[Flávio Bittencourt]

Conceitos da Comunicação de Massa (5, 6, 7 e 8)

Efeitos Limitados dos meios sobre a Opinião Pública; modelo Two-Step Flow; Teoria do Espelho em Jornalismo; Espiral do Silêncio, de Elizabeth Noelle-Neumann. 

 

 

 

 

 

 

 WWII Bomber

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

(http://www.otrcat.com/wwii-on-the-radio.html)

 

 

 

 

Battle Stations"(...) By the end of the First World War the importance of recreation for the troops was becoming recognized. It has been pointed out that the soldier's life is 90% boredom interrupted by periods of sheer terror. If morale was allowed to slip there could be a fatal decline in combat efficiency. Experiments with radio for troop entertainment had been attempted in various overseas locations before the WWII with varying degrees of success. The most important improvement needed to be reliable and desirable content. (...)" (http://www.otrcat.com/wwii-on-the-radio.html)

 

 

 

RÁDIO,

DEPOIS DA II GUERRA MUNDIAL:

 Radio 1946

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.otrcat.com/wwii-on-the-radio.html)

 

 

 

 

RÁDIO,

ANTES DA II GUERRA MUNDIAL:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

(http://radio-timetraveller.blogspot.com/2010/08/early-radio-publications.html

 

 

 

 

Goebbels, he was Third Reich's propaganda minister (1933-1945), here with a moralizing wagging finger. But Goebbels was not the only propaganda minister manipulating the truth. England, "USA", France, Poland, and Russia also had their "propaganda ministers"...
Goebbels, he was Third Reich's propaganda minister (1933-1945), here with a moralizing wagging finger. But Goebbels was not the only propaganda minister manipulating the truth. England, "USA", France, Poland, and Russia also had their "propaganda ministers"...

 (http://www.geschichteinchronologie.ch/eu/3R/propaganda-2wk-ENGL.html)

 

 

  

 

Hitler's Radio War

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

(http://www.amazon.com/Hitlers-Radio-War-Roger-Tidy/dp/0709091494)

 

 

 

 

Hitler Pictures: Hitler Listening to the Radio:

(Picture from the USHMM, courtesy of the National Archives.)
Adolf Hitler listens to a radio broadcast of the results of German parliamentary elections. (March 5, 1933)

(http://history1900s.about.com/library/holocaust/blhitler13.htm)

 

 

 

 

FDR WWII Broadcast

 

"(...) President Franklin D. Roosevelt began his Fireside Chats (1936-45) during the Great Depression, and continued then through the War Years. The chats were thought to be a great comfort to the nation during dark and frightening times.

The series Speaking of Liberty (1941) was presented by NBC in the months prior to Pearl Harbor. The highly intellectual discussions featured some of the periods best minds discussing the importance of freedom and civil liberties, created by the Council for Democracy. The Institute for Democratic Education presented Lest We Forget (1943-48) dramatized morality tales that demonstrated not only the superiority of American ideals, but the dangers if they are lost.

Hitler and his misguided philosophy were confronted directly in Dear Adolph (1942) and You Can't Do Business with Hitler (1942). The first presented letters from Americans outlining their feelings towards the German regime, while the latter was based on the experiences of an American trade attaché who had worked at the American Embassy in Berlin before the Second World War.

The enemy tried to use propaganda old time radio to disrupt Allied morale using the radio. Charlie and His Orchestra played popular American Jazz tunes with the lyrics rewritten with a pro-Nazi message. The germans also used Axis Sally while the infamous "Tokyo Rose" was played by as many as a dozen different English speaking women for Japan. Tokyo Rose's mission was to make the GIs homesick by playing popular American Music and telling outlandish tales of girlfriends being unfaithful while their men were at war. The effectiveness of Tokyo Ros's efforts is in dispute, and tales of her supposed clairvoyance in speaking directly to individual units was largely a fabrication for the movies. (...)"]

(http://www.otrcat.com/wwii-on-the-radio.html)

 

 

 

 

"NO PERÍODO ENTRE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E A SEGUNDA, PRINCIPALMENTE NOS ESTADOS UNIDOS - até mesmo antes de acontecer a quebra da Bolsa de Nova Iorque (1929) e, dez anos depois, da ecosão da II Guerra Mundial - OS ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO DESENVOLVERAM-SE CONSIDERAVELMENTE, UMA VEZ QUE ACADÊMICOS (teóricos vinculados ou não a universidades), SOCIÓLOGOS, JORNALISTAS, EDITORES, POLITOLOGISTAS, ECONOMISTAS, HISTORIADORES, GEÓGRAFOS ESPECIALIZADOS EM GEOGRAFIA HUMANA [*], PARLAMENTARES (políticos), PUBLICITÁRIOS, REDATORES (principalmente os verdadeiros autores [OU GHOST WRITERS] de discursos que políticos pronunciavam), ESTATÍSTICOS, MATEMÁTICOS, HOMENS DE GOVERNO (tanto os governantes máximos, quanto os executivos de segundo e terceiro escalões) E EXECUTIVOS DE EMPRESAS PRIVADAS FORAM PERCEBENDO QUE NÃO SERIA POSSÍVEL DEIXAR DE ESTUDAR UM FENÔMENO COMO O DOS EFEITOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA (jornais, rádio, cinema e, só depois, a televisão) SOBRE A OPINIÃO PÚBLICA"

(COLUNA "Recontando...")

[*] - EM MAPAS ONDE CONSTAVAM ATIVIDADES ECONÔMICAS por assim dizer FORTES (altamente lucrativas), A CALIFÓRNIA COMEÇOU A APARECER COMO produtora de cinema, POR EXEMPLO. AO MESMO TEMPO, A PARTICIPAÇÃO DA ATIVIDADE PUBLICITÁRIO-COMERCIAL - não se fala, neste momento, das atividades de propaganda política - NO PIB (Produto Interno Bruto) DE PAÍSES DESENVOLVIDOS - e, também, de países subdesenvolvidos - IA CRESCENDO EXPONENCIALMENTE (quando se fala de MADISON AVENUE, isso significa "REGIÃO DE NOVA IORQUE, EUA, ONDE ESTÃO LOCALIZADAS GRANDES AGÊNCIAS - multinacionias, alguma delas - DE PROPAGANDA E MARKETING").

 

 

 

 

"Paul Lazarsfeld é de origem austríaca, estudou na Universidade de Viena, onde obteve seu doutorado em matemática no ano de 1925, defendendo a tese ”Die Perihewegung des Merkur” (publicada na Revista “Zeitsdhrift für Phisik”), que apresentava uma solução para a função “einsteineana” sobre o movimento de mercúrio a partir do cálculo do seu perigeu.

Em 1929 fundou um instituto de pesquisa psicologia social na capital austríaca.

Em 1933 foi diretor do Gabinete de Pesquisa Radiofônica na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, para pesquisas sociológicas e psicologia associada à comunicação.

Em 1940 seu projeto mudou para Colômbia, onde seu gabinete foi nomeado de “Bureau of Applied Social Research”. Foi docente do departamento de sociologia até 1940.

Entre os anos de 1946 e 1953, ele contribuiu para consolidar a teoria cibernética junto com outros cientistas."

(http://comunicapuc.wordpress.com/paul-lazarsfeld/)

  

 

PAUL LAZARSFELD:

  

(http://comunicapuc.wordpress.com/paul-lazarsfeld/)

 

 

 

 

ELIZABETH NOELLE-NEUMANN,

JOVEM, NA CAPA DA CONCEITUADA

REVISTA ALEMÃ DER SPIEGEL:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://blogs.worldbank.org/category/tags/elisabeth-noelle-neumann)

 

 

 

 

ELIZABETH NOELLE-NEUMANN (1916  - 2010),

CUJA TEORIA DENOMINADA

ESPIRAL DO SILÊNCIO É ESTUDADA

EM TODOS OS CONTINENTES DO PLANETA,

EM FOTO MAIS RECENTE:

ddp

 

 

 

 

 

 

 

(http://blogs.worldbank.org/category/tags/elisabeth-noelle-neumann)

 

 

 

 

"A RESPEITO DA TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS, HÁ O ARTIGO, ADIANTE TRANSCRITO, NA ÍNTEGRA;

 

SOBRE TWO-STEP FLOW, VOCÊ PODE INICIAR O EXAME DESSE MODELO LENDO O TEXTO QUE SE ENCONTRA, NA WEB, EM:

http://feixe-hertziano.blogspot.com/2005/10/teoria-hipodmica-vs-two-step-flow.html;

 

 

A TEORIA DO ESPELHO EM JORNALISMO PODE SER POR VOCÊ EXAMINADA,

POR EXEMPLO, EM:

http://www.benoliveira.com/2011/06/teorias-do-jornalismo-teoria-do-espelho.html

 

E UM RESUMO RIGOROSO DA TEORIA DA ESPIRAL DO SILÊNCIO,

DE E. NOELLE-NEUMANN, VOCÊ ENCONTRA, EM PORTUGUÊS,

ACESSANDO:

http://literacomunicq.blogspot.com/2010/04/teoria-da-espiral-do-silencio_22.html

 

 

 

SOBRE JORNALISMO ONLINE:

LEIA, POR FAVOR, ADIANTE (depois do texto sobre

EFEITOS LIMITADOS) ARTIGO DA PROFª ANA PAULA DA ROSA

SOBRE MUDANÇAS - em curso, no Brasil e no mundo -

SURGIDAS COM O ADVENTO DO JORNALISMO ONLINE [webjornalismo])

 

 

 

 

           OBRIGADO, TANIA ANDREIA SOUSA ALMEIDA, PROFª PORTUGUESA,

           PELA AULA, DE SET. / 2005, SOBRE

           TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS (DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA SOBRE A

           OPINIÃO PÚBLICA) E

           OBRIGADO ANA PAULA DA ROSA, PROFESSORA BRASILEIRA,

            PELA AULA, DE AGO. / 2005, SOBRE JORNALISMO ONLINE

  

 

 

24.1.2012 - Para não sermos engambelados pela ladainha dos mass media (meios de comunicação de massa) é interessante que tenhamos disposição para estudar as teorias da comunicação - (1) Efeitos Limitados dos meios na Opinião Pública; (2) modelo Two-Step Flow of Communication; (3) Teoria do Espelho em Jornalismo; (4) Espiral do Silêncio, de Noelle-Neumann.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

TANIA ANDREIA SOUSA ALMEIDA

PRODUZIU O SEGUINTE TRABALHO

(Data de inclusão: 14/09/2005)

SOBRE:

 

"Teoria dos Efeitos Limitados

PRECEDENTES À ABORDAGEM EMPÍRICA DE CAMPO

Desde o aparecimento dos mass media, foram apresentados vários modelos de pesquisa com o intuito de os estudar.

