Museu do Escritor em Dublin
Museu do Escritor em Dublin

[Maria do Rosário Pedreira]

Eu sabia que na Irlanda a literatura era boa e estimada (há um Museu do Escritor em Dublin, por exemplo, e já houve quatro irlandeses galardoados com o Prémio Nobel de Literatura: Seamus Heaney, Samuel Beckett, Bernard Shaw e o meu adorado Yeats); o que não sabia era que tinham sido os monges irlandeses a permitir que hoje se leia um texto sem qualquer dificuldade, com as palavras separadas e com sinais de pontuação. Nos manuscritos gregos e latinos, as páginas tinham um aspecto compacto porque o texto estava inscrito, regra geral, em rectângulos, com as palavras todas juntas, sem espaço entre elas nem diferença entre minúsculas e maiúsculas, ou seja, numa escrita contínua. Só as margens eram brancas, e o sentido só se ganhava na leitura em voz alta, pois era então que o leitor acrescentava a entoação (pausas, exclamações, etc.) que ajudava a compreender. Foi então que no século VII, os tais monges irlandeses (que tinham dificuldade em ler latim, a língua da liturgia) reformaram a escrita, separando as palavras e acrescentando sinais entre as orações para tornar tudo mais claro, invenções celtas que durante muito tempo só existiram nos textos anglo-saxónicos. Carlos Magno, ao fazer reformas na Educação, inventa então as capitulares e começa a usar sinais de pontuação que se parecem com notas de música. Nasce o ponto de interrogação, por exemplo, mas as palavras ainda aparecem todas juntas em blocos e colunas ou com espaços entre sílabas irregulares. Só com a chegada dos tratados científicos árabes as traduções começam a separar as palavras e, no século XII, já toda a Europa o faz, marcando ainda as pausas com um ponto. Só no século XV haverá parênteses e pontos de exclamação. Mas se não fossem os irlandeses...