Cinegrafista Primo Carbonari, o Carlinhos "Canal 100" Niemeyer de SP

Ele contou com o apoio de seu irmão mais velho Santó, um contador de estórias espantosas de uma Itália na qual nunca pisou.

 

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DICAS DE HOJE DA "RECONTANDO...":

LEIA A COLUNA DO ESCRITOR ROGEL SAMUEL,

"Paris":

http://www.portalentretextos.com.br/noticias/paris,848.html

 

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Família ilustre: Prof. Antonio Carbonari Netto

 

 

 

 (Foto, sem a legenda acima conferida: http://jornalcorreiopiracicabano.blogspot.com/2009/08/presidente-da-anhanguera-recebe-titulo_10.html)

                                                   

 

 

 

"(...) Em depoimento, Carbonari se atribui uma série de primazias, como por exemplo a utilização da vinheta 'notícias' no cinema. Afirma também ter sido o primeiro cinegrafista a contornar e filmar a Ilha do Bananal e o primeiro a subir ao pico das Agulhas Negras, além de ter introduzido a cor nas produções cinematográficas nacionais.
Outro orgulho de Primo Carbonari é ter sido pioneiro no Brasil na utilização da imagem anamórfica (imagem deformada por um sistema óptico que produz uma ampliação longitudinal, em vez de transversal)
(...)".

(HILDA DE ALENCAR GIL, "Sobre Primo Carbonari",

http://www.heco.com.br/amplavisao/p_ensaios2.htm)

 

 

 

 

                                          Homenageando as memórias de Primo Carbonari, de

                                          seu irmão Santó (Antonio Carbonari) e

                                          de Carlinhos Niemeyer [Carlos Niemeyer, 1920 - 1999], para

                                          Mauro Alvim, à pesquisadora

                                          Hilda de Alencar Gil, ao jornalista

                                          Ricardo Valota, do ESTADÃO, e para

                                          Antonio Carbonari Netto e

                                          Regina Carbonari

 

 

8.3.2010 - Carbonari não foi esquecido - Ele morreu em 2006 e era muito estimado no meio cinematográfico e jornalístico nacional. Quem é carioca dizia: "Ele é o Carlinhos Niemeyer de São Paulo". Já os paulistas afirmavam que "quem faz o Canal 100 [jornal cinematográfico] daqui é o Primo Carbonari". Com saudade, leio na Wikipédia: "Primo Carbonari (1919São Paulo, 21 de março de 2006) foi um jornalista e documentarista ítalo-brasileiro, responsável durante 45 anos pelo Cinejornal veiculado nos cinemas, antes do início dos filmes, veiculando muitos fatos históricos, como a construção e a inauguração de Brasília, em 1960. Primo Carbonari durante vários anos contou com o apoio de seu irmão mais velho Antonio Carbonari (conhecido como Santó) contador de casos da Itália sem nunca tê-la visitado". (http://pt.wikipedia.org/wiki/Primo_Carbonari)

 

 

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Site FILMESCÓPIO

"PRIMO CARBONARI

Produtor e diretor de fotografia.

Nasceu em 1o de janeiro de 1920 na cidade de São Paulo. Faleceu em 21 de março de 2006 em São Paulo.

Um dos maiores e mais importantes produtores de cinema do Brasil, destacando-se na feitura de cinejornais e documentários, Carbonari começou a trabalhar ainda menino como fotógrafo lambe-lambe, logo entrando para a Companhia Americana de Filmes. Na década de 50, abriu sua própria produtora, a Amplavisão - referência a um processo desenvolvido por ele, semelhante ao CinemaScope. Aí, então, ele se afirmou como produtor, passando a deter o monopólio paulista de filmes-complemento, isto é, curtas-metragens exibidos no início das sessões de cinema.

Primo Carbonari produziu 69 mil latas de filmes exibidos no cinema - talvez pouca gente no mundo conseguiu uma produção tão grande. Seus documentários ganharam prêmios nacionais e internacionais - como melhor fotografia, melhor curta, melhor longa, etc. Foi o primeiro cineasta brasileiro a idealizar filme colorido no Brasil; e o segundo no mundo a realizar essa tarefa.

