Poeta Diego Mendes Sousa
Poeta Diego Mendes Sousa

 

 

Entrevista concedida a Alisson Carvalho.

 

 

Diego Mendes Sousa fez a sua estreia com o livro de poemas “Divagações” (2006). Depois vieram as publicações: “Metafísica do encanto” (2008), “50 poemas escolhidos pelo autor” (Edições Galo Branco, 2010), “Fogo de alabastro” (2011), Candelabro de álamo” (2012), “Gravidade das xananas” (2019), “Tinteiros da casa e do coração desertos” (2019), “O viajor de Altaíba” (2019), “Velas náufragas” (2019), “Fanais dos verdes luzeiros” (2019) e “Rosa numinosa” (2022), o seu mais recente livro de poemas.

 

 

 

  1. Como você foi apresentado para a arte pela primeira vez? Como aconteceram essas primeiras experiências com as artes? A família e/ou a escola contribuíram para isso? Tinha algum artista na família?

 

Diego Mendes Sousa:

Meu primeiro contato com a arte da palavra remonta ao ano de 1996, quando meninote travei o olhar sobre uma Bíblia ilustrada para crianças, editada pela Paulinas, uma grande editora de itens religiosos. Alumbrei-me não só com a arte figurativa ali exposta, mas sobretudo, com a narrativa e a dicção poética dos textos sagrados.

 Minha morada primeva e natalícia era um recinto de livros. Via os meus avós lendo, fui tomado pelo exemplo. Minha avó paterna, Maria José Ferreira Sousa, era uma erudita. Lia para mim, Castro Alves, Olavo Bilac, Guilherme de Almeida, Rainer Maria Rilke, altíssimos poetas que ela amava e declamava pelos corredores da nossa casa.

Aprendi mocinho a degustar as palavras. Tive acesso, através dela, a um mundo cultural vasto, que abraçava ópera, teatro, música, artes plásticas, cinema, literatura e viagens.

Apossei-me do gosto pela leitura. Vovó me abastecia de múltiplas oportunidades. Aprimorei os meus conhecimentos humanísticos em sua biblioteca repleta de excelentes coleções como Enciclopédia Barsa, Tesouro da Juventude, National Geographic e Seleções Reader’s Digest, onde lapidei o substrato do que hoje sou.

Tive uma educação modelar. Estudei em uma boa escola, com acesso às línguas e à tecnologia. Guardo lembranças felizes da minha infância, de muito carinho. Os abraços da avó eram alentos inesquecíveis.

Pela força do sangue, tenho na genealogia, um parentesco mui próximo ao Ferreira Gullar e ao Humberto de Campos, ambos foram imortais da Academia Brasileira de Letras e escritores seminais, que influenciaram muita gente de proa, aqui e alhures.

 

 

  1. Qual foi a experiência artística mais memorável que você vivenciou durante a infância?

Diego Mendes Sousa:

Sempre tive uma mente pesquisadora. Adorava passar as minhas férias escolares isolado no Arquivo Público do Maranhão ou na Biblioteca Benedito Leite, na minha saudosa e inspirada cidade de São Luís, ambiência que me trouxe esse olhar imaginário sobre a vida.

Vivia também nos sebos do centro histórico da Ilha do Amor. E ali conheci Nauro Machado, que me impactou! Corria para ver Nauro, grandíssimo poeta, a passear pelas ladeiras do Maranhão. Era incrível, um verdadeiro fascínio.

Considero ter sido a presença física de Nauro Machado, a cousa mais inolvidável da minha infância. Identifiquei-me, queria ser escritor como ele. Chorei muito quando o poeta morreu e eu já era homem feito.

 

 

  1. Conte um pouco sobre a sua trajetória do início da sua inserção na literatura até hoje.

 

Diego Mendes Sousa:

 

Minha estreia em livro deu-se precocemente. Surgi com Divagações, no ano de 2006, que caiu de forma rápida, na graça e no gosto dos mais respeitados intelectuais piauienses. Recebi incentivo de Benjamim Santos, Tarciso Prado, Hardi Filho, O.G. Rego de Carvalho, Celso Barros Coelho, Nerina Castelo Branco, Herculano Moraes, Wilson Carvalho Gonçalves, Alcenor Candeira Filho, Kenard Kruel, Carlos Araken, Lozinha Bezerra, Rubem Freitas, Joseli Magalhães, Carlos Said, Francisco Miguel de Moura, Esdras do Nascimento, Assis Brasil, de modo que o meu batismo literário aconteceu, tornando-se elementar para estimular e preservar o meu desafogo criador. Nunca mais parei. A literatura é algo orgânico para mim.

