Brasil: 240 jornalistas foram demitidos em 4 meses
Por Flávio Bittencourt Em: 16/04/2011, às 13H58
[Flávio Bittencourt]
Brasil: 240 jornalistas foram demitidos em 4 meses
Izabela Vasconcelos deixa-nos informados a respeito de um quadro preocupante.
FOTO DE MÁRIO DE MORAES,
que estava na frente de batalha:
Linha de frente da guerra de Angola, durante cobertura [JORNALÍSTICA] especial para O Cruzeiro [REVISTA DE GRANDE TIRAGEM QUE ERA EDITADA NO RIO DE JANEIRO-RJ] |
(http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=490)
FOTO DE MÁRIO DE MORAES (o repórter e fotógrafo que entrevistou o assassino do líder revolucionário LEON TROTSKY)
(MIGRANTES NORDESTINOS: 50 anos depois da famosa reportagem dos jornalistas UBIRATAN DE LEMOS e MÁRIO DE MORAES, ocupava a presidência do Brasil um ex-torneiro-mecânico, ex-líder-sindical, ex-parlamentar-constituinte e administrador público que migrara num caminhão "pau-de-arara" [DESTINADO AO TRANSPORTE DE SERES HUMANOS, COMO SE FOSSEM CARGA INANIMADA], com a sua santa mãe, DO INTERIOR DE PERNAMBUCO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL
(http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=490)
O assassino de Trotsky (à esquerda) é entrevistado por Mário [MÁRIO DE MORAES, repórter e fotógrafo carioca que, em 1956, juntamente com o jornalista amazonense Ubiratan de Lemos, recebeu o prestigioso PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO, por reportagem histórica sobre migração interna [NORDESTE - SUL] no Brasil] (sentado) |
(http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=490)
PÉ NA ESTRADA
Os caminhões de paus-de-arara mudaram a demografia brasileira nos anos 60
(Rev. Veja - O autor da foto não está creditado em:
http://veja.abril.com.br/especiais/veja_40anos/p_100.html)
"1956
Prêmio Principal
UMA TRAGÉDIA BRASILEIRA: OS PAUS-DE-ARARA
Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos
O CRUZEIRO
Cr$ 50 mil
A saga dos fugitivos da seca do Nordeste, em busca de empregos e ilusões no Sul do País, é contada num impressionante relato dos repórteres que, durante 11 dias, viajaram incógnitos junto com 102 retirantes, num caminhão "pau-de-arara", por perigosas e esburacadas estradas, desde Salgueiro (Pernambuco) a Duque de Caxias (Baixada Fluminense).
Comissão Julgadora
Herbert Moses - Associação Brasileira de Imprensa
Alves Pinheiro - O Globo
Otto Lara Resende - Revista Manchete
Danton Jobim - Diário Carioca
Antônio Callado - Correio da Manhã"
(http://www.premioesso.com.br/site/premio_principal/index.aspx?year=1956)
MANIFESTAÇÃO POPULAR NA RUA LÍBERO BADARÓ,
SÃO PAULO, CAPITAL:
"[A PASSEATA] descendo a [RUA DO CENTRO DE SÃO PAULO-SP] Líbero Badaró "
(http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/12/367400.shtml)
"Ubiratan de Lemos
Jornalista amazonense, nasceu em Humaitá em 1925, filho do seringalista Jovino Fernandes de Lemos e de Joana Gonçalves de Lemos. Iniciou sua carreira jornalística como revisor do jornal A Tarde em 1939, era repórter voltado para matérias policiais [1], focalizado na capital amazonense. Repórter do Jornal do Commércio, de Manaus, de 1941 a 1949. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, passou a integrar o corpo de repórteres do Diário da Noite e da revista O Cruzeiro. Notabilizou-se ao ganhar o Prêmio Esso de Jornalismo, de forma inesperada, com uma reportagem que fez sobre os paus-de-arara que levavam migrantes à capital fluminense. [Fontes: FontesGrande Enciclopédia da Amazônia, de Carlos Rocque, IV volume, página 999. Arquivo Público do Estado do Pará / Arquivos pessoais da família Lemos".
"MORRE UM LIBERAL, MAS NÃO MORRE A LIBERDADE!"