Mesmo sendo bem-sucedido e com uma presença intensa dos anos 50 aos 70, Carbonari sempre foi criticado por fazer fitas de divulgação e promoção de banquetes, casamentos, aniversários, empresas, feiras, produtos e, sobretudo, dos grandes feitos do governo.

Ele teve também uma forte atuação política, sempre defendendo a obrigatoriedade de exibição de curtas antes dos longas-metragens. Presidiu o Sindicato da Indústria Cinematográfica de
São Paulo e integrou a Comissão Estadual de Cinema".

(http://filmescopio.50webs.com/cineastas/pcarbona.htm)

  

 

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PRIMO CARBONARI

 

"Filho de imigrantes italianos, nasceu na Barra Funda. Por parte do seu pai, os que vieram para o Brasil eram maçons e, por parte da sua mãe, eram sicilianos. Dos que vieram para o Brasil, uma parte foi trabalhar na Matarazzo, outra foi fazer estaleiro no Rio.

Por haver nascido junto com o ano de 1919, seguindo a linha de sucessão em terras brasileiras dos empreendedores e coléricos imigrantes italianos da família Carbonari, ele recebeu o nome de Primo (primeiro).

Carbonari começou na carreira como aprendiz de lambe-lambe na Estação da Luz, região central de São Paulo. Depois disso trabalhou no laboratório da família Matarazzo, onde conheceu o cinema.

Na segunda metade da década de 30, Primo Carbonari direcionava uma câmera de cinema (o caçula das artes) para o canteiro de obras no qual seria erguido o aeroporto de Congonhas (SP). Começava sua carreira de produtor e documentarista de uma São Paulo retratada em quase 3.000 edições do cinejornal "Amplavisão", extinto nos anos 90, quando também chegou ao fim a Embrafilme, que foi banida por decreto pelo então presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992).

Na década de 50 não houve quem não tivesse assistido a pelo menos uma edição do cinejornal Amplavisão. Durava cerca de dez minutos e era exibido antes do início da sessão na maioria dos cinemas que pertenciam ao circuito paulista Carbonari retratou eventos sociais, evoluções da medicina, esporte, roubos, acontecimentos extraordinários e a política de São Paulo, servindo-se de uma brecha na lei que obrigava os cinemas a transmitirem um mínimo de dez minutos de produção nacional antes de qualquer filme. E lá passava um cinemão de Hollywood da época, mas não sem antes exibir o “Amplavisão”.

Assistindo o cinejornal, algumas pessoas se colocavam na condição de voyeurs, aquela era oportunidade única de ver a intimidade da elite estampada nas telas, as roupas que as primeiras-damas estavam trajando, seus colares de pérolas e os penteados.

Personalidades “retratadas acima de qualquer suspeita, que se mostravam imprescindíveis para a vida brasileira”, nas palavras do cineasta Eugenio Puppo. Políticos, na opinião do cineasta, transformavam-se em vedetes na frente das lentes de Carbonari.

Nos anos 20, era comum deparar-se com esse tipo de filmes institucionais, encomendados por personalidades que estavam em evidência. De todos os cinegrafistas desse período, merecem destaque Gilberto Rossi, que manteve o seu cinejornal por cerca de 20 anos, e Carbonari, considerado por Bernardet “o mais importante cinegrafista de São Paulo, por ter sido persistente e garantido a continuidade das suas produções ao longo de décadas”.

Carbonari conseguia condensar o maior número de assuntos possíveis em um cinejornal de apenas dez minutos. Eventos relacionados à política e ao esporte estavam sempre presentes. Imagens abertas e fechadas se alternavam no intuito de revelar ao espectador todos os que estiveram presentes em determinado evento.

Mas, no que se refere à qualidade estética, as imagens de São Paulo de Carbonari estão longe de se equiparar, por exemplo, às de São Paulo S.A., de Luís Sérgio Person, produzido nos anos 60 e também ambientado na capital.

Boa parte dos filmes realizados pelo cinegrafista apresenta problemas de enquadramento, fotografia e foco. Suas condições de filmagens eram bastante artesanais e buscavam, acima de tudo, mostrar o acontecimento por um viés mais jornalístico do que artístico.

