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[Bráulio Tavares]

Ele foi um dos atores mais característicos do Expressionismo Alemão dos anos 1920-30, com seu rosto longo, feições salientes, olhar magnético. O crítico David Thomson o descreveu como “o mais sensível e mais romanticamente belo dos atores expressionistas alemães”, e elogiou sua capacidade de encarnar na tela “o esteta ou artista atormentado por forças obscuras e levado à violência”.  Seu primeiro grande papel foi o do sonâmbulo Cesare em O Gabinete do dr. Caligari (1919) de Robert Wiene: o homem alto, pálido, vestido de preto, que adormecido cruza os telhados levando nos braços a mocinha desmaiada. Cesare virou o modelo de inúmeros outros heróis “dark” do filme de terror, e muitos Dráculas, Frankensteins e Múmias guardam elementos de sua aparência ou de seus movimentos sonambúlicos. Críticos como Kracauer e Eisner viram nele uma alegoria do povo alemão, inconsciente de si mesmo, teleguiado pelo poder da mente de um gênio do Mal.

 
Em 1926 ele fez o protagonista de O Estudante de Praga de Henrik Galeen, o mesmo Estudante que Vendeu a Alma ao Diabo do folheto de João Martins de Athayde. Outro papel marcante foi o de O Homem que Ri (Paul Leni, 1927), baseado em um romance homônimo de Victor Hugo (1869), onde Veidt faz o nobre francês cujo rosto é desfigurado por uma ordem vingativa do rei. O personagem, com o rosto retalhado e recosturado num esgar que parece uma risada, é considerado a primeira inspiração para o Coringa, adversário de Batman, interpretado depois no cinema por Jack Nicholson, Heath Ledger e outros.
 
Veidt ainda faria um personagem com ramificações memoráveis no cinema: o grão-vizir Jafar em O Ladrão de Baghdad (1940) de Michael Powell e Alexander Korda. Com bigodes orientais e um fulgor malévolo nos olhos, o seu Jafar serviu de inspiração para o vilão homônimo do desenho Aladim da Disney.  Sua última aparição importante na tela foi como o oficial nazista que inferniza a vida de Rick Blaine em Casablanca (1942) de Michael Curtiz.
 
Anti-nazista a vida inteira, Veidt tinha um contrato em Hollywood estabelecendo que só faria papéis de alemães se o personagem fosse um vilão. Seu rosto era como o de Greta Garbo: tinha uma expressão que nada revelava do que lhe ia por dentro, mas que aceitava qualquer projeção subjetiva de platéia. Nunca chegou à fama de Vincent Price, Peter Lorre ou Christopher Lee, mas foi uma presença marcante da história do cinema de terror.  Tornou-se a matriz de vilões tão diferenciados que muitas pessoas assistiram Caligari, O Homem Que Ri, Thief of Baghdad, Casablanca, etc., e nunca perceberam que se tratava do mesmo ator por trás daqueles papéis