OZANIR ROBERTI :

 

Esta história, a quinquagésima sexta, não ocorreu propriamente comigo, mas com um grupo de colegas da Faculdade Nacional de Direito. Eu estava no quarto ano, o penúltimo do curso, mas tudo aconteceu com a turma que o estava terminando, o pessoal que se formou em 1972. Nem todos souberam desse evento, mas alguns, com certeza, ouviram falar dele e do perigo que ele representou para as suas formaturas.

Um presentinho inocente

O Vicente e eu, alunos do quarto ano, estávamos, um dia, conversando com um grupo de amigos do ano mais adiantado, aquela turma que iria se formar naquele ano de 1972. Acho que era a turma do Ilídio, do Roberto, do André, do Homero; com exceção do primeiro, grande advogado criminalista, os demais, como eu, vieram para o magistério.

Eles tinham como titular um professor de Direito Civil e Romano de prestígio internacional, um grande latinista, autor dos livros mais conhecidos de Língua Latina, chamado Vandick Londres da Nóbrega, também diretor-geral do Colégio Pedro II. Seus livros eram muito bons! Eu mesmo havia usado um deles nas minhas aulas de Latim para os meus alunos do Artigo 99, “O Latim para o Exame de Licença”. Havia, ainda, o livro mais usado nas escolas do fundamental que ensinavam a língua latina, o “Latim do Ginásio”, da onipresente Companhia Editora Nacional. Ele era, também, autor de “Compêndio de Direito Romano”, obra obrigatória para todos os estudantes de Direito, da Freitas Bastos. Para muitos, porém, era um homem reacionário, que apoiava a ditadura militar instalada no país em 1964.

Aliás, dizem os historiadores, que esse foi o período mais agudo desse governo militar. Após a doença de Costa e Silva (1969), houve uma trinca de militares – o povo mais politizado chamava de “troika”, aludindo a regimes de força, principalmente aos comunistas da União Soviética – os quais assumiram o poder para, logo depois, determinarem a presidência de Emílio Garrastazu Médici e a vice-presidência de Augusto Rademaker (1969 a 1974), um dos integrantes da “troika”.

Vandick era próximo de Rademaker, talvez por isso não fosse muito querido pelos alunos e por parte dos professores da FND. Dizem que, por isso, por suas tarefas na direção do Pedro II e por seus compromissos com instituições latinistas pelo mundo, delegou a docência da turma a um assistente, acho que ele se chamava Agostinho ou Augustinho.

Era bem mais jovem que o titular e, numa conversa franca e amigável, com alguns alunos, fizera referência a uma admiração extraordinária pela beleza de uma aluna, principalmente pelo sorriso e pelas pernas, cujo nome não me ocorre. Dizia:

- Ela tem o sorriso e as pernas mais lindas que já vi!

Pois então, aquilo foi suficiente para que esse grupo, famoso pelas brincadeiras das duas turmas mais adiantadas do curso, arquitetasse uma armação para ajudar a turma toda a concluir logo o curso.

Era a semana da prova final de Direito Civil e Romano. Eles compraram um presente que não era caro, mas se enquadrava naquele tipo que chama a atenção devido às marcas claras de agradecimento: uma placa de prata com dizeres mais ou menos assim: “Para o mestre de Direito Civil e Romano, com os agradecimentos dos alunos ao melhor professor da Faculdade Nacional de Direito.”

Claro que a pessoa a entregar o presente, foi a tal jovem do sorriso e das belas pernas.

Isso ocorreu no dia em que se sabia que o professor, agora fortemente influenciado, estaria preparando a prova final.

O problema foi que tudo chegou aos ouvidos do severo Vandick, e ele reivindicou o direito de ele mesmo aplicar a prova, que, segundo ele, seria oral.

Foi um caos!

Não sei bem como se resolveu a situação, mas há duas versões: a primeira é que fizeram uma segunda placa exatamente igual e a deram ao Vandick; e a segunda é que o próprio assistente entregou o presente ao chefe, dizendo que tinham dado a ele para que fosse o encarregado de levar o mimo ao chefe.

Mas o fato é que a prova não foi oral, e foi bem fácil!