Todos estes modelos de pesquisa / teorias, seguem um critério cronológico, estando também ordenadas segundo o contexto social, histórico e económico.

O primeiro modelo de pesquisa a aparecer, foi a teoria hipodérmica.

Esta, descreve a acção comunicativa como sendo uma mera relação automática entre estímulo e resposta.

Assim, a cada estímulo, correspondia sempre obrigatoriamente uma resposta.

Reduz o comportamento humano a uma relação de causalidade linear.

Os indivíduos eram vistos como uma massa atomizada , indiferenciada, que não tinha poder de escolha. Ao serem atingidos por um estímulo, desencadeavam sempre uma resposta, salientando assim, o seu carácter altamente maniplulável.

Nos anos 40 surgiu a abordagem empírico-experimental que, juntamente com a abordagem empírica de campo (também designada por teoria dos efeitos limitados), conduziu ao abandono da teoria hipodérmica.

Estas duas abordagens (empírico-experimental e empírica de campo) surgiram paralelamente e as aquisições de uma estão intimamente ligadas ás da outra.

Resumidamente, a teoria dos efeitos limitados é a abordagem empírico-experimental, mas contendo mais uma clausula que passamos a conhecer quando fizer a descrição desta teoria.

Será então necessário tomarmos conhecimento dos principais pontos em que assenta a abordagem empírico- experimental para compreendermos posteriormente a teoria dos efeitos limitados.


Abordagem empírico-experimental

A abordagem empírico- experimental assenta na principal ideia de que é possível atingir o objectivo de persuadir o público, desde que a forma e a organização da mensagem sejam estruturadas adequadamente ás características psicológicas dos destinatários.

As mensagens dos mass media contêm características particulares do estímulo que interagem de maneira diferente nos indivíduos, mediante os traços específicos da personalidade de cada um.

Um programa de televisão mostra em pormenor um acto de tortura que termina com a execução da vitima. Um telespectador que observou esta cena, pratica pouco depois um crime com características semelhantes. O que levou a fazê-lo, considerando que milhões de outros telespectadores que viram o mesmo, nem sequer pensaram em imitar esse acto?

Cada indivíduo é um indivíduo. Com características psicológicas específicas e únicas.

Assim, os efeitos são variáveis de indivíduo para indivíduo.

Factores relativos á audiência:

Interesse em obter informação

O público que não possui qualquer conhecimento sobre os assuntos tratados, torna-se mais difícil de atingir.

Quanto mais expostas as pessoas estão a um determinado assunto, mais o seu interesse aumenta, e mais se sentem motivados para saberem mais acerca dele.

Os não informados sobre o assunto, não têm o mínimo interesse nele

Exposição selectiva

É indispensável conhecer as preferências das diferentes camadas da população no que respeita aos meios de comunicação.

Qual a população mais captada pela rádio, e qual a mais captada pela imprensa?

A selectividade da exposição pode ser explicada não pela congruência existente entre atitudes subjectivas e o conteúdo das comunicações mas a partir de outras variáveis como o nível de instrução, a profissão, o grau de consumo dos mass media, a utilidade da comunicação etc.

Percepção selectiva

O público quando se expõe aos meios de comunicação, encontra-se protegido por predisposições já existentes, por processos selectivos.

A interpretação transforma e adapta o significado da mensagem recebida, fixando-o ás atitudes e aos valores do destinatário.

Uma reacção muito comum para fugir á questão é "não compreender" a mensagem.

Deturpar a compreensão é um meio do indivíduo conservar a sua auto-estima.

A segurança das próprias atitudes, não provoca a necessidade de distorcer para desactivar o processo de identificação.

Efeito de assimilação: existe um efeito d assimilação quando o destinatário considera as opiniões expressas na mensagem como mais semelhantes ás suas do que realidade o são.

Existe um campo de aceitação, que delimita os parâmetros dentro dos quais as opiniões expressas na mensagem são consideradas pelo destinatário, como objectivas e aceitáveis.

O campo de recusa, define as condições opostas ás atrás mencionadas e interpreta a mensagem recebida, como sendo propagandística, inaceitável.

Memorização selectiva

Os aspectos que estão de acordo com as atitudes e as opiniões próprias são memorizadas num grau mais elevado do que aqueles que são contra.

Efeito Bartlett – Estamos perante o efeito de Bartlett, quando numa mensagem são apresentados os argumentos a favor e contra. A recordação dos argumentos contra desvanecem-se mais rapidamente do que os argumentos a favor, o que contribui para acentuar a eficácia persuasiva.

Em certos casos, a eficácia persuasiva é quase nula imediatamente após a exposição á mensagem. Mas, á medida que o tempo passa, essa eficácia aumenta.

Quando este fenómeno sucede, estamos perante o Efeito latente.

Factores relativos á mensagem

Podemos diferenciar quatro factores da mensagem:

1- credibilidade do comunicador

2- ordem da argumentação

3- integralidade dos argumentos

4- explicitação das conclusões

Credibilidade do comunicador

A falta de credibilidade do emissor incide negativamente no público em termos de o persuadir.

Mensagens exactamente com os mesmos argumentos mas efectuadas por fontes diferentes, são eficazes de modo diverso.

Tome-se como exemplo o facto de escolherem o Manuel Luís Goucha para mensagens publicitárias de receitas ou produtos culinários. É um emissor com bastante credibilidade para o público alvo- as donas de casa- dentro deste campo.

Ordem da argumentação

A questão quanto a este factor, é se são mais eficazes as argumentações iniciais a favor de uma posição, ou se são mais eficazes as argumentações finais de apoio á posição contrária.

Verifica-se um efeito primacy, quando os argumentos iniciais são mais eficazes.

Verifica-se um efeito recency, quandoos argumentos finais são mais influentes.

Existe uma estreita relação entre o conhecimento/ familiaridade com o tema e o efeito recency.

Se os destinatários da mensagem, não têm qualquer conhecimento sobre o tema, tende a verificar-se um efeito de primacy.

Torna-se então importante saber se os destinatários estão ou não familiarizados com o tema para saber qual a estratégia a utilizar para conseguir o objectivo de os persuadir.

A integralidade dos argumentos

Trata-se de estudar o impacte que provoca a apresentação de um único aspecto de uma posição, ou de ambos os aspectos (positivos e negativos), com o objectivo de modificar a opinião da audiência.

Em pessoas que inicialmente tinham uma opinião contrária em relação ao exposto, é mais eficaz apresentar os argumentos referentes a ambos os aspectos de um tema.

Para pessoas que já estavam convencidas quanto á questão apresentada, expor só os aspectos positivos, será o mais eficaz.

Aquelas pessoas que possuem um grau de instrução elevado, são mais favoravelmente influenciadas pela apresentação de ambos os aspectos da questão.

Explicitação das conclusões

O problema é saber se uma mensagem que fornece explicitamente as conclusões será mais eficaz quanto á questão de influenciar, do que aquela que fornece essas conclusões de uma forma implícita e deixa que sejam os destinatários a extraí-las.

Quanto maior for o envolvimento do indivíduo, mais útil será deixar as conclusões implícitas, menos necessária será a explicitação das conclusões.

O contrário observa-se em públicos pouco familiarizados com os assuntos : as conclusões devem ser explícitas.

Agora que temos noção dos princípios mais relevantes da abordagem empírico- experimental, das raízes da teoria dos efeitos limitados( abordagem empírica de campo), passemos á teoria em que este trabalho assenta que não é mais do que esta abordagem empírico- experimental com o seu âmbito mais alargado a outros princípios.


CONTEXTO DA TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS

Para compreender os príncipios da abordagem empírica de campo, é necessário Ter em atenção o contexto social em que esta se desnvolveu.

A abordagem empírica de campo/ teoria dos efeitos limitados, surgiu na década de 40.

O contexto social presente nos anos 40, era totalmente diferente do contexto social actual.

Actualmente, é- nos facilitado um acesso directo, fácil e imediato aos meios de comunicação.

Estes, estão presentes na nossa vida, fazem parte do nosso quotidiano, e a sua presença é facilmente detectada. Não passam despercebidos numa sociedade que os consome e depende deles.

Estamos assim, constantemente expostos aos mass media e ao alcance das suas mensagens.

A situação actual apresenta assim níveis quase- saturação na difusão dos mass media.

Na década de 40, a situação era oposta á de hoje.

Os anos 40, do ponto de vista da presença e da difusão dos meios de comunicação, é marcada por uma baixa difusão de comunicações de massa.

A presença dos mass media na sociedade era bastante limitada, não estando ao alcance de todos.

É então fácil de compreender que esta presença limitada dos mass media na sociedade dos anos 40, realce o papel difusivo desempenhado pela comunicação interpessoal.

Assim, os meios de comunicação não assumiam um papel tão importante na difusão da informação como assume hoje. A comunicação interpessoal assumia então um papel mais relevante na difusão da informação, sobrepondo-se ao papel desempenhado pelos meios de comunicação que se tornavam quase irrelevantes devido á sua baixa presença.