Mas, ainda assim, imagens de determinados logradouros de São Paulo, quando contrapostas com as atuais, sugerem uma cidade mais humana, onde a qualidade de vida era melhor.

Praticamente todos os visitantes ilustres que passaram por São Paulo foram filmados por Carbonari: artistas, esportistas, diplomatas, presidentes etc. Em todas as corridas São Silvestre e importantes manifestações populares, ele esteva presente.

Bem como grandes eventos como as comemorações do quarto centenário de SP e o primeiro gol de Pelé, e cenas pitorescas, como o famoso roubo de 500 milhões do Banco do Brasil nos anos 60. Mas, para o próprio Carbonari, dentre as coisas mais importantes que filmou foi a morte de Getúlio Vargas e a morte de Costa e Silva". (MAURO ALVIM)

(http://www.artv.art.br/informateca/escritos/cinema/carbonari1.htm)

 

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REPÓRTER NEWS - NOTÍCIA DO FALECIMENTO DE PRIMO CARBONARI (MARÇO DE 2006)

AGÊNCIA ESTADO

Ricardo Valota

 

"Cultura
22/03/2006 | 01h14m

Morre aos 86 anos o documentarista Primo Carbonari 

São Paulo - Morreu aos 86 anos, na terça-feira, em São Paulo, o documentarista Primo Carbonari, responsável durante 45 anos por mais de 3 mil edições do Cinejornal, que era exibido semanalmente nos cinemas da capital paulista, Norte e Nordeste do país.

Carbonari faleceu em sua residência, na Barra Funda, zona oeste da cidade, de morte natural. Por causa de sua obesidade, Carbonari já não saía mais da cama, segundo informações de parentes. O enterro ocorrerá nesta quarta-feira no Cemitério do Araçá, na região do Pacaembu, também na zona oeste, onde Carbonari já tem jazigo.

O documentarista acompanhou por meio de seu trabalho artístico boa parte da evolução da indústria brasileira e os contextos político, esportivo e cultural do País. Filho de imigrantes italianos pobres, foi um dos primeiros com uma idéia na cabeça e, sempre, uma câmera na mão.

Acabou se transformando num dos maiores documentaristas de São Paulo, embora talvez nem tivesse sido essa a intenção. O acervo apenas começa a ser recuperado e parte dele vai virar um longa metragem. É o projeto Ampla Visão, nome que o próprio Carbonari tinha dado a parte de seu trabalho.

Parte das três mil edições do Cinejornal está fragmentada, mas o que se pode ver sugere uma extraordinária riqueza de imagens, como se fosse um minucioso diário pessoal que se pode voltar e ler muitos anos depois. As lentes de Carbonari captaram não só os eventos cruciais da história paulista, oficial ou não. São, principalmente, um registro riquíssimo da vida social - e dos detalhes que, revividos, fazem a gente entender melhor o presente. 

Por: Ricardo Valota
Fonte: Agência Estado".

(http://www.reporternews.com.br/noticia.php?cod=103703) 

 

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A VIDA DELE ERA CINEMA
 

"A VIDA DE PRIMO ERA CINEMA
Juca Varella/ Folha Imagem
Nascido em 1º de janeiro de 1920, o nome de Primo Carbonari vem daí. Brasileiro filho de italianos, ele começou trabalhando como fotógrafo lambe-lambe, na Companhia Americana de Filmes.

Passou pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz e na década de 50 conseguiu abrir sua própria produtora, a Primo Carbonari - Produções Cinematográficas.

Filmou desde peças publicitárias até grandes eventos, como a Olimpíada de Tóquio, em 1964, e a coroação do Papa VI no ano seguinte. Também deu sua contribuição ao futebol, gravando os dribles da Garrincha e alguns lances de Pelé.

Criticado por se associar ao governante de plantão, Primo foi um dos principais documentaristas brasileiros, se equiparando a Carlos Niemeyer, que criou em 1958 o Canal 100. Entre as críticas, Primo também foi alvejado pelos militares. Em seu estúdio, acumulam-se certificados de censura. Muitas vezes, foi obrigado pelos militares a veicular filmes ufanistas antes das próprias produções.

