Dia 9, às 20h, bate-papo com Francisco Gomes

O poeta Francisco Gomes é o convidado para o bate-papo de Entretextos de dezembro. A conversa com os leitores ocorre nesta sexta-feira, às 20h. Para participar, basta clicar no link Conversa de escritor, na página inicial do Portal, na hora programada.

FRANCISCO GOMES (cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior – PI, mas por acidente já plantado do acaso acabou fixando raízes na provinciana Teresina – PI, onde (sobre)vive desde os 7 anos de idade. Apesar de rabiscar alguns versos desde os 12, só apenas mais tarde, através de um concurso de sonetos realizado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI – Campus Clóvis Moura) em 2004, que se apresentou ao público como poeta, sendo o 1º lugar do tal concurso. Em 2008, através do Concurso Novos Autores, recebeu o prêmio Cidade de Teresina pelo livro Poemas Cuaze Sobre Poezias, classificado em 1º lugar na categoria Poesia, publicado em 2011 pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Também em 2011, teve a obra “Conectados” (instalação) selecionada para exposição no 18º Salão de Artes Plásticas do Piauí. Iniciou duas faculdades – História e Letras/Português, abandonou ambas. É autor dos livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC, 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (PENALUX, 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (KAZUÁ, 2016). Também é músico, compositor, letrista e anartista plástico. Tem alguns livros inéditos e outros em construção. É administrador/editor do blog PULSO POESIA (www.franciscogomespoiesis.wordpress.com), onde publica inutilidades poéticas e afins. Tem poemas publicados em sites, blogs, revistas, coletâneas nacionais, jornais, muros etc.

 

Pequena bateria de poemas de Francisco Gomes.

ENRAIZADO

 

Lembrar do tempo presente

– presente esse

que de tão passado foi –

que fica

              indo e voltando

                                        na memória finca.

 

 

PERMANÊNCIA PERENE EM ESTADO DE SER-EM-SI

 

Sofro de flor:

a beleza da cor mora num morro,

lá onde a alma brejeia o silêncio da tarde

(o sol caindo...

vindo agora a saudade...)

 

Todos os dias

pétala por pétala

o tempo despenteia o ser plantado ali:

existência enraizada em si.

 

Só os pássaros norteiam o Aonde

Só o vento traz/leva o Aqui...

 

Sofro de flor:

parado permaneço próximo do pouso

de um passarinho

que acaba de levantar voo...

 

 

 

 

 

LÁPIDE

 

Vou-me ao tempo

Dou-me a mim

 

E as voltas que o vento dá

dá de volta as idas que fui

 

Retorno-me aos meus mortos

com a vivaz sabedoria d’antes

 

Sinto simplesmente o sereno na face

e despeço-me do ontem ao amanhecer o hoje.

 

 

PRIMEIRA LACUNA

 

Seguem as palavras em cascata

no rio dos meus anseios-cataratas

Debaixo d’água

turva vida desalinhada

 

Os olhos de mil e novecentos e noventa e nove

já não propagam o olhar de agora

– esfinge petrificada em perplexas mudanças.

 

Em meu peito ramificam-se ciladas

Em minha íris há o desbotar dos dias

 

No tempo

restam cinzas dos restos

rastros das horas que se seguem...

 

 

OSSOS DO PEIXE-OFÍCIO

 

Meu sentimento de poeta

em meu temp(l)o

é isca pra linguagem

:

ao mesmo tempo que dou linha

sou peixe

fisgado

em anzol de palavras.

 

 

XII

 

                    Os números oxi

                                               dando

                                                         voltas

                    na fuligem das horas:

                    re-tardamento da

                    áurea íris do espanto nos

                    quatro olhos que se olham

                                                              nus.

 

 

XXIV

 

Parto para longe,

de mim permaneço escombros.

 

Meus ombros caídos

, cariadamente corroídos,

sentem o peso das tuas palavras.

Largo, lavro

mas não me livro

do bombardeio, do livro

, imenso calhamaço,

das tuas palatinas porradas.

 

 

 

XXV

 

Os olhos-janelas

voltados pra natureza morta

lautréamonteiam os Qorpos em volta.

 

O céu aveludado violeta dos sonhos

reflete a violência

da ruptura entre

                           permanência instável

                           &

                           espírito de urgência.

Não importa

a coagulação dos tempos,

sou importuno comigo mesmo

na imensurável estação

do combate , sem lamentos.    

 

 

XXVI

 

Em tardes que sopram

os ouvidos do vazio

uma voz seca, árida, penetra veloz

deixando chagas, trazendo mágoas

lambendo a face da ilusão

engavetada no ser de externas

                                                marcas.  

EFEITO COLATERAL

 

Eu sentia a poesia

nessa azia

desmedida no âmago

esmagada rebeldia

 

Sentia que o poeta

não dizia

na leitura do leitor

aquilo que sentia, escrevia

 

Falar de amor

ou

simplesmente dor

ou

nada disso fosse

ou

se fosse aquilo seria

a mais pura tradução

do que o poeta sentia, escrevia

 

A via-palavra-poema-poesia

dizia uma coisa

uma coisa dizia outra

outra dizia tudo

 

Tudo, na linguagem do poeta,

às vezes

quer dizer nada.

 

 

HÁ UMA FLORESTA EM MIM

 

Há uma floresta em mim.

Sim

, há uma floresta em mim

, plantada em meu peito

, bem no fundo

, no fundo mais negro.

 

Há uma floresta

, densa

, fechada

, úmida e inóspita

no que resta de mim

, onde mariposas em arroubos loucos

pousam e acinzentam

os astros incógnitos da infância.

 

Há uma floresta em mim

de fria folhagem-faca

, que corta a manhã da saudade...

 

 

MEUS OLHOS ÁCIDOS NÃO MENTEM

 

Meus olhos ácidos não mentem.

As flores sempre perdem

a força bruta da beleza.

 

A suavidade agridoce

, nas coisas

, há tempos me abandonou.

Agora sou

fruto da escassez

, ciente dos experimentos ocres

das ilusões.

 

Meus olhos ácidos não mentem.

Nossas vozes distantes

impregnam o ar de lamurialâminas.

 

A volúvel geometria

, das coisas

, já não perpassa meu olhar alquímico.

Agora sou

caçador de mitos

, desfibrando o inaudível dos abismos...