(LÍBERO BADARÓ, máxima pronunciada antes de sua morte)
"20.11.1830 - Atentado contra Líbero Badaró
João Batista Líbero Badaró, italiano de nascimento, médico e jornalista, apaixona-se, ao chegar ao Brasil, pelas idéias de liberdade e democracia e pela luta para que o recém-criado Império do Brasil se tornasse realmente nacional. Durante o conturbado reinado de Pedro I, disputam o controle político do país os partidos Português (apoiado pelo imperador) e Brasileiro. Badaró engaja-se a favor deste último, fundando em São Paulo com outros companheiros o jornal Observatório Constitucional. Na noite de 20 de novembro de 1831, ao sair da residência de um amigo, Badaró é abordado por dois desconhecidos com o rosto coberto, que o alvejam com tiros de pistola. Levado para casa e cercado por amigos e companheiros de luta, recusa-se a ser operado, pois, como médico, percebe que seu ferimento é mortal. Antes de dar o último suspiro, ainda encontra forças para levantar-se parcialmente e declarar: 'Morre um liberal, mas não morre a liberdade!' "
(http://www.constelar.com.br/revista/edicao20/transitos5.htm)
LIBERO BADARÒ
OCASIÃO DE HOMENAGEM À HISTÓRIA DE VIDA E À OBRA DO JORNALISTA E
REPÓRTER FOTOGRÁFICO MÁRIO DE MORAES, À MEMÓRIA DO DOUTOR
GIOVANNI BATTISTA LIBERO BADARÒ,
MÉDICO, ZOÓLOGO, BOTÂNICO, PROFESSOR DE MATEMÁTICA,
EDITOR JORNALÍSTICO E REDATOR, e para os irmãos-jornalistas
UBIRATAN DE LEMOS (vencedor, com Mário de Moraes,
do PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO [1956]) E
JOVINO LEMOS (que foi prefeito do Município do Ayapuá-AM [*]), amigos,
em memória
[*] - Crônica, publicada nos anos 1980, no jornal A Crítica (Manaus-AM), do Dr. Ulysses Bittencourt (1916 - 1993, amigo de infância dos jornalistas Ubiratan e Jovino) - membro do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) sobre Jovino Lemos será neste mesmo espaço de controvérsias light e não-fundamentalistas discussões culturais será brevemente transcrita. F. A. L. B.
16.4.2011 - Izabela Vasconcelos deixa-nos informados a respeito de um quadro preocupante - No Brasil, em apenas 4 meses, 240 jornalistas foram demitidos de redações. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
INFORMA IZABELA VASCONCELOS EM
COMUNIQUE-SE - O PORTAL DA COMUNICAÇÃO /
"1º CADERNO":
"Em 4 meses, 240 jornalistas são demitidos das redações brasileiras |
Desde o começo do ano [de 2011], as redações brasileiras vêm demitindo jornalistas. Nos últimos quatro meses, foram 240 demissões, em São Paulo, Brasília e Sergipe. No entanto, a capital paulista registrou um número maior de dispensas, 218, em veículos como UOL, Estadão, TV Cultura, Abril, Meia Hora SP, Agora SP e Folha de S.Paulo. |
"Entrevista - Mário de Moraes | ||||||
As aventuras de um eterno repórter
Carioca de Vila Isabel, nascido em 15 de julho de 1925, Mário de Moraes contabiliza vários grandes feitos em sua carreira de repórter e fotógrafo, entre eles a única entrevista concedida pelo assassino de Trotsky e o único close de Getúlio Vargas morto. Cobriu diversas Copas do Mundo, trabalhou em veículos importantes, escreveu dez livros — o primeiro foi uma coletânea, “Luz de vela” — e até hoje atua como freelancer — escrevendo para vários jornais, como o Terceiro Tempo, do Rio, e alguns outros espalhados pelo País —, depois de ganhar o primeiro Prêmio Esso de Reportagem outorgado no Brasil, em 1955, e receber outro mais tarde, pela criação da Revista de Comunicação. ABI Online — Conte a história da sua primeira publicação. Mário de Moraes — Criei uma revista humorística chamada O Coringa, mas só durou cinco números, porque não tinha propaganda. Então, em 1950, fui para O Cruzeiro e deslanchei na carreira, porque a revista era, na época, o maior veículo de comunicação brasileiro. Para se ter uma idéia, na morte de Getúlio Vargas, chegou a vender quase 800 mil exemplares, quando no Rio de Janeiro havia 50 milhões de habitantes. Hoje, comparativamente, nem a Veja alcança essa tiragem. ABI Online — O que o senhor fazia? Mário — De tudo! Era uma espécie de repórter da Geral, se aquilo fosse um jornal. Fiz também muito Esporte, porque adoro futebol. Cobri todas as Copas de 50 a 66 e as Olimpíadas de Tóquio, em 1964. Mas minhas grandes matérias foram internacionais. Fui o único repórter do mundo a entrevistar o Jacques Monard, assassino de Trotsky. ABI Online — Como aconteceu? Mário — Tinha ido ao México, onde ele estava preso, para cobrir o Campeonato Pan-Americano de Futebol e, numa série de malandragens, consegui penetrar no presídio. Fomos apresentados sem que o Jacques Monard soubesse que eu era repórter, pois ele era violentíssimo e costumava agredir os jornalistas. Consegui cativar sua simpatia — porque sabemos que para uma entrevista a simpatia é importantíssima. Ele me falou muita coisa e, ao final, eu revelei que era repórter. Mário — Ficou bravo, mas eu contornei a situação e disse que precisava de uma fotografia, porque, senão, como comprovaria que havia estado com Jacques Monard? Ele deixou e disse que havia matado o Trotsky porque havia se desiludido com o comunismo que pregava, mas todo mundo sabe que não foi nada disso. Stálin foi o mandante do crime. ABI Online — O senhor também conseguiu uma entrevista com o Luís Carlos Prestes, quando toda a imprensa e a polícia o caçavam. Mário — Eu o entrevistei aqui no Rio. Ele estava desaparecido há muitos anos. Dizia-se até que tinha morrido. A filha dele veio de Moscou para o Brasil, mas não disse que era para encontrar o pai e sim para conhecer o País. Consegui cativá-la e a Anita Leocádia disse que me daria uma entrevista exclusiva, mas eu deveria ir escondido até onde ela estava. Então me telefonaram, desci da minha casa, no Engenho Novo, vendaram meus olhos e me botaram no banco traseiro de um carro. Mas bobearam e consegui olhar para cima e reconhecer as palmeiras do Jardim Botânico. Comecei a contá-las. Quando deu um número “x”, o carro dobrou à direita. Comecei a contar de novo. Subimos numa garagem e chegamos à casa. Ficamos esperando a chegada de Prestes e eu disse à Anita que só queria fotografá-lo depois que ele a encontrasse e autorizasse — quando, na verdade, não podia esperar isso. Era uma sala imensa, cheia de colunas gregas, e eu tinha duas máquinas: uma Rolleyflex 120 e uma 35mm que não era Leika ainda. Fiquei escondido atrás de uma das colunas, abri a lente ao máximo e as fotos ficaram ótimas. Eu sabia que aquele encontro aconteceria. Ele ficou muito emocionado ao encontrar a filha. Depois me telefonaram, dizendo que eu os havia enganado. Mas eu não podia perder aquele momento. ABI Online — Houve algum problema? Mário — Não, nenhum. Mas avisei que na manhã seguinte retornaria à casa. Eles duvidaram, mas peguei o carro do O Cruzeiro, orientei o motorista e chegamos lá. Mário — Cobri a guerra de Angola na linha de frente, vendo gente morrer ao meu lado. Pouca gente sabe que a revista O Cruzeiro tinha duas edições, uma em português e uma em espanhol, para toda a América Latina — e que, na minha opinião, era a melhor. Consegui me encaixar como repórter dessa edição espanhola. O chefe de reportagem tinha me mandado para a América Central para produzir uma série de matérias. Ele me dava uma semana para ficar em cada país e enviar, no mínimo, três boas histórias de cada um. Quando estava na Costa Rica, recebi um telegrama do O Cruzeiro, com três palavras: “Siga Angola, Amádio” — este era o nome do chefe de redação. Eu nem sabia de guerra, nem nada. Fui à Embaixada do Brasil na Costa Rica e me informaram que estava havendo uma guerra violenta no Norte de Angola. Mandei um telegrama de volta ao Brasil, pedindo que enviassem dólares para o Hotel Presidente, em Portugal, onde costumava me hospedar. A revista naquela época tinha um dinheirão. Nós ganhávamos três vezes mais que qualquer repórter de jornal. No entanto, quando o dinheiro chegou, o governo português havia proibido os jornalistas de irem para Angola, em função do assassinato de um repórter francês por terroristas que teve grande repercussão. ABI Online — E no que deu? Mário — Fui lá, enchi a paciência do Ministro das Relações Exteriores e ele acabou me despachando para a capital de Angola, que me surpreendeu por ser uma cidade bonita demais — e também porque em Luanda não acontecia nada, o conflito era todo no Norte. Aí surgiu outro problema: nenhum repórter podia ir para a guerra. Fui preso, depois me vigiavam o tempo todo, até que eu soube que estavam chegando aviões trazendo os feridos e fui para o aeroporto, alegando que ia fotografá-los. Quando um avião chegou e o piloto foi ao bar tomar uma cerveja, me apresentei como um repórter brasileiro que deveria cobrir o combate. Ele insistiu que não podia me levar e eu perguntei se a porta do avião estava aberta. Ele confirmou e perguntei: “E se eu entrar?”