 

 

Francisco DaCunha

  · 

CUNHA E SILVA FILHO 

MEU COMENTÁRIO INSPIRADO   NAS HISTÓRIAS DO ILUSTRE PROF. DE LÍNGUA PORTUGUESA E  DISTINTO  MEMBRO DA ACADEMIA BRASILERIA DE FILOLOGIA(ABRAFIL), OZANIR ROBERTI, O QUAL VEM PUBLICANDO VÁRIAS HISTÓRIAS INTERESSANTES, CHEIAS DE VERVE, DE HUMOR. ALGUMAS HILARIANTES ACERCA DE ACONTECIMENTOS DO COTIDIANO DE UM PROFESSOR BRASILERO RELACIONADOS COM OS TEMPOS DE ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO E OS TEMPOS DE SUA LARGA ATUAÇÃO COMO PROFESSOR UIVERSITÁRIOI E DO ENSINO MÉDIO, ALÉM DE TER LECIONADO NOS CHAMADOS CURSINHOS TÃO DOMINANTES NAS DÉCADAS DE SESSENTA E MAIS AINDA NOS ANOS SETENTA E OITENTA DO SÉCULO PÁSSADO.

O MEU COMENTARIO AO TEXTO DO PROFESSOR OZANIR ROBERTI VEM APÓS O TEXTO DELE:

Esta história, a quinquagésima sexta, não ocorreu propriamente comigo, mas com um grupo de colegas da Faculdade Nacional de Direito. Eu estava no quarto ano, o penúltimo do curso, mas tudo aconteceu com a turma que o estava terminando, o pessoal que se formou em 1972. Nem todos souberam desse evento, mas alguns, com certeza, ouviram falar dele e do perigo que ele representou para as suas formaturas.

Um presentinho inocente

O Vicente e eu, alunos do quarto ano, estávamos, um dia, conversando com um grupo de amigos do ano mais adiantado, aquela turma que iria se formar naquele ano de 1972. Acho que era a turma do Ilídio, do Roberto, do André, do Homero; com exceção do primeiro, grande advogado criminalista, os demais, como eu, vieram para o magistério.

Eles tinham como titular um professor de Direito Civil e Romano de prestígio internacional, um grande latinista, autor dos livros mais conhecidos de Língua Latina, chamado Vandick Londres da Nóbrega, também diretor-geral do Colégio Pedro II. Seus livros eram muito bons! Eu mesmo havia usado um deles nas minhas aulas de Latim para os meus alunos do Artigo 99, “O Latim para o Exame de Licença”. Havia, ainda, o livro mais usado nas escolas do fundamental que ensinavam a língua latina, o “Latim do Ginásio”, da onipresente Companhia Editora Nacional. Ele era, também, autor de “Compêndio de Direito Romano”, obra obrigatória para todos os estudantes de Direito, da Freitas Bastos. Para muitos, porém, era um homem reacionário, que apoiava a ditadura militar instalada no país em 1964.

Aliás, dizem os historiadores, que esse foi o período mais agudo desse governo militar. Após a doença de Costa e Silva (1969), houve uma trinca de militares – o povo mais politizado chamava de “troika”, aludindo a regimes de força, principalmente aos comunistas da União Soviética – os quais assumiram o poder para, logo depois, determinarem a presidência de Emílio Garrastazu Médici e a vice-presidência de Augusto Rademaker (1969 a 1974), um dos integrantes da “troika”.

Vandick era próximo de Rademaker, talvez por isso não fosse muito querido pelos alunos e por parte dos professores da FND. Dizem que, por isso, por suas tarefas na direção do Pedro II e por seus compromissos com instituições latinistas pelo mundo, delegou a docência da turma a um assistente, acho que ele se chamava Agostinho ou Augustinho.

Era bem mais jovem que o titular e, numa conversa franca e amigável, com alguns alunos, fizera referência a uma admiração extraordinária pela beleza de uma aluna, principalmente pelo sorriso e pelas pernas, cujo nome não me ocorre. Dizia:

- Ela tem o sorriso e as pernas mais lindas que já vi!

Pois então, aquilo foi suficiente para que esse grupo, famoso pelas brincadeiras das duas turmas mais adiantadas do curso, arquitetasse uma armação para ajudar a turma toda a concluir logo o curso.

