CALAR? NÃO DÁ!
Por Antônio Francisco Sousa Em: 02/08/2013, às 11H24
Como calar ou não se manifestar diante de idiossincrasias do quilate destas?
Duas estatísticas publicadas, recentemente, apesar de não inusitadas, mostraram-se surpreendentes: a primeira apontou o Maranhão, segundo produto interno bruto nacional, per capita, como o estado mais pobre do Brasil e, de acordo com o índice de desenvolvimento humano municipal, o segundo mais pobre; em ambos os indicativos, atrás do Piauí e/ou de Alagoas. O segundo levantamento, mais insubsistente do que o anterior, pois, tudo indica, levou em consideração apenas a relação entre a população como um todo e a específica quantidade de mortes ocorridas, informou que Teresina é a capital mais homofóbica do país. Dicotomicamente, também, deve ser a mais tolerante. É que a mesma mídia que expôs a estranha pesquisa, diuturnamente, anuncia shows, seminários, encontros, palestras, jornadas; enfim, uma gama considerável de eventos públicos promovidos por grupos homoafetivos, realizáveis na cidade.
Por conta de essa controversa matemática da homofobia, alguns pontos precisam ser observados, a fim de que sobre a estatística não restem dúvidas que a tornem imprestável. Há que se tentar separar o verdadeiramente sério, do fictício, demagogo ou hipócrita; o justo e honesto, do desonesto e injusto; o fático do especulativo. É óbvio que nem todos os gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais mortos foram assassinados por heterossexuais; como também é provável que nem todos os indivíduos heterossexuais mortos, um número muito maior de vítimas, foram assassinados por seus pares. É claro que a motivação sexual não foi a única causa de todas as mortes. Vingança, acerto de contas entre elementos de mesma ou de diferente orientação sexual, não raro, resultam em assassinatos. Em todo e qualquer agrupamento humano - sejam seus componentes heterossexuais, homossexuais ou congêneres - existem criminosos.
Naquele veículo de comunicação, a ministra da saúde espanhola, anunciou, sem peias nem rodeios, que o serviço público de saúde financiaria os custos com a reprodução assistida tão somente de mulheres com problemas de fertilidade. Excluídos, pois, estavam os homens, mesmo os maridos inférteis daquelas; porque, segundo autoridade ministerial, falta de homem não é problema médico. Até onde se soube, a falastrona executiva espanhola, não se retratou nem perdeu a função. Que aconteceria por aqui, se um representante do governo viesse a público expor uma decisão estatal como fez a executiva espanhola? Preconceituosa, discriminatória e politicamente incorreta, seriam pechas de que não se livraria. Ah! Não.
Talvez devêssemos calar após tais arrazoados. Prosseguiremos, no entanto. Um país em que se prestam péssimos serviços públicos, onde o povo execra, impiedosamente, servidores e funcionários públicos, não pode permitir que, em nome de uma hipócrita e demagógica contenção de despesas e gastos públicos, algumas de suas mais respeitadas corporações, como as forças armadas, deixem de prestar serviços à sociedade um dia sequer, como quer fazer a Marinha, às sextas-feiras e, logo, logo, também o Exército e a Aeronáutica. Dispêndios com ar condicionado, consumo de água, luz, telefonia, material de expediente, de limpeza e que tais, relativos a um dia de atividade dessas corporações, seriam facilmente cobertos com a suspensão de pequena parte do toma lá, dá cá entre governo e parlamento; com ações mais objetivas e menos eleitoreiras de combate à corrupção, ou com extinção sumária de alguns milhares de cargos comissionados desnecessários, que existem nas instituições públicas nacionais, simplesmente, para, mediante conchavos, acomodarem apadrinhados e cupinchas políticos.
Último comentário. Enquanto o governo federal desiste de acrescentar dois anos ao curso de medicina e que os quase médicos dedicariam à prestação compulsória de serviços ao sistema único de saúde em regiões que esse indicaria, a ordem dos advogados do Brasil, diferentemente, pretende sugerir ao ministério da educação que aumente o curso de direito em seis meses que os estudantes deveriam utilizar como outro estágio – um obrigatório já existe -, preferencialmente, em áreas carentes do país, como queria fazer o governo com os futuros médicos. O melhor e mais eficiente estágio é a prática. Essa sugestão, no máximo, atrasaria quem já se sentisse pronto para ir a campo. Implementada, apenas retardaria a entrada no mercado de novos competidores. Se essa é a ideia, calo-me.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])