. Ele disse que não saberia de nada, o problema seria meu. Então entrei e voamos até um campo improvisado. Participei de vários combates e quase morri. Os moçambicanos tinham uma arma chamada canhangulo, feita à mão, que dava um só tiro. Os soldados se posicionavam em cima das árvores e de lá atiravam contra os portugueses, mas os que vinham logo atrás os derrubavam com uma rajada de metralhadora. Foi uma matéria difícil. ABI Online — Teve alguma outra matéria arriscada assim? Mário — Corri risco de vida em “Sangue no Paraná”, quando o então governador daquele estado, Moisés Lupion, depois de dividir em lotes uma área imensa em Capanema e vender, resolveu tomar tudo de volta e mandou seus capangas, matadores profissionais, expulsarem os camponeses que já haviam preparado a terra. Fiz uma matéria genial, mas foi uma carnificina. ABI Online — O que o senhor considera essencial para que o repórter saiba identificar o que é notícia? Mário — Eu tenho uma definição própria: é pelo cheiro, pelo tato e pelos olhos que você imagina o que a história pode dar. Sempre tive muita sorte para pegar notícias boas. Como quando o Trujillo foi assassinado e eu estava no Panamá. Consegui uma entrevista com o filho do ditador, dizendo que era para elogiá-lo. Mas eu precisava de uma foto do assassino, de quem sabia o nome, e todas haviam sido recolhidas pelos militares. Na véspera de voltar, encontrei um livro sobre a República Dominicana em que havia uma foto de uma parada militar. Pois lá estava num palanque o tal general que havia sido mandante do assassinato. Arranquei a página e guardei no meio das minhas roupas. Foi um furo de reportagem. Mário — O Ubiratan de Lemos era um repórter espetacular com quem eu ainda não tinha trabalhado. Bolei a matéria “Os paus-de-arara constróem o Rio”, numa época de um desenvolvimento imobiliário monstruoso na cidade em que quase 100% do pessoal que trabalhava nas construções era nordestino. Combinamos que eu fotografaria e ele escreveria. Quando um dos trabalhadores me disse que minhas fotos não iam mostrar nada perto do que era a viagem num pau-de-arara, apresentamos a idéia no O Cruzeiro. Saímos daqui disfarçados, num caminhão, e, após 11 dias de uma viagem em que vimos muitos desastres e tragédias, chegamos a Campina Grande, onde o Ubiratan encontrou um locutor que era seu amigo. O bestalhão contou para ele o que estávamos fazendo e o cara anunciou na rádio a nossa presença. Resultado: os agenciadores de pau-de-arara contrataram matadores para acabar com a gente, antes que denunciássemos aquele comércio. Tivemos que fugir para Salgueiro, em Pernambuco, acompanhando um caixeiro-viajante. Para completar, peguei tifo na viagem. O Ubiratan inscreveu nossa reportagem no Prêmio Esso sem eu saber de nada. Foi um júri fabuloso, que tinha, entre outros, Herbert Moses, Antônio Callado e Otto Lara Resende. Concorreram 200 matérias e fomos os vencedores. Estava no barbeiro, em Vila Isabel, quando peguei O Jornal e vi na primeira página que dois repórteres do Cruzeiro tinham ganhado o Prêmio Esso. Quando vi nossos nomes, desmaiei. Fui levado para casa, onde já estavam o Ubiratan e uma equipe da revista. Foi uma grande festa. ABI Online — O segundo Prêmio Esso veio quando? Mário — Em 1986, quando criei a Revista de Comunicação, voltada para os alunos dessa área, com o Alfredo Belmont Pessôa. Ganhamos o prêmio de Melhor Contribuição à Imprensa. ABI Online — Mas a revista, mesmo premiada, parou de circular. Mário — Por estupidez. Era uma revista que tinha um prestígio muito grande, mas o patrocinador não quis mais bancar. Os maiores e melhores jornalistas escreveram para ela e, quando completou 15 anos, não tivemos mais patrocínio. ABI Online — O senhor também teve passagens pela TV e rádio. Quais foram seus maiores trabalhos nesses veículos? Mário — Fui assistente do Maurício Shermann, chefe de núcleo da Rede Globo, mas trabalhei mais tempo na TV Tupi, como produtor de programas, estando nas revistas O Cruzeiro e A Cigarra ao mesmo tempo. Eu me virava de todo jeito. Fui chefe de reportagem da TV Sílvio Santos aqui no Rio, trabalhei na Record, escrevi histórias teatralizadas para o “Fantástico” e para o programa policial “45ª DP”, da Rádio Tupi... ABI Online — Os salários não eram suficientes para o seu sustento ou o