provado, com o caso estarrecedor de crianças e adolescentes estarem sofrendo indução via internet, para se cortarem e suicidarem. Afora a extrema crueldade de quem pratica tais atos, é de espantar que mesmo crianças possam ser levadas ao suicídio, já que estão em idade de gostar demais de viver.

Mas de modo geral, o que leva um ser humano a atentar contra a própria vida? Alguém dirá: graves problemas familiares acrescentados de outros, financeiros. Ruína, perda de negócios, doença grave e assustadora, desilusão amorosa. Vida de sofrimentos, ano após ano; perda de ilusões, de interesse pela vida.

É o complexo de Anna Karenina, de Madame Bovary.

Nunca deveria alguém se render a esse ponto. É preciso entender, para início de conversa, que o suicídio é o auto-assassinato, é homicídio no pleno sentido da palavra. Por certo, na loucura propriamente dita não há culpa alguma, se por exemplo um cidadão puser na cabeça que é o Super-Homem e saltar da janela do décimo andar, pretendendo voar. Dizem que isso aconteceu com o primeiro ator que fez o Super-Homem no cinema.

Mas se uma pessoa não está louca, por que tira a própria vida? Não pode refletir um pouco o quanto isto é ilógico, como diria o Sr. Spock?

Por mais desesperadora que se afigure uma situação (mesmo a humilhação pública pela desonra de compromissos importantes) ela não é, de per si, irreversível e exorbitante pelo simples fato de que vivemos no tempo e o próprio tempo se encarrega de resolver as coisas de um jeito ou de outro. E é preciso pensar também se a morte do suicida não dexará outras pessoas no desamparo e na miséria. Ou o choque, o trauma que isto causará.

A vida nos foi dada por Deus e somente Ele pode nos tirar, e neste caso é mais um chamamento, pois nossas almas são imortais e têm um destino eterno a cumprir. Em suma, a vida é uma doação divina, como sugerem estas palavras da heroína Sailor Moon no filme de animação “Corações em gelo”:

“Nós, neste pequeno planeta chamado Terra, ganhamos as nossas vidas. Elas podem ser vidas insignificantes. Mas nós cultivaremos as preciosas vidas que ganhamos.”

Alguém pode objetar: — Mas eu não acredito em Deus, nem em vida após a morte!”

Não me estenderei aqui falando como o ateísmo é inconsistente, mas pergunto: se você acha que não há nada a não ser o vazio após a morte do corpo... por que se apressar? Espere para ver como vai ficar, porque no mundo as coisas são instáveis e as situações mudam.

E se você crê em Deus, pense então: não será uma grande desfeita ao Criador, desperdiçar assim a vida que Ele deu, para passá-la aqui na Terra até segunda ordem?

Em última análise, além de rezar procure falar com alguém. Talvez com medo de ser impedido e constrangimento de falar no assunto, o suicida costuma guardar segredo de suas intenções. Mas há padres, há psicólogos, há parentes e pessoas amigas que podem lhe aconselhar. Lembre-se: se você realmente morrer num ato impensado, não vai poder voltar atrás. E do outro lado, por ter de forma tão clara ferido o Quinto Mandamento da Lei de Deus (Não matarás), talvez você encontre problemas piores do que aqueles enfrentados no mundo material. Pense não uma ou duas vezes, pense mil vezes se necessário — e não se suicide.

 

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2019.