CALAR A VOZ - Crônica de CARLOS NEJAR
Por Diego Mendes Sousa Em: 18/05/2022, às 17H40
CALAR A VOZ –
CARLOS NEJAR
Colaborei todos os domingos, há mais de sete anos no Jornal “A Tribuna”, de Vitória, do Espírito Santo. Tinha minha coluna, que eu alimentava perseverante. De repente me telefonaram com a notícia de que o jornal havia reduzido suas páginas e resolveram acabar com minhas crônicas. Num telefonema, sumiram mais de sete anos de trabalho, sem agradecimento, como se fosse favor do dito jornal, havendo contrato. Só sei que por algum motivo, econômico, ou político, ou de eu estar incomodandando, subterraneamente, tentaram calar minha voz. E não a calarão. Nem vivo, nem quando estiver morto, porque um dia o que criei, se acordará.
Meu único partido, longe dos protagonismos e ódios, dos interesses cúmplices e de outros, sempre sob o signo do bem da república, meu único partido é o da condição humana. Sou escritor e a palavra me ajuda a respirar o pensamento. E o pensamento, a respirar.
Se houve alguma intervenção, ou espionagem, ou censura, o tempo dirá, nada fica oculto. O que parece oculto vem à luz do dia. E nosso País, infelizmente, está sob a canga da inflação, penúria e de erosão na ordem democrática. É difícil não ver. Mas deixo o registro de que não perdi a coragem, nem a voz, nem a palavra. Continuarei a escrever mais amplamente ainda, noutra tribuna que estará surgindo.
Há mais de sessenta anos, tenho publicado poemas, romances, ensaios, teatro e continuarei. Sairá em junho, a 4ª edição de minha “História da Literatura Brasileira”, pela editora Noeses, de São Paulo. E este ano, virá a lume meu primeiro livro de crônicas, pela editora Bertrand, do Rio. E há outros livros no prelo. Este País não tem memória, mas a memória se cumprirá sozinha, como uma pedra noutra. E não me calarão.
(Maio de 2022)
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Carlos Nejar é escritor. Da Academia Brasileira de Letras (ABL) e Presidente Emérito da Academia Brasileira de Filosofia.