PRINCÍPIOS DA TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS

A abordagem empírica de campo, ou também designada por teoria dos efeitos limitados, é um modelo de pesquisa dos meios de comunicação.

O seu surgimento ocorreu nos anos 40 e, para além do seu problema fundamental continuar a ser o dos efeitos dos meios de comunicação, difere-se das teorias precedentes pois não se coloca nos mesmos termos destas.

Nesta teoria, é igualmente válido o que foi dito sobre a teoria da persuasão (abordagem empírico- experimental).

O desenvolvimento cruzou-se constantemente com os trabalhos da pesquisa empírica experimental, tornando-se difícil separar âmbitos totalmente autónomos.

Fique-se com a ideia de que esta teoria engloba toda a teoria da persuasão, todas as suas ideologias mas apresenta um campo de visão, um âmbito de estudo mais alargado, pois vai incluir nesta o aspecto do sociológico.

O modelo comunicativo depura-se. Entre o estímulo (E) e a resposta (R), intervêm alguns filtros: a sociedade, o mundo, a cultura ou os modos de produção.

No entanto, relativamente á teoria da persuasão, esta fase dos estudos sobre os meios de comunicação marcou de uma forma mais profunda e relevante a história da communication research. Este fenómeno deve-se ao facto das aquisições mais significativas desta teoria transformarem-se em clássicas e perpetuarem a sua presença em todas as resenhas críticas da literatura sobre a matéria.

A perspectiva da teoria dos efeitos limitados sobre os meios de comunicação diz respeito a todos os mass media. Do ponto de vista da sua capacidade de influenciar o público que pretende atingir.

Assim, esta teoria fala-nos de influência. Se na Teoria hipodérmica se falava de manipulação, na abordagem empírico-experimental de persuasão, nesta teoria fala-se de influência. Da capacidade dos mass media em influenciar o público. Entenda-se por influência, a capacidade dos maios de comunicação exercerem uma acção sobre o público, levá-los a agir de certa forma.

Nesta perspectiva generalizada, está inserida a atenção á capacidade diferenciada de todos os mass media.

Cada meio de comunicação exerce influências específicas.

Tomemos como exemplo na sociedade actual, o poder extremo da televisão de influenciar o público, pois este expõe-se mais facilmente e com maior regularidade a este meio de comunicação. E, um mass media só pode influenciar quem está ao seu alcance, quem se expõe a tal media e de tal modo, atingido pela sua mensagem.

A designação da Teoria "efeitos limitados", não indica apenas uma diferente avaliação da quantidade dos efeitos, mas também uma configuração desses efeitos qualitativamente diferentes.

Esta teoria, situa-se num contexto social de tipo administrativo, e como tal, está sempre atenta á dimensão prático- aplicável dos problemas investigados.

A ideia chave da teoria sobre os mass media ligada á pesquisa sociológica de campo, consiste de facto, em associar os processos de comunicação de massa ás caracteristicas do contexto social em que esses processos se realizam.

Com este novo ponto de vista, completa-se a teoria da persuasão (abordagem empírico- experimental) e dão um fim á teoria hipodérmica que defendia a posição do processo comunicativo como sendo um processo mecânico entre um estímulo e a resposta correspondente. Eram esquecidos, ou melhor, ignorados quaisquer outros factores. Não aceitava a posição de que pudesse existir outros factores que interviessem no processo comunicativo.

Assim, a teoria dos efeitos limitados, defende que a eficácia da comunicação de massas depende do contexto social em que o indivíduo se encontra inserido, e não apenas dos processos comunicativos dos media.

Associa os processos de comunicação de massa ás características do contexto social em que esses processos se realizam.

A capacidade de influência da comunicação de massa, limita-se sobretudo ao reforço de valores, atitudes ou comportamentos, do que a uma capacidade de os modificar

A capacidade de influenciar o público é então limitada porque a influencia exercida pelos mass media é apenas uma parte.

Há uma outra influência mais geral, durante as relações comunitárias : a comunicação interpessoal.

Assim, este tipo de influência assuma uma importância mais elevada no que diz respeito á capacidade de influenciar do que propriamente os meios de comunicação.

Relembre-se de que nos anos 40, as pessoas estavam pouco expostas aos mass media, então, era influenciados não pelos meios de comunicação mas pelas relações interpessoais que estabeleciam.

Assim, a eficácia da comunicação de massa, está largamente associada e dependente de processos de comunicação não provenientes dos mass medis, e que existem no interior da estrutura social em que o indivíduo vive.


CORRENTES DE ESTUDO DA TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS

É possível distinguir, na teoria dos efeitos limitados dos mass media, duas correntes de estudo :

  • As pesquisas sobre o consumo dos mass media
  • O contexto social e os efeitos dos mass media

As pesquisas sobre o consumo dos mass media

Esta corrente de pesquisa, diz respeito ao estudo da composição diferenciada dos públicos e dos seus modelos de consumo dos meios de comunicação.

Um exemplo dos trabalhos desta corrente de estudo, é o estudo realizado por Lazarsfeld: "Radio and Printed Page. Na introduction to the study of Radio and its role in the communication of ideas ", em 1940.

Este estudo, analisa o papel desempenhado pela rádio em confronto com diversos tipos de público e revela um esforço eminente para associar as características dos destinatários com as características dos programas preferidos pelo público e com análise nos motivos pelos quais a audiência ouve certos programas e não ouve outros.

Existem três processos diferentes que visam o objectivo de saber o significado que um programa tem para o público. Se possível, devem ser utilizados em conjunto pois um processo implica o outro e completam-se.

Os processos são:

  • Análise de conteúdo
  • Características dos ouvintes
  • Estudo sobre as satisfações

Análise de conteúdo

Este primeiro processo, consiste em partir de uma análise do conteúdo do programa.

As análises de conteúdo surgiram para estudar a mensagem.

O seu objectivo é apresentar um cálculo mensurável e verificável do conteúdo manifesto das mensagens.

Foi Lasswell quem introduziu este tipo de pesquisa no estudo das comunicações, ao aplicá-lo para a análise da propaganda e da rádio.

A análise de conteúdo é feita através da contagem de determinadas unidades dentro de uma mensagem.

Por exemplo, quem contar o número de homens e mulheres que durante um certo tempo apareceram numa série de televisão, descobrirá que, em média, há duas vezes mais homens do que mulheres. É isso a análise de conteúdo. Não está interessada em explorar ou especular, mas simplesmente em contar objectivamente os dados identificados para a pesquisa.

Um dos clássicos do género é um estudo de W. Paisley sobre o debate entre Nixon e Kennedy, para as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 1960.

Paisley, contou o número de vezes que cada candidato mencionava determinada palavra e as suas conclusões foram curiosas.

Descobriu que enquanto Kennedy pronunciara catorze vezes a palavra "tratado", Nixon apenas a referira quatro vezes. Pelo contrário, Nixon disse doze vezes "ataque" perante seis vezes de kennedy, e dezoito vezes " guerra" comparada com as doze vezes em que o seu rival mencionou a mesma palavra.

A análise de conteúdo terminou nesta mera contagem.

Para além da política, as análises de conteúdo têm sido amplamente utilizadas para estudar o sexismo e a forma como as mulheres são tratadas na televisão.

Pesquisas revelaram que as séries televisivas americanas estavam recheadas de estereótipos profissionais, com os homens a ocupar uma muito maior variedade de empregos do que as mulheres. Na publicidade, elas são mostradas dentro de casa duas vezes mais que eles. Apenas dezanove por cento das suas aparições são ao ar livre, enquanto os homens aparecem nessas circunstâncias em quarenta e quatro por cento dos casos. Além disso, as personagens femininas surgem muito mais vezes nas séries televisivas com motivações de ordem familiar, romântica ou sexual do que as masculinas, e na maior parte dos casos são casadas, ou pretendem casar, ao contrário dos homens.

As análises de conteúdo, foram igualmente aplicadas por alguns investigadores para estudar a forma.

É o caso de uma pesquisa sobre os anúncios de televisão para brinquedos de crianças. Constatou-se que a publicidade para rapazes tinha maior número de planos de imagem do que os anúncios para raparigas, e que esses planos incluíam mais acções de movimento. A conclusão dos pesquisadores, evidentemente extrapolada, foi a de que a forma como a publicidade era mostrada tecnicamente estava a contribuir para encorajar os rapazes a terem um comportamento mais activo, e as raparigas a permanecerem mais passivas.

Características dos ouvintes

Este, é um processo de se saber o que o programa significa para os ouvintes. Faz-se, então uma análise atenta e diferencial dos vários grupos de ouvintes.

São conhecidas as diferenças psicológicas existentes entre sexos, idades e grupos sociais. Se um programa é escutado predominantemente por um grupo social, é possivel compreender-se a natureza do seu atractivo.

Por exemplo, consideremos dois programas. Se a audiência de um é constituída por pessoas com um nível de escolaridade superior á audiência do outro programa, pode-se deduzir que os temas do primeiro são mais sofisticados do que os do segundo.

Os consumidores serão selectivos na escolha dos programas de televisão e de rádio, e optarão em função das suas necessidades e características específicas.

Por exemplo, as variáveis demográficas são a melhor prova de que existe, na realidade, alguma selectividade. O leitor da "Maria ", tem um perfil em geral específico, fundado na sua educação, sexo, rendimentos e idade. Os mesmos factores definem, em maior ou menor escala, os leitores do "Expresso" e os espectadores do programa musical televisivo "Top Mais".

Estudos sobre as satisfações

O público faz uma escolha motivada do que pretende consumir, em função sobretudo de circunstâncias sociais e psicológicas. Essas circunstâncias podem traduzir-se por problemas, em cuja resolução são utilizados os meios de comunicação de massas.

Segundo esta corrente, o tipo de necessidades para o qual a comunicação social poderá apresentar uma resposta satisfatória está relacionado com a busca de informação, os contactos sociais, o desenvolvimento, a aprendizagem social e o entretenimento.

