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 Sobre as emoções tenho curiosidade. Sobre os fatos, quaisquer que venham a ser, não tenho curiosidade alguma.

Fernando Pessoa

Os vilões da saúde vêm e vão ao sabor dos resultados das pesquisas. Uma vez o café foi considerado prejudicial porque funcionava como um estimulante, provocando insônia, gastrite e até o aumento do número de infartos. Hoje já se sabe que o café não é esse monstro. Ao contrário. Em doses moderadas a cafeína possui uma grande variedade de minerais, aminoácidos, lipídeos, açúcares, ácidos clorogênicos (agindo como antioxidante) e, ainda, um potencial poder antibacteriano e antiviral.

E, assim como o café, tantos outros “monstros” foram redimidos ao longo do tempo. O ovo foi um deles, o vinho outro e agora é a vez do facebook.

Pesquisas anteriores[1] atestaram que as pessoas, ao verem as postagens de seus amigos, sentiam um grande mal estar, passando por emoções que iam da amarga inveja até a escura raiva. Segundo essas mesmas pesquisas, as emoções seriam tão intensas que poderiam, inclusive, provocar depressão.

Estudos mais recentes, no entanto, declaram que o facebook não é tão malévolo como se pensava. Na verdade, ele seria responsável por despertar emoções negativas e positivas em igual medida, dependendo do que é postado. Assim, as postagens funcionariam como uma espécie de vírus que, quando disseminado na rede, se espalharia para todos aqueles que estão compartilhando o mesmo feed de notícias.

Essa constatação resulta de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cornell. Nessa investigação analisaram-se feeds de 698.003 usuários do facebook, selecionados aleatoriamente. Primeiro foram excluídas as histórias positivas e em seguida as negativas. O objetivo era observar como os usuários se comportavam emocionalmente diante das novas atualizações.

Aqueles usuários que tiveram as notícias positivas reduzidas começaram a utilizar expressões mais negativas em suas atualizações de status, enquanto os que tiveram algumas das notícias negativas excluídas se comportaram de forma oposta. Com esses resultados, os cientistas de Cornell tentaram demonstrar que as redes sociais estão mais próximas do mundo real do que se imagina. Do mesmo modo que somos influenciados (positiva ou negativamente) pelas pessoas “reais” com as quais interagimos no dia-a-dia, também podemos sentir essa influência quando estabelecemos relações com o mundo virtual.

Poder-se-ia, então, dizer que a internet, com suas redes sociais, é um reflexo no que ocorre no universo real?

Os pesquisadores ainda não têm uma resposta para essa questão; no entanto, confirmam que, de alguma maneira, as pessoas reagem emocionalmente ao conteúdo que observam nas redes sociais.

Assim, enquanto a pesquisa de um ano atrás dava conta de que a inveja era um dos sentimentos predominantes entre os usuários do facebook, o estudo atual declara que as pessoas são suscetíveis a emoções positivas e negativas, dependendo do que veem no seu feed de notícias. Essa última pesquisa chega a afirmar que os indivíduos que foram expostos a menos “postagens emocionais” foram se retirando da rede, tornando-se menos expressivos nos dias seguintes[2].

É claro que nada impede que daqui a alguns anos outras pesquisas surjam para explicar o comportamento humano diante desse fenômeno social chamado facebook. De qualquer maneira, o fato é que milhões de indivíduos usam essa ferramenta diariamente. Alguns de forma saudável, como um meio de compartilhamento de informação ou de amizades; outros, de uma maneira obsessiva-compulsiva que os torna completamente dependentes dela. Por outro lado, não se pode ignorar que fazer parte de uma “comunidade” como o facebook desperta emoções. E o objeto de estudo de muitas dessas pesquisas é, justamente, a forma como essas emoções estão sendo despertadas.

De minha parte, continuo sendo uma entusiasta do facebook, mas como costuma aparecer nas propagandas de bebida, “consumo com moderação”. Além disso, acredito que invejosos existem independentemente da internet, assim como tímidos, preconceituosos e os incrivelmente chatos. O facebook tornou-se apenas mais um ambiente onde eles podem se propagar. Se vamos ou não ser contagiados, depende só de nós. E não esqueça que, ao contrário de um colega ou parente próximo, com o qual você se vê obrigado a conviver, no facebook pode-se bloquear e excluir todo aquele que não é digno de ser considerado um “amigo”. Afinal, enquanto família, muitas vezes, é uma obrigação pesada e desagradável, fazer parte de uma rede social sempre foi e, acredito, sempre será, uma escolha pessoal.



[1] Ver o texto “Inveja Virtual”: http://www.partes.com.br/2013/04/03/inveja-virtual/

[2] Os resultados completos do estudo "Evidência Experimental de Contágio Emocional em Escala Massiva por Meio das Redes Sociais" serão publicados no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.