Era a semana da prova final de Direito Civil e Romano. Eles compraram um presente que não era caro, mas se enquadrava naquele tipo que chama a atenção devido às marcas claras de agradecimento: uma placa de prata com dizeres mais ou menos assim: “Para o mestre de Direito Civil e Romano, com os agradecimentos dos alunos ao melhor professor da Faculdade Nacional de Direito.”

Claro que a pessoa a entregar o presente, foi a tal jovem do sorriso e das belas pernas.

Isso ocorreu no dia em que se sabia que o professor, agora fortemente influenciado, estaria preparando a prova final.

O problema foi que tudo chegou aos ouvidos do severo Vandick, e ele reivindicou o direito de ele mesmo aplicar a prova, que, segundo ele, seria oral.

Foi um caos!

Não sei bem como se resolveu a situação, mas há duas versões: a primeira é que fizeram uma segunda placa exatamente igual e a deram ao Vandick; e a segunda é que o próprio assistente entregou o presente ao chefe, dizendo que tinham dado a ele para que fosse o encarregado de levar o mimo ao chefe.

Mas o fato é que a prova não foi oral, e foi bem fácil!

Francisco DaCunha V., meu querido confrade da ABRAFIL (Academia Brasileira de Filologia), prossegue nessas interessantes e e divertidas memórias dos tempos de estudante de universidade e dos tempos, já formado em Letras, e dos tempos iniciais trabalhando em cursinhos. Que coisas maravilhosas ter optado pelo estudos de Letras, e sobretudo pelo curso superior que mais se afinava com a sua personalidade de estudioso: da língua portuguesa e das literaturas portuguesa e brasileira . Esses relatos são contemporâneos aos meus com diferenças pequenas já que eu nunca fiz outro curso de graduação senão o de Leras pela universidade do Brasil /UFRJ. É fato que u vim ao Rio estudar medicina, desejos dos meus pais., mas, no íntimo, nunca desejei ser medico, porquanto gostava mesmo era de literatura de línguas de escrever em jornal , de traduzir, atividades que já exercia, adolescente, em Teresina. Piaui. e levado pela mão de meu pai, ele mesmo, professor, latinista, tinha bons conhecimentos de grego,(aprendidos com os os padres salesianos em Niterói e em Lavrinhas (Seminário Maior, estado de São Paulo), professor, catedrático de História do Brasil da Escola normal Antonino Freire, professor ainda de geografia do Brasil e geografia geral, e história do Brasil e história geral, lente de francês, desta última foi meu professor durante quatro anos Era forte em matemática, álgebra e aritmética. A par disso, foi, talvez, o melhor jornalista doutrinário que o Piauí já teve. Era um autor prolífero. Consoante me confessou ele, escreveu mais de dez mil artigos ao longo da vida); Bom orador de improviso e de amplos recursos. Membro de várias instituições culturais piauienses, sendo a principal a Academia Piauiense de Letras.(APL). Foi sonetista, ficcionista (em sátiras sociais e políticas,) cronista e crítico literário bissexto. Falava italiano, francês, e tinha bons conhecimentos de inglês.. Escritor humanista, educador nato e brilhante. Deixou publicados seis livros organizados por mim. incluindo as duas teses. No entanto o grosso da sua produção jornalística constituirá volume substancial. Por enquanto, segundo a minha organização, o número total de livros passará certamente de sete obras, um vez que uma grande e quantidade de artigos foi perdida por negligência dos minha família, o que é mito lamentável. Eram guardados em duas caixas de papelão que ele conserva nas duas estantes apinhadas de livros importantes, artigos escritos para vários jornais desde o final dos anos 1920, e atravessando as décadas de 1930, 1940, 1950 e indo até aos inícios de 1960.Daí em diante, seu artigos constituem, em relativa parte, os que guardei comigo, visto que meu pai me enviava todos os artigos a partir de 1964, ano em que deixei o meu estado natal. Eu mesmo aqui, no Rio, devo ter perdido parte deles em muitas mudanças de residências que fiz. Para concluir, objetivamente pude organizar sete livros, sendo que o livro reunindo artigos de jornais e revistas será mais volumoso. Os sete volumes incluem as duas teses publicados pela Imprensa Oficial de Piauí. introdução e notas. As apresentações serão minhas assim como as notas que se fizerem necessárias a cada obra. Forte amplexo, Ozanir Roberti.