A formulação básica desta corrente refere que as pessoas têm necessidades sociais e psicológicas que pensam poderem ser satisfeitas pelos meios de comunicação de massas. Daí que se exponham, em graus diferentes, á sua acção, conseguindo gratificações.

Em 1944, Herta Herzog, decidiu estudar a popularidade das radionovelas.

Herta Herzog, entrevistou 2600 fiéis ouvintes de radionovelas, e publicou as conclusões num documento que designou de "What we really know about Daytime Serial Listeners", e descobriu que grande parte das mulheres que escutavam diariamente os programas procurava desse modo obter uma libertação emocional. As radionovelas davam-lhes uma oportunidade para chorar e faziam-lhes sentir que outras pessoas também tinham problemas, o que as aliviava. Um outro grupo de ouvintes, usava os momentos felizes das séries radiofónicas para compensar os seus próprios problemas. Um terceiro grupo, procurava nos programas uma fonte de conselhos.

O contexto social e os efeitos dos mass media

Para se compreender o consumo de massa, é necessário centrar a atenção no seu contexto, ou seja, no âmbito social mais vasto em que decorreram.

Assim, a eficácia dos mass media só é susceptivel de ser analisada no contexto social em que funcionam. A sua influência depende das características do sistema social que os rodeia.

Os efeitos provocados pelos meios de comunicação de massa dependem das forças sociais que predominam num determinado periodo. Por conseguinte, a teoria dos efeitos limitados deixa de salientar a relação causal directa entre propaganda e manipulação da audiência para passar a insistir num processo indirecto de influência em que as dinâmicas sociais se intersectam com os processos comunicativos.

As pesquisas mais notáveis que expõem esta teoria, não se debruçam sobre o estudo específico dos mass media, mas sobre os processos de formação de opinião pública.

O primeiro estudo, "The people´s choice – How the Voter makes his mind in a Presidential Campaign" é realizado por Lazarsfeld e os seus colegas Bernard Berelson e hazel Gaudet e publicado em 1944. O estudo tem por objectivo medir a influência dos mass media sobre 600 eleitores e identificar motivos e modalidades com que se formam as atitudes políticas no decorrer da campanha presidencial de 1940 em Erie County, uma comunidade do Estado de Ohio.

Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, não descobriram somente que as eleições eleitorais estavam mais influídas pelos contactos pessoais que pelos mass media, como descobriu também que nestes contactos pessoais, certos indivíduos têm mais influência que outros.

Estas Líderes de opinião, são indivíduos que manifestam um certo interesse , conhecimentos e competência, dentro do campo em que exerce a sua influência e que estão mais expostos que os outros indivíduos aos mass media.

Esses líderes representam a parcela de opinião pública que procura influenciar o resto do eleitorado e que demonstra uma capacidade de reacção e de resposta mais atentas aos conhecimentos da campanha presidencial.

Estes dois resultados, estão em perfeita concordância com o que já foi mencionado em relação á selecção: os indivíduos que manifestam mais interesse e actividade num certo campo são aqueles que estão mais expostos as mensagens relacionadas com este campo.

O segundo estudo, "Personal Influence: the part played by People in the Floow of Mass Communication", co-assinado por Lazarsfeld e Elihu Katz, sai em 1955, mas explora inquéritos efectuados dez anos antes. Trata-se do comportamento dos consumidores de moda e lazeres, particularmente a escolha de filmes.

Ao estudar os processos de decisão individual de uma população feminina de 800 pessoas numa cidade de 60.000 habitantes – Decatur, no Illinois -, eles redescobrem, tal como no primeiro trabalho, a importância do "grupo primário". Isto, fá-los ver o fluxo de comunicação como um processo em que o papel dos líderes de opinião se revela decisivo. Formulam, então a hipótese de uma corrente comunicativa imperativa em duas etapas.

É a teoria do Two-Step Flow.

No primeiro patamar, encontram-se as pessoas bem informadas, que estão directamente expostas aos media – os Líderes de opinião. No segundo, as pessoas que frequentam menos os media e que dependem das outras para obter a informação.

Os líderes de opinião, assumem um papel de medianeiros entre os meios de comunicação e os outros indivíduos menos interessados e com menos acesso aos mass media. Difunde no seio do grupo, mensagens retiradas dos mass media, controlando assim as mensagens que os outros sujeitos recebem, podendo rectificar a informação e manipulá-la, e a forma como as recebe

Depois, tal hipótese foi demonstrada noutros terrenos á margem do campo eleitoral. Kartz e Lazarsfeld estudaram, em especial, as influências exercidas sobre as donas de casa em relação as compras, ao voto, selecção de espectáculos, dos vestidos (Personal influence , 1955). No seu conjunto, os resultados retirados por The People´s choice, foram confirmados e precisados.

Assim, passamos a Ter um processo comunicativo um pouco diferente, que passo a esquematizar:

(citado por Lazarsfeld e Katz, 1955)

Não se fique com a ideia errada de que os líderes de opinião formam uma categoria aparte do resto do grupo, uma espécie de classe superior cuja influência só se exerce num sector muito preciso. São pessoas como as outras cuja influencia só se exerce num sector muito preciso. Em geral, "os líderes de opinião e as pessoas que eles influenciam são parecidas e normalmente pertencem aos mesmos grupos primários, familiares, de amigos, de colegas."( Elihu Katz).No seio de cada grupo, não há um, mas vários líderes de opinião, e estes, mudam consoante o campo . ( Por exemplo, numa família, a mãe poderá exercer uma influência no que respeita as compras, o pai em relação á política, o filho adolescente á eleição de espactáculos, e a sua irmã á moda.)

Em estudos posteriores, Merton(1949) , distingue dois tipos de líderança – líder de opinião local e líder de opinião cosmopolita - mediante a tendência dos líderes para operarem em determinada comunidade. Assim, a tendência para a liderança local correspondem a uma vida na comunidade, relações sociais tendencialmente indiferenciadas que levam o líder de opinião a conhecer a maior parte das pessoas. O seu consumo dos mass media exclui as publicações mais comprometidas e que põem em destaque o lado humano, o aspecto pessoal e as anedotas das mensagens fornecidas pela imprensa ou pela rádio. Exerce uma influência em diferentes áreas temáticas. Já o líder cosmopolita, é qualitativo e selectivo na rede das suas relações pessoais, escolhe o seu público, viveu grande parte da sua vida fora da comunidade e exerce autoridade em áreas temáticas particulares .

Mas os líderes de opinião e o fluxo comunicativo a dois níveis são apenas um dos processos de formação de atitudes do indivíduo dentro de um grupo.

Um outro processo é o da Cristalização das opiniões.

Há momentos que os indíviduos se deparam com situações a que têm obrigatoriamente de reagir, de tomar uma atitude e que não exista um indivíduo particularmente influente a quem recorrer um conselho. Mas o indíviduo tem de reagir, de tomar uma atitude.

Para além da liderança de opinião, estão as interacções recíprocas dos membros do grupo que reforçam as atitudes ainda não definidas de cada um. Baseadas nessas interacções, a repartição de opiniões e atitudes cristaliza e os indíviduos agem mediante os outros.


A TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS E A TEORIA HIPODÉRMICA

A primeira teoria /modelo de pesquisa dos mass media a surgir foi a Teoria Hipodérmica, que descreve a acção comunicativa como uma mera relação automática de estímulo e resposta.

A cada estímulo emitido pelos mass media, correspondia obrigatoriamente uma resposta. O indivíduo, sempre que era atingido pela mensagem dos mass medis, era levado a reagir de determinada maneira. Era manipulado pelos mass media. O indivíduo, era então visto como um ser altamente manipulável, sem poder de escolha e indiferenciado. Eram compreendidos como um todo, uma massa atomizada, iguais e que, por consequência, reagiam todos de forma igual. Reduz o comportamento humano a uma relação de causalidade linear. Ignorava assim, qualquer aspecto específico em relação ao indivíduo,e sobretudo, não admitia que pudesse existir algo para além dos mass media e esta massa atomizada. Atribuia total poder aos mass media.

AO contrário, a teoria dos Efeitos Limitados, vem defender uma escassa relevância dos mass media em confronto com os processos de interacção social. Atribui as relações interpessoais, e por conseguinte, aos indivíduos que as realizam, uma extrema importância no modelo comunicativo. Esta teoria, está mais atenta á multiplicidade de factores que se verificam simultaneamente, e defendem que é muito mais relevante a influência interpessoal que se desenvolve nas relações entre indíviduos, que parece ser mais eficaz do que a que deriva directamente dos meios de comunicação, até porque podem atingir mesmo aqueles individuos que se expõem menos aos mass media, e aqueles que estão mais predispostos a mudar de atitude.

Assim, os indivíduos deixam de responder automaticamente e de uma forma uniforme aos estímulos dos mass media, e passam a ter reacções diferentes e específicas mediante os seus traços individuais e o âmbito social em que a comunicação decorre.

A função dos mass media também deixa de ser a manipulação dos valores para passar a ser o reforço de valores.. Os efeitos de reforço, prevalecem sobre os efeitos de conversão.


A TEORIA DOS EFEITOS LIMITADOS E A TEORIA PERSUASÃO

Como já foi referido, a teoria dos efeitos limitados é o seguimento da teoria da persuasão. Assim, todas as ideologias da teoria da persuasão são válidas para esta teoria.

Contudo, enquanto a teoria da persuasão atribui toda importância ás características psicológicas dos destinatários dos mass media, esquecendo o contexto social em que estes se encontram inseridos, a teoria dos efeitos limitados atribui ,mais do que ao psicológico dos indivíduos, grande importância ao contexto social.

