Carnaval: crônica do imortal João do Rio

Existe liberdade de costumes no carnaval, muita.

 

 

 

 

 

 

 

Baudelaire, shot by Nadar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Charles Baudelaire, fotografado por Nadar

(http://www.1969histoiresdeparfums.com/blog/category/blog/)

 

 

 

 

Fichier:Nadar selfportrait.jpg
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nadar, autofotografia

(http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Nadar_selfportrait.jpg)

 

 

 

 

"Segunda-feira, 28 de setembro de 2009

João do Rio é tema de curso na Uerj [FOI... EM SET./2009]

 
Muitos de nós jornalistas não sabem quem foi João do Rio. Na verdade, segundo os historiadores da nossa imprensa, João do Rio foi o primeiro repórter de fato do Brasil. Numa época em que nas páginas nacionais prevalecia o jornalismo opinativo, João do Rio decidiu se dedicar a cobrir a vida do cotidiano, um verdadeiro cronista da cidade do Rio de Janeiro, em plena Belle Époque.

Agora a Faculdade de Comunicação da Universidade do Rio de Janeiro organiza um curso de extensão dedicado a analisar a contribuição dele para as narrativas sobre a cidade. Veja abaixo o informe da Uerj sobre o curso.
 
Curso de Extensão - O Rio de João do Rio

 
Objetivos: O curso pretende elaborar uma reflexão sobre o papel do cronista João do Rio na tessitura da narrativa sobre o cotidiano da cidade. Evoca-se, assim, o espírito flâneur que, hoje impossível de serepetir aos moldes da Belle Époque tropical, pode registrar as interações que fizeram das ruas o palco privilegiado para aconstrução de uma sociabilidade carioca.
João do Rio tem sido celebrado como uma peça-chave para o entendimento da cultura urbana carioca do início do século 20. Suas crônicas-reportagens dão conta não apenas das intensas transformações urbanísticas pelas quais passava a cidade, mas, sobretudo, da forma como o imaginário e as narrativas sobre o espaço foram sedesenhando - muitas vezes em sentidos paralelos aos da racionalidade quese queria dominante - ao redor dessa transformação.
 
Coordenador:Prof. Dr. Carlos Alexandre de Carvalho Moreno
 
Período de realização do curso: 2ª e 4ª feiras, das 19h às 22h16/11/09 a 02/12/09
Carga horária: 18 h
Público-Alvo:Profissionais graduados e graduandos a partir do 5º período nas áreas de Comunicação Social, Artes, Literatura e Cultura Popular,Ciências Sociais e áreas afins.
Inscrições: Centro de produção da UERJ - Cepuerj, 1º andar, Bloco A,Sala 1.006. De 22/09/2009 a 11/11/2009, das 9h às 17 horas ou clique aqui
Informações:
Telefones: Tel (021) 2334-0639/2334-0500/2334-0300/2334-0803 ou pelo e-mail: mailto:cext.lpo%40gmail.com".
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARLISE organizou essa imagem - apondo-lhe dístico pró-diversão-sadia-

no-Carnaval -, a partir de muito simpático desenho com personagens do

criador MAURICIO DE SOUSA, mundialmente consagrado (até na Ásia,

como se sabe) pai de Mônica e Cebolinha

(SÓ O DESENHO, SEM A LEGENDA ACIMA CONFERIDA:

http://www.clickut.com.br/carnaval.html)

 

 

 

 

"O carnaval é uma embriaguez d'alegria."

(PERSONAGEM DE CRÔNICA DE JOÃO DO RIO SOBRE O CARNAVAL CARIOCA)

 

 

 

 

14.8.2010 - Existe liberdade de costumes no Carnaval? - Melhor assim, uma vez que LIBERDADE é preferível a CASTRADORA E SUFOCANTE REPRESSÃO! (João do Rio cita Baudelaire na crônica a seguir transcrita, sendo que os responsáveis pelo excelente Portal Literal - a quem, penhorados, agradecemos agora, de público - tiveram a paciência de colocar o texto à nossa disposição, em benefício do desenvolvimento da cultura, da inteligência e da sensibilidade de nós, o povo). F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

PORTAL LITERAL (JULHO DE 2008,

tendo sido a crônica publicada

em fevereiro de 1916)

 

"João do Rio no carnaval

 
 
Rio de Janeiro (RJ) · 28/7/2008
  

 

Publicado originalmente em 27/02/2003.