Morreu de causas naturais em 21 de março de 2006, depois de produzir mais de 13.000 filmes, uma das maiores contribuições para a história do cinema nacional. "Ele que era fã de cinema e televisão não quis ligar a tv no seu último ano de vida", disse Regina Carbonari, sua filha".

 

(http://esporte.uol.com.br/pan/2007/ultnot/2007/06/26/ult4343u998.jhtm)

 

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OUTRO ARTIGO DE MAURO ALVIM,

SENDO ESTE SOBRE AMÁCIO MAZZAROPI

 

"Mazaroppi: herói do cinema nacional

Apesar de todo o rigor da censura nos tempos do governo militar, havia um cineasta que denunciava as injustiças sociais e, não se sabe porquê, nenhum filme seu jamais foi podado pelos censores, ao contrário de Glauber Rocha e diversos outros cineastas brasileiros.

Para o enorme público brasileiro que não perdia um filme sequer, ele contou histórias que abordavam o racismo, divórcio (que a lei então proibia), as religiões, política e falou até mesmo dosproblemas da devastação da natureza.

Assuntos tão sérios, ele tratava de um jeito pouco comum: a comédia. E, como falava a língua do povo e de um jeito bem brasileiro, isto é, evitando o debate e o confronto com quem detém o poder. A elite, é claro, não o entendia muito bem. Então, apesar da aclamação pelo grande público, o reconhecimento de seu trabalho pela crítica e a elite intelectual, lhe foi praticamente negado.

Mazzaropi foi um artista brasileiríssimo. De origem humilde, começou no circo, foi para o rádio, passou pela TV e chegou ao cinema, onde estreou como ator até se tornar seu próprio produtor, diretor e distribuidor, consagrando-se como um dos maiores sucessos de bilheteria.

Conseguiu o que ainda hoje parece quase impossível: criar uma indústria de cinema genuinamente nacional, independente (sem subsídios ou financiamentos) e, além de tudo, bem sucedida. Certa vez, ao lhe perguntarem qual seria a razão de sua fama, ele respondeu: “O segredo do meu sucesso é falar a língua do meu povo”.

Mazzaropi não fazia filmes sobre o Brasil. Mazzaropi fazia filmes para o Brasil e dizia mais: “Não tenho nada contra esse tal de cinema novo, só acho que a gente tem que se decidir: ou faz fita para agradar os intelectuais (uma minoria que não lota uma fileira de poltronas de cinema) ou faz para o público que vai ao cinema em busca de emoções diferentes. O público é simples, ele quer rir, chorar, viver minutos de suspense. Não adianta tentar dar a ele um punhado de absurdos: no lugar da boca põe o olho, no lugar do olho põe a boca. Isso é para agradar intelectual.”

Ele nunca teve sócio, dizia ter o necessário para pensar em fazer amanhã ou depois a indústria cinematográfica: câmeras, holofotes, lâmpadas, cavalos, cenários, agências em São Paulo, Rio, Norte do país e uma fazenda de 184 alqueires no Vale do Paraíba - Taubaté - que servia perfeitamente de estúdio para os filmes que rodava.

Tudo o que ganhava era aplicado na Pam-Filmes, no cinema brasileiro. Fazia um filme por ano, levando cinco meses de preparação de roteiro, cenários, etc. Dois meses para filmar. O resto era problema de distribuição e fazia questão de dizer que tinha seu negócio, trabalhava a hora que queria sem dar satisfação a ninguém.

Felizmente, a obra de Mazzaropi vem sendo revista pelos críticos e as universidades começam a estudá-la, embora ainda seja espantosa a omissão do artista nos livros sobre cultura nacional. Mesmo assim, a memória de Mazzaropi continua virtualmente viva pelo país. Ela está latente na lembrança do público que continua vendo seus filmes. Fenômeno exclusivo a alguns poucos. Por estas e outras razões, existe um importante espaço para Mazzaropi na história do cinema brasileiro".

(http://www.artv.art.br/informateca/escritos/cinema/mazaropi.htm)

LEIA AINDA, SOBRE PRIMO CARBONARI:

http://www.heco.com.br/amplavisao/p_ensaios2.htm

(Pesquisa e texto: Hilda de Alencar Gil)