Dia 9, às 20h, bate-papo com Francisco Gomes
Em: 08/12/2016, às 14H21
O poeta Francisco Gomes é o convidado para o bate-papo de Entretextos de dezembro. A conversa com os leitores ocorre nesta sexta-feira, às 20h. Para participar, basta clicar no link Conversa de escritor, na página inicial do Portal, na hora programada.
FRANCISCO GOMES (cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior – PI, mas por acidente já plantado do acaso acabou fixando raízes na provinciana Teresina – PI, onde (sobre)vive desde os 7 anos de idade. Apesar de rabiscar alguns versos desde os 12, só apenas mais tarde, através de um concurso de sonetos realizado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI – Campus Clóvis Moura) em 2004, que se apresentou ao público como poeta, sendo o 1º lugar do tal concurso. Em 2008, através do Concurso Novos Autores, recebeu o prêmio Cidade de Teresina pelo livro Poemas Cuaze Sobre Poezias, classificado em 1º lugar na categoria Poesia, publicado em 2011 pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Também em 2011, teve a obra “Conectados” (instalação) selecionada para exposição no 18º Salão de Artes Plásticas do Piauí. Iniciou duas faculdades – História e Letras/Português, abandonou ambas. É autor dos livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC, 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (PENALUX, 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (KAZUÁ, 2016). Também é músico, compositor, letrista e anartista plástico. Tem alguns livros inéditos e outros em construção. É administrador/editor do blog PULSO POESIA (www.franciscogomespoiesis.wordpress.com), onde publica inutilidades poéticas e afins. Tem poemas publicados em sites, blogs, revistas, coletâneas nacionais, jornais, muros etc.
Pequena bateria de poemas de Francisco Gomes.
ENRAIZADO
Lembrar do tempo presente
– presente esse
que de tão passado foi –
que fica
indo e voltando
na memória finca.
PERMANÊNCIA PERENE EM ESTADO DE SER-EM-SI
Sofro de flor:
a beleza da cor mora num morro,
lá onde a alma brejeia o silêncio da tarde
(o sol caindo...
vindo agora a saudade...)
Todos os dias
pétala por pétala
o tempo despenteia o ser plantado ali:
existência enraizada em si.
Só os pássaros norteiam o Aonde
Só o vento traz/leva o Aqui...
Sofro de flor:
parado permaneço próximo do pouso
de um passarinho
que acaba de levantar voo...
LÁPIDE
Vou-me ao tempo
Dou-me a mim
E as voltas que o vento dá
dá de volta as idas que fui
Retorno-me aos meus mortos
com a vivaz sabedoria d’antes
Sinto simplesmente o sereno na face
e despeço-me do ontem ao amanhecer o hoje.
PRIMEIRA LACUNA
Seguem as palavras em cascata
no rio dos meus anseios-cataratas
Debaixo d’água
turva vida desalinhada
Os olhos de mil e novecentos e noventa e nove
já não propagam o olhar de agora
– esfinge petrificada em perplexas mudanças.
Em meu peito ramificam-se ciladas
Em minha íris há o desbotar dos dias
No tempo
restam cinzas dos restos
rastros das horas que se seguem...
OSSOS DO PEIXE-OFÍCIO
Meu sentimento de poeta
em meu temp(l)o
é isca pra linguagem
:
ao mesmo tempo que dou linha
sou peixe
fisgado
em anzol de palavras.
XII
Os números oxi
dando
voltas
na fuligem das horas:
re-tardamento da
áurea íris do espanto nos
quatro olhos que se olham
nus.
XXIV
Parto para longe,
de mim permaneço escombros.
Meus ombros caídos
, cariadamente corroídos,
sentem o peso das tuas palavras.
Largo, lavro
mas não me livro
do bombardeio, do livro
, imenso calhamaço,
das tuas palatinas porradas.
XXV
Os olhos-janelas
voltados pra natureza morta
lautréamonteiam os Qorpos em volta.
O céu aveludado violeta dos sonhos
reflete a violência
da ruptura entre
permanência instável
&
espírito de urgência.
Não importa
a coagulação dos tempos,
sou importuno comigo mesmo
na imensurável estação
do combate , sem lamentos.
XXVI
Em tardes que sopram
os ouvidos do vazio
uma voz seca, árida, penetra veloz
deixando chagas, trazendo mágoas
lambendo a face da ilusão
engavetada no ser de externas
marcas.
EFEITO COLATERAL
Eu sentia a poesia
nessa azia
desmedida no âmago
esmagada rebeldia
Sentia que o poeta
não dizia
na leitura do leitor
aquilo que sentia, escrevia
Falar de amor
ou
simplesmente dor
ou
nada disso fosse
ou
se fosse aquilo seria
a mais pura tradução
do que o poeta sentia, escrevia
A via-palavra-poema-poesia
dizia uma coisa
uma coisa dizia outra
outra dizia tudo
Tudo, na linguagem do poeta,
às vezes
quer dizer nada.
HÁ UMA FLORESTA EM MIM
Há uma floresta em mim.
Sim
, há uma floresta em mim
, plantada em meu peito
, bem no fundo
, no fundo mais negro.
Há uma floresta
, densa
, fechada
, úmida e inóspita
no que resta de mim
, onde mariposas em arroubos loucos
pousam e acinzentam
os astros incógnitos da infância.
Há uma floresta em mim
de fria folhagem-faca
, que corta a manhã da saudade...
MEUS OLHOS ÁCIDOS NÃO MENTEM
Meus olhos ácidos não mentem.
As flores sempre perdem
a força bruta da beleza.
A suavidade agridoce
, nas coisas
, há tempos me abandonou.
Agora sou
fruto da escassez
, ciente dos experimentos ocres
das ilusões.
Meus olhos ácidos não mentem.
Nossas vozes distantes
impregnam o ar de lamurialâminas.
A volúvel geometria
, das coisas
, já não perpassa meu olhar alquímico.
Agora sou
caçador de mitos
, desfibrando o inaudível dos abismos...