Assim, a teoria da persuasão diz que é possivel obter efeitos de persuasão desde que as mensagens dos mass media sejam estruturadas de forma adequada ás características psicológicas dos destinatários. Já a teoria dos efeitos limitados, explicitam escassa relevância dos mass media em confronto com os processos de interacção social.

A teoria da persuasão ainda reside na ideia de que os mass media pode modificar os valores, que os efeitos dos mass media são possiveis desde que adequados, enquanto que o objectivo da teoria dos efeitos limitados não é modificar os valores mas reforça-los.

É também de salientar que na situação experimental, os sujeitos que constituem a amostra estão todos igualmente expostos á comunicação, enquanto que na abordagem empírica de campo, a audiência limita-se aqueles que se expõem voluntariamente á comunicação.

Na abordagem empírico-experimental, são estudadas certas condições com o fim de verificar qual a influência dos meios de comunicação sobre estas. Escolhem, assim deliberadamente temas que impliquem atitudes e comportamentos que sejam susceptíveis de ser modificados através de comunicação. Ao contrário, a abordagem empírica de campo, observa os comportamentos dos indivíduos em relação a temas mais significativos e profundamente enraizados na sua personalidade e, por isso, mais dificilmente influenciáveis."

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SOBRE WEBJORNALISMO

OU JORNALISMO ONLINE,

ANA PAULA DA ROSA ESCREVEU

O SEGUNTE ARTIGO,

QUE FOI DIVULGADO PELA

ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes

da Universidade de São Paulo):

 

"Jornalismo online
Mediamorfose x Fim do Gatekeeper

Por Ana Paula da Rosa*

Resumo

A Internet modificou a comunicação no mundo, derrubou fronteiras, reforçou aspectos da globalização e permitiu a integração das mídias (som, imagem e texto) em um único suporte. Desta forma, modificou as relações interpessoais e transformou sobremaneira o jornalismo. Nesse sentido, este trabalho tem a intenção de traçar um paralelo entre a teoria do newsmaking, com ênfase no aspecto do gatekeeping, e o atual processo de construção das notícias para a Internet, a partir do estudo de dois websites jornalísticos.

Uma vez que na web o próprio usuário pode escolher o seu caminho de leitura da informação, o chamado hipertexto, uma pergunta se torna crucial: o jornalista terá perdido a função de "guardião da informação" ou seu papel de "filtro" torna-se ainda mais essencial para evitar a desinformação pelo excesso?

Palavras-chave: Gatekeeping / Newsmaking / Jornalismo On-line / Rotinas Produtivas

Jornalismo Online: a mediamorfose em curso [1]

A Internet pode ser considerada a face mais visível da globalização, visto que informações de todos os lugares do mundo e sobre os mais variados assuntos estão disponíveis na rede. Manuel Castells (2000) afirma que a rede Internet é a espinha dorsal desta comunicação global mediada por computadores.

Desde a década de 90 o número de usuários da Internet só vem crescendo, se em 1995 eram cerca de 25 milhões de usuários, os últimos dados do Ibope dão conta de que este número já ultrapasse os 40 milhões. Só no Brasil são 11,55 milhões de usuários, que acessam a rede por um tempo médio de 16h54min.

Essa expansão da rede, inevitavelmente, afetou a toda a estrutura social, pois, tornou-se um substituto da comunicação sem mediadores e fez com que as relações se dessem mais na distância do que presencialmente. Na verdade, a presença deixou de ser um critério relevante, assim como as fronteiras territoriais e culturais deixaram de sê-lo.

Segundo Castells, a tecnologia digital permitiu a compactação de todos os tipos de mensagens, inclusive as que reúnem sons e imagens, e tudo isso sem que seja necessário um centro de controle.

A universalidade da linguagem digital e a lógica pura do sistema de comunicação em rede criaram as condições tecnológicas para a comunicação horizontal global. Ademais, a arquitetura dessa tecnologia de rede é tal, que sua censura ou controle se tornam muito difíceis. O único modo de controlar a rede é não fazer parte dela, e esse é um preço alto a ser pago por qualquer instituição ou organização, já que a rede se torna abrangente e leva todos os tipos de informação para o mundo inteiro (CASTELLS, 2000, p. 375-376)

No entanto, não há como não fazer parte da rede mundial de computadores, pois corre-se o risco de ficar alheio ao processo de evolução tecnológica, já que desde a produção de alimentos até atividades de entretenimento passam, em algum momento, pela Internet.

A comunicação neste sentido está intrinsecamente ligada à Internet, visto que é um canal de informação. Neil Postman (1994) definiu a era da Internet como um tecnopólio [2] e ao contrário de Castells considerava a informação digital uma ameaça para os homens.

"O computador define nossa era ao sugerir uma nova relação com a informação, com o trabalho, com o poder e com a própria natureza. A melhor maneira de descrever esta relação é dizendo que o computador redefine os humanos como"processadores de informação" e a própria natureza como informação processada. Resumindo, a mensagem metafórica fundamental do computador é que nós somos máquinas - máquinas pensantes, é bem verdade, mas mesmo assim máquinas. (POSTMAN, 1994, p. 117)

Neste aspecto, o jornalismo não poderia deixar de estar presente na Internet, não poderia ficar à margem, uma vez que os meios de comunicação possuem um papel essencial na sociedade, independentemente se bem desempenhado ou não, de organizar e de pautar os pensamentos, de sincronização. E se a Internet provocou amplas transformações culturais, seus efeitos no jornalismo foram e ainda o são muito grandes, até porque ainda se está tateando caminhos.

Na história dos meios de comunicação os avanços tecnológicos sempre serviram como uma mola propulsora para o seu desenvolvimento, da prensa de Gutemberg ao transistor, da fotografia instantânea à imagem "ao vivo" na televisão, no entanto o aparecimento da Internet afetou, diretamente, as formas de produção do jornalismo.

Essas mudanças se deram, principalmente, em dois níveis: nas rotinas de produção, no "manuseio" da informação e, em segundo lugar, nas possibilidades de difusão das informações, pois com um novo suporte as exigências em termos de formatos passaram a ser outras, porque os próprios consumidores destas informações se modificaram. Jorge Pedro Souza [3] afirma que o "jornalismo on-line não exterminou o jornalismo noutros media, mas modificou-o, obrigando-o a uma adaptação constante, num processo que Roger Fidler denomina mediamorfose".

A mediamorfose se dá, em grande parte, pelo fato da Internet possibilitar a convergência das mídias, ou seja, permitir que os textos se somem às imagens e aos sons, se integrem, exigindo cada vez mais habilidades por parte de quem produz e abastece este meio com informações.

Os jornais foram os primeiros a migrar para a rede mundial de computadores e continuam fazendo sucesso, talvez porque o texto seja ainda mais procurado na rede do que as imagens e as músicas, itens indispensáveis para rádios e televisões. Em princípio, os jornais que disponibilizaram conteúdos para a Internet eram apenas cópias dos jornais impressos, hoje esta realidade começa a ser modificada, mas os produtos desenvolvidos especialmente para a web ainda são muito poucos.

Na maioria dos casos, embora se utilizem imagens, um design elaborado e a possibilidade da interatividade, se faz ainda uma mera transposição dos textos publicados nos jornais impressos para o online. Um dos avanços obtidos é a utilização de hiperlinks sobre os assuntos noticiados, ou seja, há um banco de dados à disposição do usuário o que altera a linearidade da leitura. No jornalismo online é possível que um caminho diferente seja criado de um leitor para outro, de acordo com seus interesses.

Porém, de todos os avanços referentes ao jornalismo na rede o maior talvez seja a capacidade de estar em constante atualização. Alguns sites modificam suas matérias principais a cada 30 minutos, outros chegam a 5 minutos e os blogs informativos podem ser atualizados a cada minuto.

De certa forma é esta permanente atualização das informações que se torna perigosa, já que toda notícia é uma construção. Mediante este quadro, qual é o papel do jornalista na Internet? Ele ainda é uma peça fundamental para a difusão da informação ou se tornou obsoleto como as velhas máquinas de escrever? O jornalista ainda possui as chaves dos portões que permitem o acesso ou não às informações?

Este artigo tenta encontrar tais respostas, focalizando a discussão na teoria do newsmaking e do gatekeeping.

Da teoria do espelho às chaves dos portões

Em se tratando da Internet, um suporte de difusão recente, como saber utilizar o potencial do jornalismo online? A Internet já é suficientemente antiga para ter uma história repleta de dados sobre a criação de equipamentos ou linguagens que permitem seu funcionamento, no caso o HTML.

Contudo, ainda é recente demais para que alguém esteja
disposto a arriscar dizer o que deve ser feito. Isto significa que não há uma fórmula pronta, acabada, de como devem ser as notícias disponibilizadas na rede. Os manuais de redação traçam alguns indícios, mas não servem, nem de longe, como um guia a ser seguido à risca.

Portanto, para entender por que as notícias são do jeito que são é preciso entender primeiro como as notícias são feitas, fabricadas, e isso independente de como estejam sendo disponibilizadas. A hipótese mais antiga para a resposta deste conflito é de que as notícias são assim porque a realidade assim as determina. Segundo a teoria do espelho, as notícias apenas refletem o mundo a sua volta, pois os jornalistas são seres neutros, meros observadores e relatadores dos fatos.

Nas palavras de Nelson Traquina (1993) sobre esta teoria, os jornalistas "limitam-se a recolher a informação e a relatar os factos, porque, enfim, os jornalistas são simples mediadores que reproduzem o acontecimento na notícia" (p. 133). Tal concepção é logo contestada, já que o trabalho de mediar uma informação não é por si só algo simples. Além disso, nem com todos os aparatos tecnológicos ou todas as técnicas de narrativa é possível "reproduzir", fielmente, um acontecimento, pois este mesmo acontecimento ao ser transformado em notícia, em um texto (entendido aqui como um todo de sentido) passa a ser representado.