O livro Divagações teve ainda o aplauso de Antonio Miranda, de Ascendino Leite e de Affonso Romano de Sant’Anna. Foi matéria elogiosa na coluna de Sérgio de Sá, articulador do Correio Braziliense, na Capital Federal.

 

 

  1. Qual foi o marco na sua carreira, o momento que você sentiu que estava apresentando um trabalho mais lapidado?

 

Diego Mendes Sousa:

Foi o meu movimento literário seguinte, com a publicação da obra Metafísica do encanto, galardoada com o Prêmio Olegário Mariano da Diretoria da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ), composta por um júri de peso, capitaneado por Stella Leonardos, Margarida Finkel e Luiz Gondim de Araújo Lins, nomes importantes da literatura brasileira.

 

 

 

  1. Conte um pouco sobre as suas obras?

Diego Mendes Sousa:

 

Poesia não se explica. Apenas adianto que sou um poeta de lastro agônico e passadista, para além da consciência do ofício de escrever, avidamente fantasmagórico e de alma triste. Minhas obras são um testemunho de mim mesmo.

 

 

  1. Quais as obras que você produziu que mais marcaram a sua carreira e por quê?

Diego Mendes Sousa:

 

Fundei na Parnaíba, meu torrão natal, o jornal O Bembém, com Benjamim Santos e Tarciso Prado. Em suas páginas estão preservadas a sociologia e a memória da minha cidade. 

Fiz também um restauro histórico-literário, devolvendo à Parnaíba o nome do poeta, contista e romancista Everaldo Moreira Véras.

Escrevi sobre os monumentos turísticos da Parnaíba em crônicas espalhas pela cidade.

Idealizei e organizo uma coleção para a Editora Penalux, intitulada Item de Colecionador, que empreende na publicação dos mais notáveis escritores brasileiros da atualidade, como Antonio Carlos Secchin e Antonio Cicero, somando-se a isso, a curadoria de outras obras de autores nacionais.

Tenho maior satisfação em fazer pelo outro. É aonde encontro a perenidade de mim mesmo.

 

 

  1. Conte um pouco sobre o seu processo de criação.

Diego Mendes Sousa:

 

Sou disciplinado. Acredito na vocação e vou ao encontro da poesia somente quando verdadeiramente intimado. O ato de criar é cabalístico. Prefiro manter o meu mistério.

 

 

  1. Dos temas que você mais aborda, tem algum motivo nessa escolha?

Diego Mendes Sousa:

 

Gosto de palavras atmosféricas e seculares. Escolho-as com as âncoras ferozes da alma. Tempo, memória, dor, amor, vida, morte, existência, mar, solidão, melancolia, tristeza, eternidade, sonho, ilusão e saudade são joias recorrentes.

 

 

  1. O que inspira você a criar?

Diego Mendes Sousa:

 

O chamado. Que pode advir de uma música ou de algo mais metálico. Um mergulho no canto universal, que me faz sobrevivente da quimera.

 

 

 

  1. Qual a importância da literatura na sua vida e na formação das pessoas?

Diego Mendes Sousa:

 

Sinto um prazer indescritível ao ler. A leitura civiliza o homem. A literatura cristaliza os abismos existenciais, o que permite se ir vivendo, pois viver é muito cansativo, e às vezes, sem sentido.

As artes, não somente a literatura, dão-nos alegria, porque vêm de um espírito inovador, sem nome, todavia identitário, abrindo horizontes.

 

 

 

11. O que a literatura representa para você?

Diego Mendes Sousa:

 

Um real impulso de compaixão para continuar acreditando na humanidade. O próprio destino, com arreios de bronze sob o corcel do inimaginável.

 

 

 

  1. Teve algum ponto que não perguntei que você gostaria de abordar na entrevista?

 

Diego Mendes Sousa:

De onde vem o vosso dedilhar místico? Sois um mago?

A poesia continua sendo a minha penitência e a minha salvação. Não me arrependo de ter ouvido a musa e de ter sido confidente dos seus segredos. A poesia não espera nada de nós. É um breve acordar de uma aurora que já passou. A beleza é efêmera e a evasão onírica, angustiante.

 

 

 

  1. Como gostaria que definíssemos você: Diego Mendes Sousa: poeta de Parnaíba?

Diego Mendes Sousa:

 

                   Poeta da Parnaíba! Ser universal, cosmopolita, campesino e marítimo. Poeta da aldeia, profeta do seu tempo, paladino de uma desesperança, arauto dos sonhos, pássaro cruel, a mais consoada das criaturas de Deus, faminto de infinito, testemunha do crível, do incrédulo e, sobretudo, do incrível. Este sou eu.