[Maria do Rosário Pedreira]

Sim, vai ser precisa coragem, porque estamos a falar de 850 páginas de letra miudinha. Mas dizem que Vida e Destino, de Vassili Grossman, traduzido por Nina e Filipe Guerra, é uma espécie de segunda Guerra e Paz (ainda só o farejei). O tempo da acção é, porém, o da Segunda Guerra Mundial, e a narrativa dos horrores a que a alma humana consegue chegar não se fica pela Alemanha – o país normalmente evocado nas ficções sobre o tema –, estendendo-se desta feita também à Sibéria (quase apetece dizer que um mal nunca vem só) para criticar o anti-semitismo do regime estalinista. No centro deste romance épico – que o KGB confiscou em 1961 e fez desaparecer durante vinte anos, tendo sido publicado em 1980 na Suíça e só em 1988 na pátria do escritor – está uma família da classe média que a vida e o destino dispersou entre o país em que hoje manda a senhora Merkel e a o país em que hoje manda Putin. Mas as personagens são muitíssimas e, entre elas, não faltam os responsáveis pelo Inferno, Hitler e Estaline. É a primeira vez que a tradução do original russo é publicada em Portugal e exige bom estômago e bons olhos