A representação nunca contempla a realidade, é sempre com base em um referente que, no entanto, nunca pode ser retido, reproduzido. Para legitimar o poder dos jornalistas, em não raras vezes, esta noção de espelho, de retrato fiel, de reflexo da sociedade foi empregada e, especificamente, no Brasil a imprensa é vista pela população como uma espécie de "inquiridor", de "testemunha ocular" e de "portadora da verdade absoluta". Isto é comprovado quando, por exemplo, os fatos divulgados passam a ser aceitos como inquestionáveis, mesmo que estejam errados.

Outro exemplo que pode ser citado é no que se refere à pobreza, quando ela é mediada tal como é na "realidade", transformada em notícia, passa a ser uma preocupação, porém inúmeras vezes a favela está ao lado de quem lê, escuta, assiste ou acessa tal informação e mesmo assim a miséria lhe é indiferente.

Em contraposição à teoria do espelho surgiu a idéia do gatekeeping, que consiste em um processo de seleção pelo qual as mensagens passam antes de serem encaminhadas para seus destinatários. O termo gatekeeper refere-se à pessoa que toma as decisões e foi criado pelo psicólogo Kurt Lewin, apresentado pela primeira vez em um artigo publicado em 1947 que versava sobre o momento da escolha na hora de adquirir alimentos. David Manning White (White In Traquina, 1993) foi o primeiro a traçar relações com a área de comunicação.

O Dr. Lewin salientou que a passagem de uma notícia por determinados canais de comunicação estava dependente do facto de certas áreas dentro dos canais funcionarem como gates. Levando a analogia ainda mais longe, Lewin afirmou que certos sectores dos gates são regidos por regras imparciais ou por um grupo "no poder" tomar a decisão de "deixar entrar" ou de "rejeitar". Compreender o funcionamento do gate, ainda segundo Lewin, seria equivalente a compreender os factores que determinam as decisões dos gatekeepers, e sugeriu ainda que a primeira tarefa de diagnóstico é a descoberta dos verdadeiros gatekeepers" (WHITE in TRAQUINA, 1993, p. 142)

Pensando em identificar os verdadeiros "guardiões dos portões" da informação, White fez um longo estudo a respeito da forma como um editor define o que irá para o jornal no dia seguinte e o que será, simplesmente, excluído. A conclusão de White foi a de que os critérios subjetivos é que definiram os assuntos pertinentes, tendo como base o conhecimento de mundo, o nível cultural e as próprias experiências do editor.

Ao ser inquirido sobre o tipo de leitor típico, o próprio editor que participou do estudo de White disse que "todos têm direito a notícias que lhes agradem ("estórias" que impliquem meditação e actividade) e que os informem do que se passa no mundo" (p. 151), deixando transparecer que tem a ilusão de que sabe o que o público deseja. Aliás, o jornalista por ser também um representante da população acaba por assumir, inúmeras vezes, esta postura de conhecedor pleno dos interesses da sociedade.

Depois do estudo de White outros pesquisadores se dedicaram às questões do gatekeeping, sendo que Maxwell McCombs e Bernard Shaw passaram a dar ênfase na questão da formação da agenda dos meios de comunicação e, por conseqüência, dos cidadãos. O agenda setting seria uma hipótese em que os meios, por aquilo que é selecionado e publicado, em detrimento de outras questões e aspectos, definem sobre o quê vale a pena pensar.

Já Hirsch acreditava que a questão principal dos critérios de seleção das informações residia nas normas profissionais e não nas razões subjetivas.

Neste sentido, Warren Breed (BREED in TRAQUINA, 1993) se debruçou sobre o aspecto da rotina produtiva e organizacional da "construção das notícias", defendendo que os interesses das empresas de comunicação interferem, diretamente, no processo de definição do que será veiculado.

A política do publisher, quando estabelecida numa dada área temática, é geralmente seguida, e que a descrição da dinâmica situação sócio-cultural da redacção sugerirá para este conformismo. A fonte de recompensas do jornalista não se localiza entre os leitores, que são manifestadamente seus clientes, mas entre seus colegas e superiores. Em vez de aderir a ideais sociais e profissionais, ele redefine os seus valores até o nível mais pragmático do grupo redactorial. Ele ganha, desse modo, não só valores até ao nível do estatuto mas também a aceitação num grupo solidário empenhado num trabalho interessante, variado e, por vezes, importante. Assim, os padrões culturais da sala de redação produzem resultados insuficientes para as mais vastas necessidades democráticas. Qualquer mudança importante tendente a uma "imprensa mais livre e responsável" devem provir de várias possíveis pressões sobre o publisher, que incorpora o papel decisório e coordenador" (BREED in TRAQUINA, 1993, p. 166)

Com base nas questões levantadas por Breed, de que as forças sociais influenciam a produção da notícia, foi verificado que a cultura profissional do jornalista e as suas práticas de rotina também afetam o produto final, o que foi denominado de teoria construcionista. Tanto o debate a cerca da questão organizacional como sobre as rotinas diárias de trabalho fazem parte do que se chama de newsmaking, numa tradução bem simples da forma de fazer o jornalismo.

Nelson Traquina (1993) ressalta que "é o acontecimento que cria a notícia, mas que ao mesmo tempo a notícia cria o acontecimento" (p. 135). Assim, este fato não pode ser "relatado", como supõe a teoria do espelho, sem que aspectos do processo de produção interfiram.

Enfim, as notícias são construções que refletem não o fato puro em si, mas situações organizacionais, não apenas relacionadas à empresa como também às instituições sociais e à própria rotina do repórter, que precisa conviver com a pressão do tempo e com a multiplicidade de assuntos que ele tem de estar apto para abordar em um único dia. No jornalismo online esta questão do tempo se torna ainda mais preponderante.

Do criador aos valores da notícia

A hipótese do newsmaking dá ênfase à produção das informações, ou seja, à potencial transformação dos acontecimentos diários em notícia. Porém, o enfoque não está no receptor desta informação, mas sim no emissor, no profissional, e em todas as etapas de produção da notícia, desde a captação até a sua distribuição. Para Antônio Hohlfeldt (2001) as notícias são o que os jornalistas definem.

O acontecimento se transforma em notícia quando, trabalhado pelo órgão de informação, entra na agenda do público receptor. A noticiabilidade de um fato pode então ser analisada segundo sua possibilidade de integrar-se ou não ao fluxo normal e rotineiro da produção de informação. Noticiar é um processo organizado que implica uma perspectiva prática dos acontecimentos, uma série produtiva que vai da pragmaticidade à factibilidade, num processo múltiplo de descontextualização e recontextualização de cada fato, enquanto narrativa jornalística. A noticiabilidade está regrada por valores-notícia, conjunto de elementos e princípios através dos quais os acontecimentos são avaliados pelos meios de comunicação e seus profissionais em sua potencialidade de produção de resultados e novos eventos, se transformados em notícia (HOHLFELDT, 2001, p. 208)

Os valores de noticiabilidade, no entanto, só podem ser observados depois que um acontecimento se converteu em notícia, quando os valores que influíram na seleção de tal informação podem ser identificados. A noticiabilidade nada mais é do que um conjunto de normas que justifica os procedimentos operacionais e editoriais adotados pelos meios de comunicação.

Estes critérios podem ser praticamente infinitos, mas conforme Mauro Wolf (1995), reforçado por Antônio Hohlfeld (2001), é possível afirmar que os valores-notícia derivam de cinco grandes categorias:

a) características substantivas (conteúdo);

b) critérios relativos ao produto (atualidade e acessibilidade);

c) ao meio de informação (quantidade de tempo destinado);

d) ao público (a imagem que se faz dos receptores) e, por fim,

e) à concorrência ( à pauta do concorrente).

Para Wolf os critérios de noticiabilidade são variáveis e alguns acontecimentos que há anos não mereceriam destaque, hoje ocupam grande parte dos jornais.

Os valores-notícias mudam no tempo e, embora revelem uma forte homogeneidade no interior da cultura profissional - para lá de divisões ideológicas, de geração, de meio de expressão, etc. -, não permanecem sempre os mesmos. Isso manifesta-se claramente na especialização temática que, num determinado período histórico, os meios de informação conferem a si próprios. Assuntos que, há alguns anos, simplesmente "não existiam", constituem atualmente, de uma forma geral, notícia, demonstrando a extensão gradual do número e do tipo de temas considerados noticiáveis. (WOLF, 1995, p. 198)

Enfim, a respeito dos valores-notícia e da produção da informação como um todo pode-se afirmar, com base em Hohlfeldt que são necessárias quatro etapas:

1) captação de informações em fontes variadas (agências, prefeituras, comunidade);

2) seleção das informações, espécie de filtragem;

3) apresentação e edição (construção da narrativa e da notícia);

4) distribuição (levando em contra critérios como espaço, tempo e suporte).

Entretanto, o aspecto que mais tem sofrido modificações em função da Internet entre estas quatro fases para o estudo do gatekeeping, ou seja do fazedor da notícia, é a de captação dos dados. Logo no surgimento do jornalismo a tarefa do repórter era "caçar" a informação, raramente ele era visto na redação.

Atualmente, a informação chega à mesa do repórter, sem que ele precise sequer deixar o computador, a sua principal tarefa é selecionar entre aquilo que lhe chega nas mãos o que deve ou não ser publicado.

É claro que a reportagem de rua não sumiu completamente, mas em se tratando do jornalismo online, que lida com a ilusão do "tempo real", do "instante", o trabalho de seleção e "confecção" da notícia é muito mais ágil e muitas vezes se privilegia a instantaneidade em detrimento da informação verificada, aprofundada. Neste sentido, Ignácio Ramonet (1999) afirma que o valor decisivo de uma notícia na atualidade é a velocidade.

