Chãos e gentes de Minas

Manoel Hygino dos Santos

Antes que novembro terminasse, lançou-se o livro "Chão de Minas", que descreve a trajetória política e pessoal de Francelino Pereira, que foi de vereador em Belo Horizonte a governador do Estado, hoje membro da Academia Mineira de Letras, dentre outros títulos. O livro é de autoria de três jornalistas e escritores - Kao Martins, Paulinho Assunção e Sebastião Martins.


É resultado de exaustivas pesquisas sobre um menino predestinado a alcançar importantes cargos na vida pública do país, centrada em Minas Gerais, a partir de seu estado natal, no Piauí. Nascido em berço humilde, neto de um dos "voluntários" da Guerra do Paraguai, desde sua modesta Angical, foi construindo uma carreira que se distingue pela modéstia com que sempre se houve no exercício das mais altas funções.


Conheci de perto parte dos caminhos percorridos pelo biografado, pois nos uníamos em torno de leal oposição à ditadura Vargas, concentrado esforços na redemocratização que se daria a partir de 1946.
Nutríamos a mesma admiração pelos que lutavam por melhores tempos, com postulados e ideias contidas no Manifesto dos Mineiros, de 1943, quando Francelino não passava de um rapazinho nordestino transferido a Minas, movido por sadios princípios e objetivos.


Participou ativamente de todas as campanhas políticas, desde a retomada da via democrática, que soube percorrer com prudência e coragem, em submissões mesmo no regime militar de exceção.


Como governador, dentre outras iniciativas, entre as quais a de criação da Secretaria de Estado da Cultura e a construção do aeroporto, ora internacional, de Confins, deixou marcas de sua atuação e obras e iniciativas que frutificam e frutificarão - desde escolas a conjuntos habitacionais.


O livro dos três autores mineiros tem, pois, sentido, razão e propósito. Trata-se se tornar conhecida uma pessoa que aprendeu com Milton Campos a maneira serena e bem-humorada de fazer política. Chama-me a atenção, nos dias dramáticos de 2009/início de 2010, a presteza com que, diante se semelhante calamidade no Rio São Francisco, se deslocou às cidades atingidas pelas enchentes percorrendo de barca as regiões sob maiores riscos.


Aliás, durante sua gestão, deu especial atenção às áreas mais sofridas do Estado, aos grotões, ao Vale do Jequitinhonha, que somente mais recentemente desperta para mais promissora existência graças a novas perspectivas.


Lembraria, talvez, que aquelas regiões do Norte e Nordeste já tinham pertencido às capitanias da Bahia e Pernambuco, que se estendiam longamente pelo interior mineiro. Foi, também, um entusiasta do Instituto Municipal de Administração e Ciências Contábeis, que se instalou no Parque nas dependências do antigo Colégio, transferido ao Bairro São Cristóvão.


Recordo que, muitas vezes, encontramo-nos junto às escadarias do fundo do prédio da Prefeitura, na Rua Goiás, para comentar múltiplos assuntos. Estava ali um local privilegiado, em frente à entrada do edifício dos "Diários Associados", passagem obrigatória para seus jornalistas que se dirigiam ao gabinete do prefeito ou ao outro lado da Afonso Pena.


Bons tempos, que não retornam!


Mas, antes de terminar, e retornando ao problema desta época inclemente do ano, quando as tempestades costumam deixar marcas profundas na cidade e no coração de seus habitantes, que foi - quando Francelino governador - se fez um minucioso levantamento geológico da capital, indicando os pontos mais críticos e que exigiram providências especiais do poder público.


No mais, é encerrar com a própria mensagem do biografado: "Nesta terra construí minha vida e meu destino. Com esta terra e com esta gente, firmei laços profundos de amizade, admiração e respeito".