Publicado no Caderno Especial Idéias do Jornal do Brasil em 24 de junho de 2000

Não sei precisamente quando conheci Castelinho. Recordo-me, com nitidez de que, no início dos anos 70, quando ele presidia o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, organizou uma mesa-redonda para discutir a democracia.

Eram anos difíceis. O que hoje pode parecer banal - um debate - e sobre um tena "neutro", a democracia, naquela época era um ato de coragem.

Recordo-me de que estavam presentes o senador Severo Gomes (grande amigo de Castelinho), acredito que também o senador Roberto Saturnino, e eu, entre outros. Castello, à sua maneira, ajudava a minar as bases do regime Autoritário.

E foi assim o tempo todo. Amigo de todos, dos poderosos e da oposição, não faltava ao respeito e à verdade. Mas, à sua maneira, ia descrevendo, como repórter, o que acontecia, o que lhe transmitiam nas conversas nos bares e, pouco a pouco, sem deixar de ser isento, ia ajudando a liberdade e a democracia.

Nunca fui dos seus mais próximos. Mas, que sempre tive a oportunidade de conversa com Castelinho, não hesitava.

Muitas vezes, em casa do embaixador Rubens Barbosa, de vez em quando em sua própria casa, uma ou outra vez junto com o presidente Sarney, e muito mais raramente nos almoços que tinha aos sábados com seus amigos.

Certa vez, recordo-me, jantei com ele e com José Aparecido. Nas vésperas do meu aniversário, em 1985. Disse-lhes que seria candidato à Prefeitura de São Paulo, concorrendo com Jânio Quadros.

Castello foi colaborador e era ligado a Jânio. Isso não impediu que Castello escrevesse um livrinho admirável, publicado anos depois de sua morte, sobre o desfecho do governo Jânio. Nada mais ilustrativo para ver como um governo que não enfrentava crise alguma (social, econômica e mesmo política) se esboroou no tear das intrigas tão rotineiras nos círculos do poder.

Não obstante, Castello mantinha, como é natural para quem trahalhou tão próximo, um certo fascínio por Jânio. Ele se apiedou de mim: que ingenuidade disputar votos contra o rei dele. Aconselhou-me a não disputar a Prefeitura.

Não lhe dei ouvidos, disputei e não ganhei.

Mas o que importa é exemplificar como era Castello: implacavelmente objetivo, cordial, fraterno e íntegro. Na vida e nas crônicas reportava o que via e como via. E que visão

Hoje, sete anos depois de sua morte, quando faria 80 anos, continua vivo em nossa memória, deixa saudades mas - e esse é o consolo - continua mestre e tem bons discípulos na imprensa brasileira.