Hoje, principalmente, trata-se da rapidez com a qual esta informação é difundida. Ora, a "boa" rapidez, agora, é a instantaneidade que, é claro, para qualidade da informação, é um critério perigoso. Entretanto, etimologicamente, o termo "jornalista" significa exatamente "analista de um dia". Supõe portanto que analisa o que se passou no próprio dia, ainda que deverá ser muito rápido para conseguí-lo! Mas hoje, com a transmissão direta, e em tempo real, é o instante que é preciso analisar. Portanto, um jornalista deveria chamar-se um "instantaneísta", ou um "imediatista". (...) O sistema informacional começa a considerar, pouco a pouco, que há valores importantes (instantaneidade, massificação) e valores menos importantes, isto é, menos rentáveis (critérios da verdade). (RAMONET, 1999, p. 74)

No entanto, mais do que os valores-notícia os hábitos dos profissionais da mídia, as rotinas reproduzidas, cotidianamente, influenciam na seleção das informações. Para Barros Filho & Martino (2003) a prática jornalística está diretamente ligada a uma série de regras e padrões que interferem na ação de escrever e de publicar uma notícia. O que se faz numa redação é reproduzir hábitos, a maioria deles enraizados, interiorizados pelos profissionais e que muitas vezes acabam funcionando como uma espécie de censura ou limitação da própria atividade.

Pierre Bordieu (Bordieu in Barros Filho & Martino: 2003) define as rotinas jornalísticas como habitus que é um princípio gerador e regulador das práticas cotidianas que resulta em reações, aparentemente, espontâneas. Éuma espécie de acordo tácito. "Uma determinada prática social é produzida a partir da relação entre a estrutura objetiva definidora das condições sociais de produção do habitus e as condições nas quais ele pode operar, ou seja, na conjuntura em que está inserido" (p. 115-116).

Com o advento da Internet e o jornalismo online o habitus dos jornalistas passou por algumas adequações ao novo suporte. Não que as rotinas tenham se modificado por completo, mas as preocupações com a objetividade e os textos concisos aumentaram. Além disso, a pressão do tempo que nas redações dos jornais impressos já é grande, se tornou ainda mais imperiosa e a busca da instantaneidade se incorporou ao habitus. Conforme Jorge Pedro Sousa (2000)

As rotinas, até porque muitas vezes diferem de organização para organização, são freqüentemente corrigidas, mas, na minha opinião, são também o elemento mais visível que permite mostrar que a maior parte do trabalho jornalístico não decorre de uma pretensa capacidade intuitiva para a notícia e nem de um hipotético "faro" jornalístico, mas de procedimentos rotineiros, convencionais e mais ou menos estandartizados de fabrico da informação de actualidade. (...) A divisão do trabalho surge, assim, como uma forma de assegurar que o fabrico do produto se realize, bastando, para tal, assegurar o fornecimento regular da matéria-prima, que, no caso do jornalismo, é, principalmente, matéria-prima informativa, isto é, seu referente discursivo, o acontecimento em bruto. (SOUSA, 2000, p. 54)

Jornalista de web: fundamental ou dispensável?

A notícia passou a ser chamada de informação, a edição de hoje, é a de agora. A notícia longa e sem fotos se transformou em uma informação curta, com verbos na voz ativa, com sons e imagens e com títulos sedutores. O papel jornal cedeu lugar para a tela do computador, que pode ser acessado em qualquer lugar e a qualquer hora.

Enfim, o jornalismo mudou. A constatação talvez possa parecer óbvia demais, porém se o jornalismo mudou com a Internet quanto não terá mudado o jornalista? Atualmente, a rede mundial de computadores desempenha um duplo papel, é ao mesmo tempo fonte e veículo de comunicação, sendo que esta múltipla capacidade exige dos jornalistas uma ampla consciência de seu trabalho para evitar que o excesso de dados não se transforme em um ruído na comunicação, ainda mais que na rede o modelo de difusão não é apenas de um-para-todos, mas também de todos-para-todos.

Não obstante, há um novo desenho das redações e os profissionais possuem novas atribuições. Os jornalistas tendem a ser autônomos e a ser considerados como produtores de conteúdos multimídia. Além disso, as rotinas produtivas foram alteradas em função dos critérios utilizados para "construir" a informação na web. Zélia Leal Adghirni [4] afirma que há uma tendência mundial em "enxugar" as redações e criar equipes novas para o jornalismo online, sendo que praticamente não há ligação entre uma redação e outra. "As rotinas produtivas do jornalismo online são semelhantes no que se refere à coleta de informações.

O que muda fundamentalmente é a distribuição das notícias, porque a palavra de ordem é TR" [5]. Se a palavra de ordem é tempo real, é a instantaneidade, o webjornalista precisa manter-se constantemente conectado ao jornal e à rede, trabalhando assim com muitos horários de fechamento. Segundo Adghirni a "notícia é constantemente renovada, no mesmo ritmo das agências. A informação cresce palavra por palavra, linha por linha, na medida em que os acontecimentos se produzem".

Neste sentido, ao que tudo indica a maior diferença entre um jornalista da mídia impressa, por exemplo, e um webjornalista é a rotina produtiva.

O processo de "fabricação" da notícia continua ocorrendo, mas e a função de gatekeeper continua existindo? Na rede mundial de computadores as informações estão disponíveis constantemente, no entanto é preciso ter critérios para identificar a informação relevante entre tantos dados ofertados.

Contudo, essa seleção se torna bastante difícil em função, exatamente, do excesso de dados e da abundância das fontes, o que demanda do jornalista uma maior cautela na hora de definir quais serão as fontes ouvidas, com vistas a evitar erros e a perda da credibilidade do próprio veículo de comunicação na web. Para Jorge Pedro Sousa, a opção para realizar um jornalismo eficaz na Internet é respeitar os valores e "regras" éticas utilizadas no jornalismo tradicional.

A resolução deste impasse poderá residir nas ferramentas habituais do jornalismo: a contrastação de fontes, a rede de facticidade discursiva, a inquirição sobre quando a informação disponível foi elaborada e disponibilizada. Mesmo assim, corre-se o risco de se acentuar o recurso às fontes de rotina, devido à falta de tempo para se avaliarem todas as fontes e informações disponíveis, mas relativamente desconhecidas do jornalista, que serão cada vez mais. A abundância de fontes e de informação é um dos factores que incentivará o processo de especialização jornalística. Só um jornalista crescentemente especializado e capaz de fazer análise e associar ideias e informações poderá mover-se num cenário de super-abundância de recursos informativos. (SOUSA, texto publicado no site http://www.bocc.ubi.pt )

O jornalista, ao que tudo indica, diante do ciberespaço e das informações disponíveis na rede tem uma tarefa árdua a realizar, pois o seu caráter de "filtro" da informação continua valendo, talvez até mais. Na web a necessidade de oferecer a informação mais importante e de forma ágil faz com que o jornalista seja imprescindível, já que o leitor-internauta dificilmente buscará um jornal online se não tiver a notícia que deseja ao alcance de alguns poucos cliques.

Além disso, se o jornalista está, gradativamente, se transformando em um fornecedor de conteúdo ele precisa ter condições de oferecer informações aproveitando todos os recursos que a rede proporciona.

Entretanto, conhecer apenas a linguagem da Internet, as técnicas do multimídia, não adianta, o profissional do jornalismo online terá de reunir todas as "competências" ou habilidades dos jornalistas da mídia impressa, do rádio e da televisão.

Ele terá de respeitar os mesmo valores como proporcionar o contraponto, verificar e rever os dados escritos, certificar-se de que aquilo que é postado no site tem credibilidade de fontes e de que o texto está bem construído em relação à língua portuguesa. O texto dos jornais online só deve ser publicado depois de editado, o que já configura uma função do gatekeeper.

Para Inês Aroso [6], o jornalismo está sendo reinventado na web. A pesquisadora cita Jim Hall que, ao contrário do dito anteriormente, acredita que a função de gatekeeper se extinguiu com o advento da Internet, uma vez que as fontes primárias estão acessíveis às audiências, ou seja, aos usuários da rede, sendo que os próprios leitores-internautas se transformaram em contadores de histórias, antes papel exclusivo do jornalismo.

A maioria dos pesquisadores, porém, ainda defende a função de gatekeeper do jornalista, visto que a tarefa é selecionar, escolher dentro de toda a gama de dados disponíveis aquilo que parece ser o mais importante. Na verdade, o que se descortina diante dos olhos é uma reconquista da função do gatekeeper, ou melhor, um reforço desta idéia, pois o jornalista poderá ter as chaves que guardam as informações credíveis e úteis.

Para Inês Aroso "com o jornalismo online ocorre uma revalorização da mediação do jornalista. Saber explicar e dar uma interpretação dos acontecimentos será algo cada vez mais valorizado".

Independentemente da polêmica, é certo que os jornais digitais concorrem com os sites que disponibilizam a informação "diretamente da fonte", porque há uma liberdade de conteúdos na rede. Muitas informações são disponibilizadas primeiros em sites de partidos, em blogs pessoais e só depois passam a constar nas páginas e sites dos jornais.

Se por um lado o jornalismo não está pronto para essa liberdade de conteúdo, por outro os anos têm mostrado que os usuários da web também não estão, já que ainda se necessita de uma informação organizada. Conforme Jorge Pedro Sousa

No dia a dia as pessoas continuam a preferir e eu diria até a necessitar da informação seleccionada, avaliada, hierarquizada, organizada e muitas vezes com uma mais valia de análise e de opinião que lhes é oferecida pelos jornalistas e pelos meios jornalísticos. Por isso, a concorrência entre provedores de informação na Internet contribui para modificar o jornalismo, mas também é a sua garantia de sobrevivência e de crescente qualidade. (SOUSA, texto publicado no site http://www.bocc.ubi.pt)

Dois jornais, mesmas notícias

Embora se discuta muito a manutenção ou o desaparecimento da função de gatekeeper com a difusão das novas tecnologias, nada melhor que verificar na prática o que os jornais online estão publicando e como as notícias estão sendo construídas. Tendo como base os jornais Globo Online e Folha de S.Paulo Online é possível identificar muitas semelhanças entre os textos e na escolha dos assuntos pertinentes.

