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[Bráulio Tavares]

(Décio Pignatari, entre Haroldo e Augusto de Campos)
 
 
A morte de Décio Pignatari (1927-2012) deixa Augusto de Campos como o último sobrevivente (após a morte também de seu irmão Haroldo) da trinca concretista paulistana que realizou aquele fenômeno chamado por um grande jornal, com involuntária propriedade, de “O Rock-and-Roll da Poesia”. O Concretismo foi um movimento literário pra ninguém botar defeito. Teve militantes denodados, adversários de peso, polêmicas explosivas, sempre emergindo à tona ao fim de cada década. Ainda hoje há quem o odeie, porque os “três poetas de Perdizes” eram polemistas capazes de demolir (ou pelo menos trincar) uma reputação literária com um artigo de jornal cheio de provas irrefutáveis, e de reduzir a pó um poema mediante um adjetivo bem encaixado. Arranjaram desafetos pela vida afora. Quando achavam que um texto era uma porcaria diziam isso sem meias palavras.
 
Apesar da imensa contribuição que trouxe para nossa crítica literária e para a teoria poética, o Concretismo tornou-se antipático por causa dessa atitude de “donos da verdade” que os membros da trinca adotavam de vez em quando. Como acontece com quem funda um movimento, eles parecem ter acreditado em algum instante que toda a literatura e toda a poesia do mundo tendiam a se tornar aquilo que eles estavam descobrindo. Todo sujeito que cria uma nova maneira de ver as coisas pensa que está zerando a história do pensamento. Não está.
 
Pignatari tem ensaios brilhantes sobre comunicação, linguagem, jornalismo, poesia, propaganda, etc.  Teve a sorte de realizar seu trabalho intelectual mais maduro durante o florescimento dos cursos universitários de Comunicação, onde sua obra foi muito adotada e estudada – nem sempre com discernimento, é claro, mas a culpa nesses casos nem sempre é do autor. Suas coletâneas de textos (Contracomunicação, Informação. Linguagem. Comunicação, Semiótica & Literatura) são utilíssimas ainda hoje. Neste último, em vários capítulos ele analisa do ponto de vista semiótico a obra de Edgar Allan Poe, mostrando as sonoridades e correspondências ocultas por trás dos nomes dos personagens e das funções estruturais de textos como “O Corvo”, “Berenice”, “A Queda da Casa de Usher”, etc.
 
Pignatari foi uma das grandes mentes modernistas brasileiras, “modernismo” compreendido aqui como um movimento estético típico da cultura industrial, cultura de massa, envolvendo poesia, design, artes gráficas... Um modo de ver a linguagem, e principalmente a poesia, que ajudou a arejar um ambiente literário pomposo e vazio, em que os temas só eram entendidos em seu aspecto sentimental, e a forma poética só era encarada em suas funções ornamentais e exibicionistas.