Foto de Jairo Nunes Leocádio
Foto de Jairo Nunes Leocádio

Abandonei a vanguarda.

Não quero levantar bandeira,

Agradar a quem quer que seja!

Nem mesmo escrevo para um público determinado.

Eu escrevo para mim o que penso, o que faço, o que sinto.

Narrativa realista, sem ficção, sem fantasia.

Narro o meu dia a dia.

O meu prazer é compartilhar minha experiência.

Hoje me ocupo de mim,

me afasto do que me faz mal,

só me interesso pelos laços afetivos.

Rasguei a cortina, abandonei a fantasia

da vida cotidiana, do prosaico.

Reencontrei na poesia

a chama que acende minha vida,

O cais que ilumina o meu noturno.

(Fazendo o meu próprio balanço, poema de Edna Santos)

 

Belas damas e nobre cavalheiros, boa noite,

 

Apraz-me saber que a Poesia para Edna Santos possui uma litania que reafirma sempre o pensar, o fazer e o sentir. O sentimento antecede o pensar. As ideais merecem o executar, satisfazendo a própria realização.

 

Atravessei desertos, descortinei a vida.

Tornei-me desejante,

Sujeito da minha história (...)

(Poema biográfico, poema de Edna Santos)

 

O livro Passagens e Travessias, de Edna Santos, subdividido em oito ramos que perpassam temas como psicologia, psicanálise, natureza, mulher, sensualidade, linguagem, transição, memórias afetivas, família e pandemia, confidencia a entrega da poetisa irmanada, profundamente, ao desesperado anseio da evasão.

Escrever dá vazão a mim mesma,

escapo pelos sentidos,

me encontro fora de mim (...)

(...) Pela via da poesia,

construo meu caminho,

traço o mapa da minha localização,

do meu pertencimento.

(Escrever, poema de Edna Santos)

 

A palavra exige do seu operador, invenção, magia, cabala, ressurreição... O poeta é o mais alto e legítimo encantador dos Tempos, faz do vivido e do assombro, uma urdidura do Amor.

 

O poeta é o tecelão que detém uma máquina de costura, que conserta delírios, espantos, fantasias, mistérios, signos anímicos, vestígios, sonhos, dores remendadas e epifanias existenciais.

 

O segredo reservado aos poemas de Edna Santos soma-se à fotografia de capa de Jairo Nunes Leocádio, hospedada no milagre do instante; à transgressão imagética de Zé de Maria; à delicadeza da arte pictórica de Beetholven Cunha, que iluminam e sacralizam a voz evidente da poetisa: Estou dividida / entre o ir / e o ficar (...) Encontro repertório / de encantamento pela vida / nas artes, no poético / e no libertário.

 

A genealogia do livro Passagens e Travessias, de Edna Santos, remonta a mitografia e o estruturalismo do pensamento do filósofo francês, Roland Barthes, na conceitual obra intitulada “O rumor da língua: “A poesia é plural, é passagem e travessia, disseminação de sentidos, de valores e de crenças.”.

 

Na vida pessoal, Edna Santos é uma mulher completa, mãe de três filhas (Grabriela, Manuela e Izabela), avó de sete netos, uma maranhense graduada na Paraíba e em São Paulo, com atuação profissional amadurecida em Teresina, uma vivente da Parnaíba, ante o mar do Piauí!

 

Filha de Dona Jacy, Edna Santos faz a oferenda, abrigada pela admiração dos seus leitores, a sua estreia literária nesta noite.

 

A Literatura para Edna Santos é existencial, imprime o seu sentido ao mundo. Influenciada por Freud e Lacan, exerce o seu mister como psicóloga, psicanalista, terapeuta, professora e pesquisadora, de lastro reconhecível.

 

O que considero mais essencial em Edna Santos é o seu desejo de viver a Literatura como uma missão, uma dadivosa imersão no complexo abismo humano.

Me rendo à poesia.

Faço versos

para registrar

o meu olhar

de encantamento

pelas belezas da vida,

e de entendimento

pelos sofrimentos.

Eu faço verso sobre a vida.

No meu universo,

expresso meus sentimentos,

o meu olhar sobre os acontecimentos

influenciado pelas experiências vividas.

Quero deixar uma contribuição

para a literatura

do meu modo singular

de fazer verso e poetizar,

sem pretensão

de fazer revolução  

ou dar dica de solução,

menos ainda indicação de cura.

Quero dizer que a poesia

foi da minha pátria, a salvação.

 

(Fazer verso, poema de Edna Santos)

 

Centro Cultural João Paulo dos Reis Velloso, Parnaíba, coração costeiro do Piauí, 27 de maio de 2023.

 

 Muito obrigado!

 

Discurso de Diego Mendes Sousa sobre o livro “Passagens e Travessias”, de Edna Santos.