Mau perdedor legítimo, aquele que mesmo sabendo que não tem nenhuma condição de ganhar, mantém-se tão irascível e inconsequente ao perder, a ponto de não admitir que perdeu, não por incompetência ou por não ter tudo feito para ganhar, mas por não despertar simpatia, empatia ou confiança junto àqueles que poderiam ajudá-lo a vencer; que perde, no mais das vezes, por não oferecer nada que já não o fora feito pelos mais bem preparados intelectual e/ou economicamente. Do tipo, cuja vitória rara, por mais solidária ou plural como se apresente, quando acontece, para ele, decorreu pura e simplesmente do esforço individual e do próprio merecimento, de nenhum auxílio ou força extra de outrem. Quantos às recorrentes derrotas, ainda assim, as atribui, invariavelmente, a eventos fortuitos ou à interferência de terceiros.
     Não vê virtudes em ninguém que não seja ele mesmo. Por conta disso, com muita frequência, desnecessariamente, dana-se a destilar impropérios, acusações levianas, falsas ou mentirosas, na tentativa de desacreditar concorrentes ou desafetos; vale-se sempre de ironias para desqualificar adversários. Acredita no que ninguém mais crê. Elementos assim, demagogos, entendem-se muito bem com hipócritas que acham que cuidando da pobreza - nicho que, quando lhes parece conveniente, também integram, porque, segundo eles, nessa casta estão os que produzem, a verdadeira massa trabalhadora -, o poder público, os governos resolveriam todos os problemas que precisariam ser resolvidos.
     Para gente tão reacionária e radical, perseguição, por exemplo, somente existe quando ela é a vítima. Embora não aceitem ser havidas por preconceituosas, recalcadas ou idiotas, costumam tomar os ricos empresários, os grandes investidores, os afortunados, como a pior chaga que existe na sociedade que imaginam. Não raro, deixam transparecer que não acreditam que o sucesso de cidadãos abastados ou de situação econômica e financeira inquestionáveis, possa ser legitimo, honesto e justo, de vez que nunca é obtido como consequência do próprio esforço ou de muito trabalho pessoal. Por outro lado e, contraditoriamente, esses falsos franciscanos, críticos contumazes do status quo dos ricos, não se sentem mal ao frequentarem o habitat social dos criticados. Os amigos mais íntimos desses falastrões até podem não pertencer às altas classes sociais; mas os outros “amigos”, aqueles aos quais recorrem, não quando precisam de apoio moral ou existencial, mas quando buscam galgar posições ou resolver situações que os primeiros não poderiam, esses, certamente, estão lá.
     É despropositado e leviano afirmar que todos os males causados a uma sociedade capitalista provêm de empresários de sucessos, ricos, e jamais dos incompetentes. Querendo ou não essa corriola cuja principal ação criativa é criticar os que amealham riqueza e prestígio, um governo, para ser considerado sério e bom, tem que olhar para ricos e pobres.
     Não parece digno de respeito um indivíduo que generaliza, que toma as pessoas com as quais cruza ou convive no dia a dia, mas que não comunguem, integralmente, dos ideais que expõe, como perniciosas malfeitoras sociais.
     Representantes dessa turma de cidadãos invejosos e falaciosos estão por aí o tempo todo, mas são percebíveis mais facilmente, pois surgem praticamente sem disfarce, imediatamente após um processo eleitoral em que saíram perdedores. Aparição e desaparecimento dessa raça desenham um circulo: eles vão se tornando menos visíveis à medida que se distancia o pleito em que foram derrotados, e ressurgem plenos, inteiros quando outro já se faz ver no horizonte.
     O círculo virtuoso dos vitoriosos contumazes se fecha ao se abrir o círculo vicioso dos perdedores recorrentes.
     Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])