Chama-se "O momento do amor" esta crônica de João do Rio publicada em 26/2/1916 na Revista da Semana. Pseudônimo de Paulo Barreto, João do Rio aqui se vale de outro pseudônimo, Joe, assinatura de muitos dos seus textos para a Revista. Na voz de um fictício conselheiro, o carnaval é tratado como o tempo do triunfo do amor, uma euforia anual que transcende - ou melhor, transcendia - os dias de folia para resultar em casamentos. Em tempos de exaltação na imprensa a trocas de casais e ao "ninguém é de ninguém", vale revisitar o estilo elegante e sarcástico de João do Rio. Este texto foi retirado da antologia Crônicas efêmeras (Ateliê Editorial).


"O momento do amor"

O conselheiro é um homem encantador. Baudelaire dizia: "Cá temos um homem que fala do seu coração – deve ser um canalha." O conselheiro não fala do seu coração, mas é um homem sensível. Com 75 anos, teso, bem vestido, correto, possuidor de doze netos e cinco bisnetos, a sua conversa é sempre cheia de alegria e de mocidade. Outra noite, estávamos no seu salão, e de repente rompeu na rua um "zé-pereira".

O conselheiro exclamou:

– Eh! Eh! As coisas esquentam!

Como o conselheiro é idoso, pensei vê-lo atacar os costumes e o carnaval. Para gozar da sua simpatia, refleti:

– Temos cada vez mais a dissolução da moral!

– Quem lhe fala nisso? – indagou o conselheiro. Talvez por ter sido sempre um homem moral nunca precisei de descompor os costumes para julgar-me sério. Sabe o que eu sinto quando ouço um "zé-pereira"?

– Francamente, conselheiro...

– Sinto que chega o grande momento do amor no Rio...

– De fato, a liberdade dos costumes.

– Heim?

– Sim, os préstitos, as cortesãs, a promiscuidade, as meninas de pijama cantando versos pouco sérios, os lança-perfumes, a bacanal...

– Meu filho, quando se chega a uma certa idade, o resultado é tudo. Se quisermos ver nos três dias de carnaval a folia como depravação, posso garantir que as brincadeiras de antanho com o entrudo, os banhos d'água fria, o porta-voz eram livres como as de hoje com os lança-perfumes, os confetes e as serpentinas. Mas não se trata disso. Trata-se de coisa mais séria. Eu casei aos 18 anos, isto é, há quase 58 anos fiz a loucura de tomar por esposa a minha querida Genoveva. Mas, passado o primeiro ano, essa alucinação causou-me tal pasmo que resolvi estudar-lhe as causas. E descobri.

– Quais foram?

– Uma só: o momento do amor!

– Conselheiro!

Há uma época no Rio absolutamente amorosa, quer no tempo da monarquia, quer na República. Consultei estatísticas, observei, indaguei, procedi a inquéritos pessoais... Sabe qual é essa época? A do carnaval! Note você como aumentam os casamentos nos meses seguintes ao carnaval. A maioria das inclinações, dos namoros que terminam em casório, começam no carnaval. Três meses depois estava casado. Cinco dos meus filhos namoraram no carnaval. Minha filha Berenice com 30 anos arranjou o marido que lhe faz a vida feliz, no carnaval. Nove dos meus netos seguiram a regra...

– Mas, conselheiro, se é verdade o que V. Exa. diz, era o caso de fazer uns quatro carnavais por ano...

– Não daria resultado, meu amigo. O carnaval é uma embriaguez d'alegria. Quem se embriaga uma vez por ano não está acostumado. Quem se embriaga quatro, raciocina na bebedeira. Veneza acabou pelo abuso da máscara. Nós acabaríamos pelo abuso do "zé-pereira". Mas uma vez por ano é bem o verão impetuoso do desejo, o momento do amor.

Depois suspirando:

– Aproveite-o você. Eu infelizmente não posso mais. A velhice é como o maître d'hotel da vida. Indica ao cliente o prato ótimo do cardápio e não o come: abre o champanhe e olha apenas a taça. Coma o prato, engula o champanhe. O carnaval chegou!

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