É provável que essa estranha confusão de sentimentos e sensações que me têm advindo, ultimamente, notadamente, em decorrência do caso do jovem atleta do flamengo, esteja, do mesmo modo, incomodando muita gente. No meu caso, devo dizer, esse tema ocupou considerável espaço na memória e se incorporou ao rol das minhas tristes lamentações.
     Sempre que retomo o feedback dessa história – por que ela teria ido tão longe? -, assoma em mim um sem-fim de perguntas, para as quais há respostas viáveis, lógicas e até fáceis de serem obtidas, mas que foram ignoradas, dispensadas ou, sequer buscadas. Uma das possíveis, da qual ouso não crer que o jogador haja lançado mão para justificar as atitudes que o fizeram chegar aonde chegou, seria a certeza da impunidade que, não raro, leva algumas pessoas, partícipes ou autoras de algum crime, por razões diversas, a se imaginarem ilesas de serem alcançadas pela lei e pela Justiça. Nego-me a pensar que ele, envolvido nas sandices que, desde que a mídia começou sua intensa exploração, converteram-se em exemplos de crimes hediondos, tenha imaginado que se safaria, impunemente.
     É lugar-comum afirmar que não é fácil fazer julgamentos; todavia, é fato que, em razão de sermos indivíduos humanos falíveis, porém, inteligentes, também somos críticos; por isso, acho que ao atleta faltou discernimento, preparo psicológico, humildade, racionalidade e sobrou ignorância e prepotência. Ninguém sabe, verdadeiramente, os motivos que o levaram a arquitetar ou tomar parte nessa estupidez ímpar; entretanto, nada a justifica. Ao dispensar ou se negar a pedir aconselhamento, ajuda a pessoas mais bem preparadas, disponíveis no mercado ou, muitas delas, encontradas na instituição em que trabalha, deixou transparecer que uma teimosia extremada ressaltou, sobremaneira, seu lado egocêntrico, tornando-o cego, surdo, alheio e insensível ao que parecia ser a melhor providência a adotar, diante da imutável realidade.
     Será que o atleta tomou decisões tão estapafúrdias e equivocadas, de fato, movido por uma dose cavalar de egoísmo, que lhe fechou todas as portas à ajuda exterior? Imaginaria ter descoberto o crime perfeito, ainda que, na prática, não fosse seu executor? Sentia-se grande e poderoso o bastante para inibir ou elidir qualquer tentativa de reação pretendida pela vítima, uma pessoa frágil e insignificante? Supunha o moço que possuía amigos e amantes capazes de lhe fornecer álibis inquestionáveis ou defesas irretocáveis, no caso de ser considerado potencial criminoso? Haveria, por acaso, cometido ou autorizado a execução de tamanhas atrocidades sob efeito de intermitentes surtos psicóticos? É claro que não. Tampouco se ouviu falar em drogas. Que ódio, então, foi esse, que a presença de um filho inocente, em vez de aplacar, potencializou? 
     Não sei se fico com dó ou se, simplesmente, me coloco ao lado daqueles que acreditam que o goleiro é, sim, um sujeito vingativo, perigoso, calculista e, poderia, com tranquilidade, frieza e crueldade, ter cometido o crime. Por outro lado, me questiono: como alguém pode ser, ao mesmo tempo, um atleta inteligente e competente, tecnicamente, e tão estúpido e irracional, enquanto pessoa? Quando nenhuma aparente ou subjacente razão se insurge como desencadeante de uma sandice de proporções e consequências tão graves como essa, o que motivaria um homem a desistir de um futuro que já dava mostras de que seria glorioso, lucrativo, enriquecedor, possivelmente, seu grande objetivo pessoal e profissional?
     Ousaria dizer que essa conjunção de acontecimentos que a mídia tão bem vem explorando, é bastante para, a um só tempo, levar, pelo menos quem não está diretamente envolvido com as causas ou desdobramentos dessa sucessão de erros, a ficar comovido, condoído, triste, decepcionado e, claro, irritado com seus protagonistas. 
                                                Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])