Clarissa, meu amor
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 23/09/2011, às 06H17
{Maria do Rosário Pedreira]
Dificilmente encontrei entre as minhas leituras um autor mais visionário e moderno para a sua época do que Virginia Woolf. E os seus romances são talvez os únicos em que os pontos de exclamação espalhados pelas páginas nunca me incomodaram. É absolutamente fantástico pensar hoje que Mrs. Dalloway – a obra aonde Michael Cunningham foi beber para escrever o também extraordinário As Horas – foi escrito em 1925! (E aqui a exclamação é minha, e justifica-se.) Pois bem: a senhora Dalloway desta imperdível obra-prima é Clarissa, que começa o livro a comprar flores para mais uma das suas muitas festas (à qual não faltará sequer o primeiro-ministro) e o termina aparecendo junto a um convidado muito especial – Peter Walsh, o homem que se apaixonou por ela na juventude e, apesar de preterido por Richard Dalloway, nunca deixou de a amar um único minuto da sua vida (com tudo o que ela tem de snob e detestável, o que é ainda mais engraçado). Entre o primeiro e o segundo momentos, existe, porém, um tempo que contém tudo: as memórias, a crítica implacável, os efeitos da Primeira Guerra Mundial, a relação da Inglaterra com a Índia, o fosso entre as classes sociais, enfim, um sem-número de questões, dramas e análises impiedosas numa escrita que parece por vezes quase automática, mas que é de extraordinária inovação ainda hoje. Uma das coisas melhores nos bons autores é que nunca envelhecem, e o caso de Woolf é paradigmático