[Flávio Bittencourt]

Crítica de Rubens Ewald Filho sobre o Tintim de Spielberg

Ele não lia Tintim, mas sabe bem fazer resenhas de filmes novos.

 

 

 

 

 

 

"SINCERAMENTE, ACHO QUE EU NASCI NUMA GALÁXIA E RUBENS EWALD FILHO EM OUTRA: ele não lia Tintim quando era pequeno, adolescente e adulto"

(O RESPONSÁVEL POR ESTA COLUNA "Recontando...")

 

 

 

27.1.2011 - Rubens Ewald Filho não lia Tintim quando era pequeno, adolescente e adulto, mas sabe bem fazer resenhas de filmes novos - Mas por que Rubens Ewald Filho não lia Tintim? Esse é um mistério que nem Tintim, nem Haddock, nem o Professor Girassol - e nem mesmo os investigadores Dupont e Dupond - poderão resolver.  (MILU, O CÃOZINHO DE TINTIM [que Rubens Ewald Filho chama de "Snowby", haja vista que ele, Ewald Filho, não lia Tintim] SABE A RAZÃO, MAS NÃO FALA, UMA VEZ QUE, NO FILME, ELE - Milu, o cãozinho branco de Tintim - APENAS PODE FICAR LATINDO: SÓ QUEM PODE SABER O QUE MILU ESTÁ DIZENDO OU PENSANDO É O LEITOR DE ESTÓRIAS EM QUADRINHOS, esse ser privilegiado.)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

RUBENS EWALD FILHO

ESCREVEU:

 

"19 janeiro 2012 às 06:00

Estreia: As Aventuras de Tintim – O Segredo do Unicórnio

As Aventuras de Tintim: O Segredo do  Unicórnio/The Adventures of Tintin. EUA 11.

Direção de Steven Spielberg. Produção de Spielberg e Peter Jackson.

Com as vozes originais (e imagens como modelo) de Andy Serkis, Jamie Bell, Daniel Craig, Simon Pegg.

tintin2 Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

Nunca fui leitor dos quadrinhos do Tintim, tentei, mas não consegui embarcar neles (apesar de ter muitos amigos que cresceram com eles e são fanáticos). Acho que pulei diretamente das revistinhas do Pato Donald para Charles Dickens.

Na verdade, sempre achei que a palavra TinTin (em francês se diz TanTan) era a origem da gíria velha que se usava para dizer que alguém estava ruim da cabeça! Como se sabe, o personagem não é nada famoso nos EUA e por isso mesmo o filme estreou antes na Europa, onde é muito popular (nos EUA, está perto dos US$ 60 milhões e ganhou o Globo de Ouro de melhor animação).

tintin Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

Sabe-se que o autor, Hergé, sempre quis que Spielberg fizesse a versão oficial do filme, mas morreu antes deste conseguir dar vida ao projeto. Mesmo porque este quis usar a técnica atual de Capture Performance, a La Avatar (ou seja, usando atores para modelo e registro de impressões de forma a manter o rosto e aspecto dos personagens no original).

Conferindo com os livros de Hergé dá para perceber que houve realmente um grande esforço em seguir fielmente a trama original. Mas naturalmente tornando principalmente do meio para o fim tudo mais espetacular, visualmente mais rico, mais movimentado. Numa palavra mais 3D.

tintin6 Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

É bom explicar que originalmente Spielberg iria fazer uma versão tradicional com atores e Peter Jackson iria ajudar com sua produtora de efeitos, a Weta Digita em particular com a invenção do cão aqui chamado de Snowby (que é o grande alívio cômico do filme e continua a ser em CGI). Mas Jackson era também fã de  Tintim e convenceu Spielberg a usar a motion capture.

A parte com atores foi feita em 32 dias com o próprio diretor utilizando a câmera digital e Peter Jackson aprovando a parte técnica da Nova Zelândia (só na primeira semana pode estar nos EUA). Spielberg queria que o filme tivesse atmosfera e por vezes fosse sombrio (sem deixar sempre de lembrar Os Caçadores da Arca Perdida, que estreou há exatamente 30 anos).

tintin4 Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

Francamente eu prefiro o Spielberg deste Tintim ao sentimentalóide e antiquado Cavalo de Guerra. A crítica Isabela Boscov cobrou do filme mais alma, mais emoção e tem certa razão, o filme é frio, e em momento nenhum Spielberg o autor. Aqui temos o Spielberg técnico, experimentando novos recursos (esta foi também a primeira vez em que ele editou um filme por  técnicas digitais, já que antes insistia em trabalhar com a película e mesmo moviolas).

