Cora Coralina é debatida nos EUA

Gustavo Chacra - da Agência Estado

Uma homenagem para a poetisa Cora Coralina foi realizada, quarta-feira, 25, em Nova York. Os trabalhos da autora goiana, que morreu em 1985, fizeram parte de apresentações e debates no Brazilian Endowment for the Arts em Manhattan em um projeto para difundir a literatura brasileira nos Estados Unidos.

"Dedicaremos este ano à apresentação de escritoras brasileiras para o público americano. Tivemos a Cecília Meireles. Este mês, homenagearemos Cora Coralina. Depois será a vez da Clarice Lispector, que é muito respeitada nos Estados Unidos, e da Nísia Floresta", disse a professora Lisa Papi, responsável pela organização do evento, intitulado Quartas Literárias.

Nesses encontros mensais, escritores, jornalistas e poetas brasileiros com base em Nova York e acadêmicos de universidades como a Columbia, NYU e Cuny se reúnem para discutir os trabalhos de literatura do Brasil. O evento é aberto ao público, que costuma lotar a biblioteca da fundação. Os participantes, apesar de muitas vezes norte-americanos ou de outras nacionalidades, precisam falar português.

"Tudo surgiu a partir da necessidade de pessoas que vivem em Nova York e gostam de literatura brasileira. Em 1999, fundamos a Ubeny (União Brasileira dos Escritores de Nova York) no restaurante Via Brasil, na Rua 46. Em seguida, começamos a organizar reuniões na minha casa e, posteriormente, no Consulado do Brasil", explica o professor Domício Coutinho, presidente do Brazilian Endowment for the Arts.

Além das reuniões literárias, começou a ser construída uma biblioteca. Com o tempo, segundo Coutinho, eles acharam melhor se mudar para um local exclusivamente para as reuniões e para o acervo, atualmente com 4 mil obras.
 

Em 2004, o Brazilian Endowment for the Arts foi oficialmente criado e hoje se localiza na Rua 52, a seis quarteirões da tradicional Little Brazil, na 46, conhecida por ter sido no passado o símbolo dos brasileiros em Nova York em décadas passadas - hoje a concentração de brasileiros é maior no bairro de Astoria, no Queens.

Coutinho é um dos brasileiros vivendo há mais tempo nos Estados Unidos. Ele desembarcou em Nova York em 1959 para passar uma semana. Como era religioso, tendo estudado em seminário da Itália, decidiu ir se confessar em uma igreja de Manhattan e contou seu pecado em latim para o padre americano. Este imediatamente o contratou como sacristão e, 53 anos depois, Coutinho permanece em Nova York.

"Hoje podemos organizar um evento sobre a Cora Coralina e comparecem dezenas de brasileiros. Mas nem sempre foi assim. Antigamente, ficávamos emocionados e atravessávamos a rua para dar um abraço quando víamos alguém do Brasil. Éramos poucos e vivíamos em áreas com mexicanos, dominicanos e porto-riquenhos", relembra o professor.

"Não tínhamos acesso a muitas notícias do Brasil. Dependíamos do pessoal da manutenção dos aviões, que nos traziam revistas, o Cruzeiro, a Manchete, o Estado. Todos nos reuníamos para conversar no Hotel Diplomat, perto do Times Square", acrescenta Coutinho