Nota introdutória:
Prezados leitores; Tendo felizmente encontrado um tempinho para escrever meus textos sem prejuízo de pesquisas que estou fazendo, volto com satisfação a esta coluna com mais uma matéria.

 

De benefícios, malfeitos e malefícios se constrói o país

Cunha e Silva Filho


                        O Brasil – país do futuro - é mesmo surpreendente em tudo, até no que não presta, no que está errado, no que é injusto, no que confunde, no que não dá certo. O país se faz de amálgamas do bem, do mal e do bem e do mal ao mesmo tempo, porquanto o bem para alguns é o mal para outros, e o mal para outros mais é o bem para outros mais. Nessa cadeia de oposições o país se vai desenvolvendo a ponto de ser agora a sétima economia do mundo e o 84º em bem-estar social. 
                        Em todos os aspectos por onde o consideramos, o país se mostra camaleônico, maleável, relativizado. Na política é que mais nitidamente assumimos os contrastes e os confrontos.
O Poder Legislativo, Câmara e Senado, por exemplo, se concedem aumentos salariais sem que haja o aval do Presidente, enquanto o Judiciário, para ganhar salários mais altos, depende da aprovação do Executivo. No extremo, sem voz e nem vez, o funcionalismo público federal fica à mercê do que o Presidente da República, com base na Constituição, determine reajustes, ou seja, fica sujeito à vontade soberana do Chefe da Nação. Este cumpre ou, infringindo a Carta Magna, descumpre qualquer possibilidade neste sentido. Como no país costuma-se copiar o que alguém faz, é bem provável que os empresários não deem reajuste aos seus funcionários, ou, quando o fazem, dão migalhas ao empregado-povão, assim como o prefeito e o governador, acompanhado os passos e as decisões do governo federal, tampouco concedem reajustes aos barnabés.Enquanto isso, o legislativo estadual e os vereadores, tal como os congressistas, usando da força da lei, também são favorecidos com o aumento de seus salários.
                      Ora, país como este melhor não há. Um povo generoso, pacífico, cordato, bem-instruído e com as melhores condições de bem-estar social deste mundo, nada faz, a não ser falar mal de políticos pelas costas, o que significa gastar o latinório à toa. Esta estrutura do Estado brasileiro funciona maravilhosamente, já que o Presidente da República passa por cima da lei e tudo fica por isso mesmo.
                     Em São Paulo, numa determinada rua da capital, numa espécie de letreiro, o impostômetro não cessa de crescer em velocidade da luz, acumulando reais para o Tesouro brasílico. A Casa da Moeda nem deve ficar tão apreensiva com o sinistro de que foi vítima há pouco, pois a dinheirama gigantesca vai certinha para Brasília. 
                     Com a aprovação da DRU, nem se fala, tudo fica por conta dos humores da Chefe da Nação. Vinte por cento do Orçamento para ser destinado a qualquer eventualidade e sem ter que dar explicações ao povo não é – para o governo federal -, algo sem cabimento nem racionalidade. Entretanto, tal ação do governo federal deixa qualquer cidadão brasileiro de orelha em pé. Estas idiossincrasias da administração pública são, por si mesmas, absurdas e carregam em si resquícios de prepotência política e de mandonismo, i.e., ferem a constitucionalidade e integridade moral do governo federal. 
                   Falta ao povo brasileiro amadurecimento político, consciência clara de seus direitos e das obrigações do Estado para com ele. Basta dizer, por exemplo, que, quando ocorre um incidente mais grave, ou mesmo uma tragédia, causados, na maioria das vezes, por má gestão em concessões de serviço público, como linhas férreas, embarcações, rodovias, entre outras, as pessoas comuns, geralmente ignorantes dos seus direitos, nem mesmo sabem a que órgão, a que setor, dirigir suas reclamações ou suas críticas, não sabendo elas tampouco que aquelas concessões foram dadas, por tempo determinado, pelos governos municipal, estadual ou federal. Assim sendo, os reais responsáveis são poupados por mero desconhecimento do povão com respeito ao funcionamento da máquina do Estado. Por isso, choram, praguejam, se desesperam e nenhuma revolta ou indignidade manifestam contra as autoridades. E, desse modo, se vão reelegendo maus prefeitos, governadores, presidentes etc. É disso que vive e se alimenta o Estado brasileiro, conhecedor esperto da ideologia dominante de que se fazem porta-voz invisível.
               No jogo político, no qual quase nunca existe fair play, muito ao contrário, as práticas continuam se aprofundando no sentido de que a chamada a corrupção que se alastra pela pátria brasileira não tem recebido o tratamento correto da parte da Presidente Dilma. Desde o tempo de “malfeitos”, termo que, se não me engano, foi pela primeira vez empregado pela Presidente e, agora, virou moeda corrente no discurso político petista e até não petista, da era Lula, culminando com o famigerado “Escândalo do Mensalão” e continuado de certa forma pelas denúncias de corrupção no alto escalão do atual governo, o que se viu de Lula e tem se visto de Dilma é uma espécie de refutação dos constantes “malfeitos” fecundados por alguns membros no corpo político do governo federal. Inclusive, como agravante, é o fato de afirmações da Presidente em defesa de seus ministros e de seus ex-ministros expurgados de suas funções não pela vontade dela e sim, conforme dizem os jornais, pela pressão da imprensa.
             O que não se concebe como iniciativa do governo federal é permitir que preços de diversos itens, incluindo produtos alimentícios e farmacêuticos, sejam majorados e não cessem de crescer sem que os salários do funcionalismo público se recomponham por aumentos salariais anuais, quer dizer, os aumentos sucessivos vão minando os salários, arrochando-os como se vivêssemos com sérios problemas de caixa. Os cofres do Tesouro estão abarrotados de dinheiro e não será um pequeno reajuste salarial anual, para compensar as perdas da inflação, que nos levará à bancarrota de países europeus, cujas crises foram provocadas pelos desmandos dos próprios países, seja nos EUA, seja na Europa.