senhor era um workaholic? Mário — Até hoje eu sou pé-de-boi, nunca perdi uma reportagem. O Cruzeiro fazia todos os anos um ranking das reportagens produzidas por cada jornalista e eu só perdi uma única vez, para o Ubiratan de Lemos. Na morte do Getúlio Vargas, fui o único repórter-fotográfico a fazer uma foto dele morto, que O Cruzeiro deu em uma página inteira. ABI Online — O senhor também já publicou vários livros, o primeiro em 1965. Mário — Pois é, “Luz de vela”. Hoje eu me arrependo do título, mas a idéia veio de um artigo que o David Nasser escreveu para o O Cruzeiro — “O cartaz de um repórter dura apenas enquanto a cera não se acaba” — justamente na época em que eu estava morrendo de tifo. No prefácio do livro, que dediquei a todos os repórteres do mundo, transcrevi: “Nada mais fugaz nem tão leve que o interesse de um leitor de notícias. Um rápido passar de olhos sobre o título e, às vezes, a graça de uma leitura apressada do tempo no texto compensa muitas, muitas, muitas vezes, dias, semanas, meses de esforços, riscos e ansiedade, toda a vigília de um repórter. Este é o seu prêmio. Um comentário, uma frase de elogio, o telefonema de um amigo. Na manhã seguinte ele troca Perón por um mestre de gafieira, e vai gastando a sua alma, as suas emoções, a sua sensibilidade, o seu fígado, a sua alegria. Vai se desidratando, vai secando o seu espírito, vai depenando a imaginação, vai cortando as asas de veludo de sua fantasia, para ser apenas um relator de fatos, um contador de histórias que acontecem. O repórter é um anatomista. A notícia é o cadáver.” ABI Online — Como o senhor vê o jornalismo hoje? Mário — Todo mundo diz que está muito bom, mas não concordo. Acho que há pouca pesquisa e está se fazendo um jornalismo apressado — e não é culpa do repórter. Hoje vou pouco às redações, mas, quando vou, vejo todo mundo isolado no computador, não há mais aquele coleguismo. Fiquei amigo de todos os meus repórteres, alguns fabulosos, como uma garotada de esquerda do jornal O Sol, que o governo mandou fechar. Contratei todos eles e deram um show no O Cruzeiro. Saíamos todos juntos e isso muitas vezes ajudava na produção de outras reportagens, porque discutíamos idéias. Além disso, o redator-chefe — ou o chefe de reportagem — conversava muito com o repórter. Hoje não se conversa mais nada e o repórter tem pouco tempo de fazer uma boa reportagem por causa do fechamento. O Globo de domingo sai aos sábados. O foca chega à redação e bate o texto de qualquer jeito — é só observar o número de desmentidos nos jornais. Vejo muitos erros também na televisão. Não se está apurando os fatos direito, por pura falta de tempo. ABI Online — Mas o senhor acha que os repórteres saem bem-preparados das universidades? Mário — Também há falhas na formação. Conheço professores de Jornalismo que nunca foram bons profissionais; alguns são até semi-analfabetos. Já fui convidado para dar aulas, mas não aceitei, porque não me considerava capaz. Quando faço palestras, eu bato um papo, pois não me julgo um palestrante. Depois abro para perguntas, porque assim é uma forma de eles me testarem. Mas, em geral, as perguntas são fracas. ABI Online — O senhor disse que O Cruzeiro tinha uma tiragem proporcionalmente maior que a Veja hoje. A que atribui isso? Mário — Nós dizíamos que, devido ao número de analfabetos que havia no País, muita gente só devia estar vendo as fotografias. Com aquela garotada do Sol, elevei a tiragem do O Cruzeiro de 300 mil para 500 mil. ABI Online — Desde o início o senhor se dedicou ao texto e à fotografia? Mário — Passei a fotografar pelo desejo de viajar; queria ir para a Europa, os Estados Unidos... Em 54, procurei o José Amádio e ele me disse que, se eu aprendesse a fotografar, não só viajaria mais como a revista economizaria, porque eu faria as duas coisas. Ele cumpriu a palavra: viajei praticamente o mundo todo. Na maior parte das minhas matérias, escrevi e fotografei. Parei de fotografar nem sei por que, pois continuo gostando dessa atividade". |
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Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos viajaram disfarçados no caminhão pau-de-arara |
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Linha de frente da guerra de Angola, durante cobertura especial para O Cruzeiro |
(http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=490)