Tentem olhar o filme tecnicamente e vocês ficarão abismados com os movimentos de câmera, os travellings, os cortes inspirados, a própria direção de arte, ou desenho de produção. Ele parece ter prazer em deitar e rolar com a maneira de contar a historia, que logicamente fica muito mais moderna e espetacular que nos quadrinhos.

tintin1 Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

Por causa disso, os personagens são pouco humanos e verossímeis e por vezes caem literalmente na farsa, no circo. Até porque Tintim não é muito expressivo e em momento nenhum tem uma vida familiar própria, vive para a aventura, com pouco senso de humor.

E mesmo o capitão e os próprios vilões não são especialmente interessantes. Mas isso já é por conta de Hergé que Spielberg procurou respeitar inteiramente, só atualizando as fugas, os combates dos piratas, as perseguições  de carro, a mansão museu que ficou meio mal assombrada.

tintin5 Estreia: <i>As Aventuras de Tintim   O Segredo do  Unicórnio</i>

O resultado é bonito, divertido de assistir, mas realmente um pouco vazio, respeitoso demais. Acho mais fácil agradar os que já eram fãs do Tintim do que angariar novos.  Num ano em que os filmes de animação estiveram com média baixa, é possível que realmente leve o Oscar.

Quem é Tintim?

 

Em francês se fala “TanTan” e  por isso sempre me perguntei se essa é  a origem da expressão gíria antiga aqui no Brasil que chamava alguém de louco como “tãntã”. Será? De qualquer forma esta pesquisa/matéria de nosso amigo e colaborador Adilson Carvalho Santos traz muitas respostas.

 

O Universo de Tintim

Ninguém duvida do fascínio da cultura pop pelos super-heróis das histórias em quadrinhos, mas em meio a mutantes, morcegos e deuses nórdicos, esta possível “nona arte” sempre teve uma dimensão ocupada por outros personagens desprovidos de poderes extraordinários, mas ricos em seu poder de encantar e divertir gerações. Assim é o repórter Tintim, criação do belga Hergé. Em suas aventuras, Tintim viaja para várias partes do mundo e se envolve em caças a tesouro, conspirações e mistérios, conhecendo novos processos e novas culturas. Apesar de bem intencionado, comete erros, mas sempre se sai bem.

Tintim foi publicado pela primeira vez em 10 de janeiro de 1929, em preto e branco, no suplemento infantil Le Petit Vingtiéme, do jornal católico Le Vingtiéme Siécle. A história Tintin au pays des Soviets (Tintim no País dos Sovietes) mostrava o bravo repórter – sempre acompanhado de seu fiel cão Milú, um fox terrier branco – enviado à Rússia para fazer uma reportagem sobre a vida em um país comunista e enfrentando uma série de dificuldades por conta da polícia soviética, que não desejava ver seu país exposto para o mundo ocidental.

Segundo o documentário Tintin e eu (Tintin et moi), de 2003, o diretor do jornal para o qual Hergé trabalhava o estimulou a criar a história por ser ferrenho crítico do regime comunista. Essa visão da Rússia como império do mal está presente em várias passagens de Tintim no País dos Soviets, como por exemplo, ao mostrar oficiais soviéticos coagindo a população de um vilarejo a votar no partido comunista, e crianças sendo maltratadas. Hergé nunca visitou a Rússia e para escrever pesquisou no livro Moscou sans voiles, de Joseph Douillet, cônsul belga que trabalhou na Rússia. No ano seguinte, a aventura foi publicada como álbum, sendo somente reeditada em 1973 devido ao desagrado de Hergé com seu espírito deliberadamente anti-comunista.

Para os álbuns seguintes, Hergé continuou publicando as aventuras de Tintim em suplementos de jornais, reunindo-as depois no formato de álbum a cores. Em 1942, o editor Casterman decidiu que os livros álbuns deveriam ser coloridos e terem sempre 62 páginas (Hergé então colorizou, digamos assim, oito das aventuras existentes nesse formato).