Os dois jornais foram analisados no dia 13 de agosto, por volta das 19h30min, sendo que a matéria de capa nos dois veículos era a mesma, ou seja, a morte do deputado Miguel Arraes. Até mesmo os títulos são quase iguais, como exemplificado abaixo:


Fig. 1 Folha de S.Paulo: "Miguel Arraes morre aos 88 anos em Recife".



Fig. 2 Globo Online: "Miguel Arraes morre em Pernambuco".

Na capa dos sites foram feitos pequenos leads com as informações mais importantes sobre a morte do político, seguindo o esquema da pirâmide invertida [7]. Além dos dados da doença que vitimou Miguel Arraes, o local do velório e do enterro, ambos os sites deram a notícia de que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, iria participar do enterro do político do PSB em Pernambuco. A Folha divulgou uma matéria ampla, sem citações e baseada em informações do assessor de imprensa do PSB.

O texto foi construído com verbos na voz ativa, mas sem explorar os recursos multimídia, apenas com uma foto boneco do político. Abaixo do texto, foram disponibilizados diversos hiperlinks [8] para outras páginas da web em que Miguel Arraes foi o personagem principal como, por exemplo, as frases famosas do ex-governador. O jornal O Globo também disponibilizou uma matéria contando a história do líder do PSB e detalhes sobre sua morte, sendo que muitos dados eram exatamente iguais aos divulgados pela Folha.

Em contrapartida, O Globo valorizou os recursos da rede oferecendo aos usuários um banco de imagens históricas do político em diversos momentos de sua vida pública, além de links com informações já publicadas e uma biografia do ex-governador e líder da esquerda brasileira. Na página abaixo é possível verificar as semelhanças, inclusive de disposição espacial, entre os dois jornais disponíveis na rede.

Paralelamente à informação da morte de Miguel Arraes, a crise política no Brasil também obteve destaque. Tanto na Folha de S.Paulo Online como no Globo Online foi noticiado que a Polícia Federal pediu ajuda ao FBI e à Interpol para obter informações sobre contas de Marcos Valério no exterior. O texto de ambos os jornais é bastante parecido, longo, com uma média de 10 parágrafos. Outro assunto presente na pauta dos dois jornais foi a morte do ator global Francisco Milani com praticamente as mesmas informações.

Ainda tiveram destaque notícias relacionadas ao futebol com ênfase no Campeonato Brasileiro e nos resultados dos jogos de sábado. No espaço "Plantão" de O Globo e "Em cima da hora" da Folha a mesma notícia de que o time de Ronaldinho Gaúcho, o Barcelona, venceu por 3x0 o Betis foi postada tão logo a partida terminou na Espanha. Estes aspectos demonstram que o jornalismo digital continua fortemente baseado nas práticas do jornalismo convencional.

Os recursos da Internet são pouco explorados no sentido de ampliar a cobertura e oferecê-la de forma completa, sendo que o texto continua como o ponto principal. No que diz respeito à matéria jornalística, no entanto, as informações parecem ser menos aprofundadas, baseadas em apenas uma fonte, muitas vezes assessorias de comunicação, o que mostra uma preocupação ampla com a instantaneidade e o fator tempo, em alguns casos em detrimento da notícia verticalizada.

A padronização dos textos e assuntos corrobora com a hipótese de que o jornalista continua desempenhando a função de gatekeeper, visto que os "acontecimentos" selecionados e os valores-notícia empregados por veículos diferentes foram, praticamente, iguais. No caso da morte de Miguel Arraes até mesmo a disposição topológica no site foi parecida.

Comparando as informações publicadas nos dois jornais com as notícias disponibilizadas pela Agência Estado percebe-se uma forte dependência do material disponível na própria rede, tanto que o resultado do jogo do Barcelona foi postado tão logo a partida encerrou e sobre o mesmo aspecto, tal qual foi divulgada na Agência Estado.

Mediante esta breve análise é possível identificar que os jornalistas continuam filtrando a informação, pois com certeza durante o dia 13 de agosto outros assuntos poderiam ocupar a página principal dos sites noticiosos e foram desprezados. Um dos critérios de noticiabilidade mais utilizado na edição analisada é o fator concorrência, uma vez que ambos os jornais trabalharam as mesmas informações, sobre o mesmo prisma, até mesmo em função de outro valor-notícia que é a acessibilidade.

Os usuários da rede, que acessaram os sites dos jornais entre 19h30min e 20h tiveram a chance de obter informações que os veículos consideraram importantes e selecionaram para serem lidas, ou seja, o leitor-internauta pôde escolher dentre aquilo que lhe foi oferecido para escolher, mesmo que muitos outros dados estivessem disponíveis na Internet.

Considerações Finais

É consenso que a Internet aproximou os países, as culturas e as pessoas, no entanto esta é uma aproximação que se dá à distância, somente por meio do computador. É consenso também que o jornalismo está passando por mudanças em função do advento da rede mundial de computadores, pois há um excesso de informação disponível, o que exige cada vez mais habilidade para encontrar dentre estes dados em abundância aqueles que realmente importam.

Neste sentido, a função de gatekeeper, de "filtro", desempenhada historicamente pelos jornalistas, parece estar sendo revitalizada. Ao contrário do que alguns pesquisadores supõem de que os usuários da Internet terão autonomia suficiente para encontrar os dados que precisam, essa tarefa de pautar os temas relevantes parece estar ainda mais ligada à figura do jornalista, visto que os acontecimentos são definidos e surgem a partir dos recortes e das construções dos profissionais da mídia.

É claro que as informações estão disponíveis na rede, ao alcance de qualquer pessoa, porém mesmo com as ferramentas de busca por assuntos ainda são localizadas centenas de páginas com informações pouco relevantes, sendo que o webjornalista desempenha, exatamente, esta função de mediação entre o leitor-internauta e o acontecimento. Em não raras vezes, o jornalista é visto como um fornecedor de conteúdo, mas para que este processo aconteça, primeiro ele tenta encontrar o que vale a pena ser lido, o que é pertinente, agindo como um selecionador, como um guardião dos portões da notícia.

Mesmo que a leitura na Internet não seja linear e permita ao usuário traçar o seu próprio caminho, os jornais digitais proporcionam diretrizes, oferecem links com páginas para aprofundar as informações, continuam assim pautando e sincronizando a sociedade ao padronizar os assuntos.

Um exemplo claro são os jornais Folha de S.Paulo Online e O Globo Online que trouxeram no dia 13 de agosto as mesmas notícias, sob os mesmo enfoques. Já se sabe que a teoria do espelho, de que o jornalismo reflete a realidade tal como ela é, não passa de uma ilusão, no entanto a hipótese do gatekeeper é reforçada na Internet. O webjornalista ou ciberjornalista precisa estar mais preocupado com seu leitor, pois na rede o usuário está mais presente na notícia, principalmente com a possibilidade de interação que a Internet oferece.

Contudo, a interatividade não extingue a função do jornalista, cria na verdade um elo entre o usuário e o repórter, uma vez que a informação pode ser melhorada, ampliada com a ajuda do leitor. A Internet possibilita o jornalismo público, ou seja, aquele em que há a participação efetiva da sociedade, mas ainda é uma prática pouco empregada, porque os espaços disponíveis para a interação são ainda muito restritos como enquetes e comentários, que na verdade proporcionam uma pseudo-participação, já que os usuários escolhem dentre o que há para ser escolhido.

Existem sites jornalísticos que trabalham apenas com os recursos do "control C, control V", colando dados da própria rede, sem verificar as informações. A pressão do tempo real faz com que isto aconteça em detrimento da informação qualificada, transformando o jornalista em instantaneísta como defende Ignácio Ramonet.

Porém, cabe aos próprios veículos de comunicação e jornalistas, que estão passando pela mediamorfose, valorizar o trabalho de captação da informação e de construção da notícia, uma vez que os princípios éticos e morais não podem ser modificados apenas em função de um novo suporte. O jornalista na web será a cada dia mais responsável por hierarquizar os fatos, atribuindo-lhes diversas e aprofundadas interpretações para evitar que o excesso de dados resulte na desinformação.

Enfim, o jornalismo digital e a figura do jornalista não vão desaparecer, exceto se o próprio jornalista permitir, mas isto só o tempo poderá mostrar.

Notas

[1] Texto apresentado no IntercomSul 2006 no GT 04 de Jornalismo. Foi publicado também na Revista Digital Comunicação e Estratégia em janeiro deste ano.

[2] O termo tecnopólio é empregado em contraposição à palavra tecnocracia, sendo que designa a submissão de todas as formas de vida cultural à soberania da técnica e da tecnologia.

[3] Jorge Pedro Sousa em artigo apresentado no Intercom

[4] Zélia Leal Adghirni em texto apresentado para o Intercom.

[5] TR: abreviatura de tempo real, termo chave para o jornalismo na web.

[6] Texto disponível no site http://www.bocc.ubi.pt com o título de "A Internet e o novo papel do jornalista".

[7] Pirâmide invertida é uma das normas de redação seguidas por praticamente todos os veículos de comunicação que consiste em redigir o texto a partir do aspecto mais importante, deixando detalhes menos relevantes para o final.

[8] Hiperlink, segundo Lúcia Leão (1999), são vínculos eletrônicos (links) que constituem o hipertexto, sendo que as páginas da web são compostas por diversos itens de hiperlinks que formam uma espécie de "menu de links", possibilitando ao usuário visitar outras páginas sobre o tema e ter acesso a um número maior de informações (p. 28-29).

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Outras referências

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Sites:


*Ana Paula da Rosa é jornalista graduada pela Universidade Passo Fundo (RS), especialista em Comunicação Jornalística pela Universidade de Caxias do Sul (RS) e mestranda em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná."

(http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/artigos7_a.htm)