Casar, sentar, mudar, divociar - verbos pronominais
Por M. T. Piacentini Em: 13/11/2011, às 19H46
[M. T. Piacentini]
Recebemos algumas consultas sobre o uso dos pronomes reflexivos me, te, se, nos junto com verbos tradicionalmente pronominais como os do título. Há mesmo necessidade de usá-los? Ou seja, o correto é ela casou ou ela se casou? Sentou-se ou sentou um minutinho?
Ao pesquisar em dicionários (comuns e de regência), descobre-se que há possibilidades diversas; já existe um aval para a eliminação, mesmo no nível culto, do pronome reflexivo junto com os verbos citados (salvo divorciar, que sempre é apresentado como pronominal: divorciar-se). Isso quer dizer que é facultativo o uso do pronome nestes casos:
Casar
Jucira anunciou que vai (se) casar. Casei(-me) cedo. Li que Mara vai (se) casar com Mauro. Pedro e eu vamos (nos) casar brevemente.
Sentar
Jucira preferiu sentar(-se) no sofá. Sentei(-me) e descansei um minuto. Chegamos cedo e (nos) sentamos à mesa principal.
Mudar
Jucira vai mudar(-se) para outra casa. Resolvi (me) mudar para Timbó. Decidimos que (nos) mudaríamos daqui tão logo saísse a aposentadoria.
Mesmo no caso do verbo divorciar-se há uma tendência – por contaminação sintática, pois as construções linguísticas se cruzam, se mesclam, se interinfluenciam – a suprimir o pronome, de que é prova a declaração à revista Istoé, em maio de 2005, da nossa grande escritora Lygia Fagundes Telles: “Divorciei, casei outra vez, com o Paulo Emílio Salles Gomes”.
O cuidado que se deve ter, para que o texto seja considerado bom e agradável de ler, é com a clareza em primeiro lugar. Por exemplo, se você escreve “finalmente resolvi mudar”, não se sabe qual o sentido: mudar o quê? Portanto, se for deslocamento de um lugar para outro, escreva “finalmente resolvi me mudar”. Depois vem a sonoridade da frase – muitas vezes “nos mudamos” soa melhor do que “mudamos”. Isso significa que não é preciso haver uniformidade, isto é, empregar o pronome todas as vezes ou suprimi-lo sempre. Pode-se variar no caso dos verboscasar, sentar e mudar, conforme a clareza ou sonoridade que se deseja.
No mais, é recomendável usar os pronomes reflexivos sempre que a situação o exija. É melhor e mais culto falar “ele se formou na USP” do que “ele formou na USP”, só para dar outro exemplo.
Ainda sobre o uso dos pronomes oblíquos (reflexivos e não reflexivos), temos duas consultas:
--- Aqueles dois se batem e se opõem está certo? Ou o correto seria Aqueles dois se batem e opõem? Márcio S. Fontes, Florianópolis/SC
--- Se puderes me ajudar eu ficarei muito grato. Há algum erro gramatical na seguinte frase: Há de se saber comunicar-se? Ivson Tiago Müller de Souza
Quando se empregam em sequência dois verbos usados com pronome proclítico, as duas formas ou modelos são corretos: se batem e seopõem ou se batem e opõem. O mais estilístico, porém, é não repetir o pronome oblíquo quando este vem anteposto ao primeiro verbo:
Aqueles dois se batem e opõem.
Ele se rasgava e desfazia em elogios.
As células se expandiram e modificaram.
Nós o vimos e saudamos com efusão.
Não o quero nem desejo mais.
Há de se saber comunicar!
No caso da última frase, pode ser-lhe dada outra redação: Há de saber comunicar-se, em que o sujeito não é indeterminado, mas sim implícito (oculto): [Ele] há de saber comunicar-se.