Os coadjuvantes :

Hergé também desenvolveu um elenco de coadjuvantes para atuar ao lado de Tintim em suas aventuras: desses citados, apenas os dois primeiros aparecem neste filme de Spielberg.

- Capitão Haddock: marujo rabugento, mas de grande caráter que se torna grande amigo de Tintim. Aparece pela primeira vez em Le crabe aux pinces d'or (O Caranguejo das Pinças de Ouro), nono álbum de Tintim publicado em 1941;

- Dupont & Dupond: dois detetives atrapalhados e que parecem gêmeos. Na verdade não são nem sequer irmãos e só podem ser diferenciados pela forma do bigode.

- Professor Girassol: um cientista meio surdo e que por conta disso causa alguma confusão para Tintim. Surgiu pela primeira vez em Le trésor de Rackham le Rouge (O Tesouro de Rackham, o Terrível) de 1944.

- Bianca Castafiori: cantora de ópera e outra personagem a causar confusão nas aventuras de Tintim, já que gosta de cantar em momentos nada oportunos irritando sempre o Capitão Haddock, mas balançando o coração do apaixonado Professor Girassol. Surgiu pela primeira vez em Le sceptre d'Ottokar (O Cetro de Ottokar), de 1939.

Mais Polêmicas

 

A polêmica voltou a cercar a obra de Hergé em 1931 no segundo álbum Tintin au Congo (Tintim no Congo). Na ocasião, o Congo era colônia da Bélgica e Hergé nunca havia estado lá. Assim como ocorrera com a primeira aventura de Tintim, Hergé não teve a felicidade de se basear em fontes de pesquisa confiáveis e o resultado foi mais uma vez uma visão estereotipada e preconceituosa. O autor foi criticado pela forma como retratou os negros africanos e Hergé redesenhou várias passagens quando a republicou em 1946.

Tais incidentes não apagaram o valor de Tintim, suas histórias mesclando elementos de fantasia e mistério (Tintim se envolve em caça de tesouros em O Segredo do Licorne que é Unicórnio, em francês, e daí o título do filme), ficção científica (Tintim viaja a lua em Explorando a Lua, este publicado em 1954, mais de dez anos antes da bem-sucedida missão da Apollo 11) funcionam como retratos político-culturais de uma época.

Seus desenhos, apesar de simples nas feições dos personagens, possuem riqueza nos detalhes dos cenários e cores que as fazem parecer cenas de filmes, com a ação se desenrolando de tal forma que parecem ter vida, o que encantou diversas pessoas como os próprios Steven Spielberg e Peter Jackson, co-produtores deste longa. Os próprios Spielberg e Jackson comparam as páginas de Tintim a storyboards dada a forma da narrativa de Hergé. Para o filme eles buscaram o material nos álbuns O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham, o Terrível respectivamente os 11º e 12º álbuns.

Quem foi Hergé?

Hergé, pseudônimo de Georges Prosper Remi, nasceu em Etterbeek, Bélgica em 22 de Maio de 1907. Foi escritor e desenhista de sucesso tendo estudado no colégio Saint-Boniface, em Bruxelas. Começou a publicar seus desenhos na revista escolar “Jamais Assez” em 1921. Ao entrar para o jornal católico “Le Vingtiéme Siécle” em 1925, começou trabalhando no departamento de assinaturas, mas deixou o emprego quando foi servir ao exército.

Depois de dar baixa, retornou a Bruxelas em 1928 e ao “Le Vingtiéme Siécle” no cargo de editor-chefe do suplemento “Le Petit Vingtiéme”, voltado para o público infantil, onde criou Tintim no ano seguinte. Apesar da fama e do reconhecimento alcançado pelo sucesso de Tintim, Hergé criou outras séries como os meninos Fred & Mile de 1931 para o jornal católico Mon Avenir, Monsieur Bellum publicado em 1939 no jornal L'Ouest mostrando um homem acovardado e estúpido em atitudes anti-nazistas entre outros, mas nenhum deles teve a projeção de Tintim.

Durante o conturbado período da Segunda Guerra em que a Bélgica foi ocupada por tropas nazistas, Hergé teve que adiar a publicação de Tintin au pays de l'or noir (Tintim no País do Ouro Negro), que só veio à luz do dia em 1950. É nesse período, contudo, que Hergé lança A Estrela Misteriosa, O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham publicadas no jornal Le Soir, que era controlado pelos nazistas, o que o fez ser acusado de ser colaborador dos nazistas. Ao todo foram produzidos 23 albúns de Tintim até 3 de março de 1983, quando Hergé faleceu enquanto esboçava Tintin et l'Alph'Art que seria o 24º álbum.

