Conversa virtual sobre literatura e teologia

DIÁRIO

[Conversa virtual sobre literatura e teologia]

Elmar Carvalho

05/10/2020

Por estar um pouco indisposto, ou seja, com um pouco de preguiça para escrever, vou aproveitar para o registro diarístico de hoje o que conversei por WhatsApp com o poeta e juiz Weliton Carvalho, maranhense de Santa Inês/Bacabal, mas radicado em Timon, em cuja Comarca trabalha, e em Teresina, onde mora e leciona (UFPI). Farei apenas pequena revisão ortográfica e gramatical, bem como corrigirei, se for o caso, eventuais e evidentes erros materiais. Também farei pequenas intervenções, para que as falas fiquem alinhavadas, e não soltas, e, se houver necessidade, adicionarei algum esclarecimento. Deixemos de delongas, e passemos à conversa, ocorrida no dia 4, domingo:

Weliton Carvalho: “Elmar, uma coisa que gosto na sua poesia são as imagens inesperadas....aqui o vídeo como quer ler o poema. Muito legal. Meu irmão, a gente que vem do interior carrega a poesia nas coisas mais simples e verdadeiras. Coisas que só se encontram na província...” Ele comentava o vídeo Barras das Sete Barras, editado pelo poeta Claucio Ciarlini, com imagens colhidas na web, e que se encontra disponível no You Tube. No videoclipe eu leio o poema de igual título.

Por áudio, que não irei transcrever, elogiei uma leitura que ele fez de seu poema Chico (que se encontra postado no site https://www.welitoncarvalho.com.br), em homenagem a São Francisco, ao papa Francisco e a todos os Chicos, tendo ele me respondido o seguinte:

“Obrigado. Não costumo ler ou declamar meus poemas. Mas abri uma exceção ao Chico. Sou devoto do Santo e de sua linhagem...Padre Pio, Dom Helder....É um poema verdadeiro...a verdade é  aquilo que elegemos como matriz de vida. A verdade é sempre uma convenção. A única verdade possível é Cristo...então a verdade só habita na teologia. Paz e Bem.”

Weliton não disse, mas digo eu: há Chicos e Chicos; há Chicos que pela vaidade, ostentação e empáfia não têm nada de Chico. São na verdade anti-Chicos. No máximo se prestam a um bom fu-xico, já que existem Chicos que preferem grafar o apelido com X, não sei se em busca de originalidade ou de economia.

Ainda me referindo ao vídeo, esclareci: “Acho que o meu depoimento lírico-afetivo sobre Barras, que já lhe mandei, explica um pouco o poema. Você é um bom observador. Poderia escrever, se o desejasse, bons textos de crítica literária. Bom domingo.” Por oportuno, informo que esse depoimento pode ser encontrado no You Tube, fazendo parte da série Tributo à cidade natal, organizada pelo poeta e professor Dílson Lages Monteiro.

Weliton Carvalho: “Amigo Elmar, não digo isso a todo mundo... mas confesso que os escritores de ficção e, sobretudo, os poetas, mesmo quando ateus ou agnósticos, estão sempre a serviço de Deus, exatamente por espalharem beleza pelo mundo. Ninguém chega a Deus sem sensibilidade. A arte, sobretudo a arquitetura e a pintura foram as maiores aliadas do cristianismo. Penso portanto: o poeta é o mais profundo testemunho de Deus, ainda quando o tente negar.”

Em outra postagem, Weliton Carvalho acrescentou: “Vou lhe dar um exemplo: Drummond era agnóstico. Escreve o poema Consolo na praia. Um alemão decidido a se suicidar lê o poema e desiste. Escreve a Drummond narrando o fato. Veja a força da poesia. A poesia não tem uma finalidade prática imediata a não ser a de comover. E, às vezes, comover é tudo do que se precisa.”

Na minha resposta em áudio, eu disse que às vezes eu leio um pouco de teologia, em busca de Deus ou de tentar me aproximar mais Dele. Falei também que em meus momentos de dificuldades, gosto de fazer leituras edificantes, para o meu fortalecimento espiritual. Acrescentei que com esse mesmo objetivo, faço uso dos livros bíblicos Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria e Jó. Aduzi que em busca de tentar melhor conhecer o Supremo Criador, li a obra Quem é Deus – elementos de teologia filosófica, de Battista Mondin, que pretendo reler, tendo ele me dito “vou adquirir a obra indicada”.

Complementei o que havia dito a seu respeito: “É um livro muito interessante e profundo, mas sem ser sibilino ou hermético. Felizmente para mim, tenho o consolo da Fé, e dentro do possível e sem fanatismo tento me ligar em Deus, tento sentir a sua inefável presença, e, às vezes, a sinto através de um sutil toque de brisa ou de um harmonioso voo de pássaro. Em meus momentos difíceis, orei e sempre tive resposta e a resolução do problema que me afligia, muitas vezes da maneira mais simples e inesperada, mas sempre eficaz.”

Posteriormente, comentei o que ele falara sobre Drummond: Acrescento, com relação ao que você disse, que Drummond foi um homem ético e correto, como ser humano e como funcionário público. Machado de Assis também era agnóstico, mas a Bíblia era sua leitura constante. E também foi um homem bom.

O caro amigo e poeta Weliton Carvalho concordou comigo: “Caro amigo, o fanatismo religioso é, em essência, a negação de Deus, exatamente por se estribar na intolerância. Pois é... e tanto Drummond quanto Machado, sem esta intenção, apontaram os nossos erros... os erros dos cristãos em contradição com Cristo. A literatura tem também este papel de apontar contradições... Saudades suas, porque o seu papo seduz tanto quanto os Cânticos.... kkk. Ótimo domingo.”

Honrado com as suas palavras, mas também por ser de justiça, dei a seguinte resposta, com a qual encerro esta crônica feita a duas ou quatro mãos, conforme o leitor entenda que para escrever utilizemos apenas uma ou duas mãos: “Vou incluí-lo em minha Seleta Piauiense, espécie de antologia virtual que venho construindo em nosso blog há alguns anos. Para isso, peço que me mande seu ano de nascimento. A seleta segue a ordem cronológica de nascimento dos antologiados. E vai fazendo o rodízio nas publicações subsequentes.”

O poeta e magistrado me mandou a data de seu nascimento, e eu lhe informei que a Seleta Piauiense é publicada aos domingos, com uma ou outra eventual falha, que ninguém é de ferro, notadamente nestes tempos de pandemia.