 

As Adaptações

A primeira adaptação de Tintim foi uma animação em stop-motion lançada em 1947 com produção de Wilfried Bouchery e tendo como fonte o álbum O Caranguejo das Pinças de Ouro (1941). A produção, no entanto, passou por problemas financeiros e embora tenha sido finalizada, levou seu produtor a falência e a versão original em francês ficou perdida durante muitos anos até ser encontrada e levada ao Cinèmathéque Royale da Bélgica.

Dez anos depois, a TV francesa produziu Les Aventures de Tintim, seriado para a TV que durou oito episódios. Somente em 1961, Tintim ganhou sua primeira versão live-action entitulada Tintin et le mystère de la Toison d'Or, dirigida por Jean Jacques Viernes tendo Jean Pierre Talbot, de 18 anos, no papel de Tintim, Georges Wilson como Capitão Haddock e Georges Loriot como Professor Girassol.

Em 1964, Talbot repete o papel em Tintin et les oranges bleues, com direção de Philippe Condroyer, trazendo Jean Bouise como Capitão Haddock, Felix Fernández como Professor Girassol, além de Franky François e André Marié como os desastrados Dupont e Dupond.

Houveram ainda mais duas animações dignas de nota na França: Le Temple du soleil, de 1969, e Tintim ET Le lac aux requins, de 1972, antes da bem-sucedida série animada franco-canadense The Adventures of Tintim, realizada entre 1991 e 1992, que chegou a ser exibida no Brasil pelo Cartoon Network e Canal Futura. Essa animação de qualidade respeitou não apenas o traço de Hergé como seguiu os álbuns do personagem dividindo a maioria das histórias em partes I e II de forma a explorar melhor os roteiros e desenhos, que apesar de simples nas feições dos personagens, possuem riqueza nos detalhes dos cenários e cores que as fazem parecer cenas de filmes,  com a ação se desenrolando de tal forma que parecem ter vida, o que encantou diversas pessoas como os próprios Steven Spielberg e Peter Jackson, realizadores de As Aventuras de Tintim. Os próprios Spielberg e Jackson comparam as páginas de Tintim a storyboards dada a forma da narrativa de Hergé. Para o filme eles buscaram o material nos álbuns O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham, o Terrível, respectivamente os 11º e 12º álbuns.

Trivia

- O pseudônimo Hergé vem das iniciais de Remi Georges, seu nome de trás para frente e passou a ser usado desde 1924,

- Assim como Hithcock em seus filmes, Hergé em forma de desenho animado pode ser visto na animação produzida pela Nelvana entre 1991 e 1993.  Na terceira temporada, por exemplo, no episódio Perdidos no mar, a figura de Hergé aparece cruzando o saguão do Hotel Excelsior enquanto Tintim e o Capitão Haddock são atendidos na recepção. Em outros episódios há novas aparições de Hergé a la Hithcock.

- Jean Pierre Talbot, que interpretou Tintim no cinema em 1961 e 1964, não seguiu carreira artística, para se tornar professor. Hoje já está aposentado.

- Apesar da semelhança física, os hilários detetives Dupont e Dupond não são gêmeos como muitos pensam. Assim afirma o site oficial de Tintim, mantido pela Fundação Hergé, que foi criado pela esposa do desenhista após sua morte.

- Tintim já obteve o reconhecimento internacional (teve seu rosto estampado em selos, foi retratado pelo famoso artista Andy Warhol, foi eternizado em forma de estátua de bronze) já foi premiado várias vezes (Adamson Awards, Suécia em 1971, Harvey Award Hall of Fame em 2003 entre outros), sendo Hergé (de acordo com a UNESCO)  o nono autor mais traduzido em língua francesa. Nunca fez sucesso nos EUA e por isso Spielberg usou a estratégia de estrear o filme antes na Europa e so no fim do ano nos Estados Unidos, onde tem tido conforme o esperado uma bilheteria fraca."

(http://noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho/2012/01/19/estreia-as-aventuras-de-tintim-o-segredo-do-unicornio/)